quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O grande beneficiário:: Celso Ming

A Alemanha vai aparecendo como a grande beneficiária da crise do euro.

Há alguns anos, a competitividade do sistema produtivo alemão já era, de longe, a melhor do bloco. Mas as diferenças estão aumentando. A Alemanha cresce mais, tem um dos mais baixos níveis de desemprego, exporta mais e paga juros cada vez menores (veja mais detalhes na tabela).


Nesta quarta-feira, um leilão realizado pelo Tesouro da alemão, para captação de 4 bilhões de euros por cinco anos, teve interessados por quase 9 bilhões de euros em títulos. Os juros (yield) a serem pagos por esses papéis foram os mais baixos da história, de 0,90% ao ano. Nesta quarta mesmo, a Espanha teve de pagar 5,26% e a Itália, 6,97% ao ano.

Na segunda-feira, para títulos de seis meses, em vez de receber, o mercado financeiro aceitara pagar rendimentos para a Alemanha: o retorno de quem aplicou foi negativo, de menos 0,01% ao ano. Ou seja, se em vez de emprestar dinheiro para a Alemanha o aplicador guardasse seu dinheiro no forro do colchão, no vencimento dos títulos teria mais euros do que terá com o pagamento do Tesouro da Alemanha.

São novidades assim que espantaram os técnicos da Agência de Financiamento da Alemanha, conforme relata Der Spiegel, uma das mais importantes publicações da Europa.

Os juros muito baixos e até mesmo negativos refletem a enorme abundância de recursos existente no bloco do euro e, ao mesmo tempo, o baixo nível de opções de aplicação. Emprestar dinheiro para a Alemanha ficou mais seguro do que deixá-lo depositado em conta corrente num grande banco.

E isso não é tudo. A cada vez maior disparidade entre o que paga o Tesouro alemão por sua dívida e a remuneração recebida dos países vizinhos eleva ainda mais a diferença de custos de produção dentro da Eurolândia. Os institutos de pesquisa e análise já apontam, para 2012, retração do crescimento econômico da França, Espanha, Itália, Bélgica, Grécia e Portugal. Mas a Alemanha deve avançar pelo menos 0,4%.

Até mesmo a barreira linguística, apontada como grande dificuldade para o fluxo de mão de obra dentro da Europa, está beneficiando a Alemanha. No período de 12 meses terminado em novembro, o país recebeu 435 mil imigrantes, a maioria deles, profissionais qualificados – descreve a Spiegel.

A desvalorização do euro, por sua vez, está beneficiando as exportações da Alemanha. Embora suas vendas para dentro da área do euro estejam caindo, para o resto do mundo estão crescendo. Também no período de 12 meses até novembro, as exportações aumentaram 8,3%, ultrapassando o patamar de 1 trilhão de euros.

Como já foi dito nesta Coluna na virada do ano, é pouco concluir que há um forte desequilíbrio nas contas correntes dentro da zona do euro: há muito mais fluxo de capitais para a Alemanha do que para os demais países. Mais importante é examinar a causa desse desbalanceamento: a maior competitividade da Alemanha em relação aos demais. E esse fator, por sua vez, tem a ver com a contenção dos salários e das aposentadorias, fruto de acordos tríplices entre governo, sindicatos e empresas. Agora que a moeda é comum, esses desequilíbrios entre economias não podem ser escondidos com desvalorização cambial.

Se as enormes assimetrias estão na origem da crise atual e se elas estão se aprofundando, a perspectiva é de que, sem ajustes decisivos, o colapso tenda a se agravar. Ainda nesta quarta-feira, o comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, advertiu na Rede BBC de Londres que o momento “pode ser apenas o fim do começo da crise do euro”.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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