Foi noticiado que, na corrida contra o tempo em que está agora empenhada, a presidente Dilma Rousseff estaria convencida de que chegou a hora de desentravar o crescimento da oferta de bens e serviços no País. E que, para enfrentar os múltiplos desafios envolvidos nessa tarefa, a presidente, segundo um de seus assessores, estaria determinada a, "num ato de coragem, fazer tudo de uma só vez" (Claudia Safatle, "Valor", 14/12/2012). A notícia é, ao mesmo tempo, alvissareira e preocupante.
É auspicioso que o governo tenha percebido que políticas de estímulo à demanda têm alcance limitado. E que um programa de crescimento econômico coerente tem de estar baseado na expansão sustentada da oferta. É especialmente promissor que o Planalto se declare disposto a lidar com a longa lista de entraves à expansão da oferta, que só o governo tem condições de remover. O que preocupa é que, na tentativa de recuperar o tempo perdido no avanço dessa agenda tão vasta, o governo se proponha, mais uma vez, a abrir um número excessivo de frentes, descuidando da sobrecarga que será imposta à sua limitada capacidade de gestão.
As infindáveis idas e vindas do governo na questão da privatização dos aeroportos bem ilustram as dificuldades que poderão estar envolvidas no enfrentamento simultâneo de um amplo leque de problemas. Chama a atenção a forma centralizada com que a questão vem sendo tratada, com envolvimento direto da presidente, a cada passo. A cada ida e a cada vinda. E como é pouco provável que, a esta altura, esse padrão tão centralizado de gestão seja abandonado, a conclusão inescapável é que, na delimitação do conjunto de questões econômicas que o governo poderá equacionar de forma minimamente satisfatória em 2013, é fundamental ter em conta a possibilidade de sobrecarga da presidente.
É bom lembrar que a agenda política do Planalto pode ficar especialmente sobrecarregada no ano que vem. Em face do crescendo de notícias desfavoráveis envolvendo o ex-presidente Lula, na esteira do Mensalão e da Operação Porto Seguro, Dilma Rousseff decidiu abandonar a postura de não envolvimento do governo em questões desse tipo e partir para a defesa aberta do seu antecessor, mobilizando para isso seus ministros e todo o peso do seu cargo.
Cruzar esse Rubicão, para o que der e vier, não lhe terá sido fácil. E é até possível que, em face das pressões a que terá sido submetida, a decisão se tenha tornado inevitável. Mas o que aqui importa é tão-somente que o engajamento da presidente nesse embate poderá tornar a agenda política do Planalto excepcionalmente pesada nos próximos meses. Como advertiu o ministro Gilberto Carvalho, em vídeo distribuído a correligionários do PT, 2013 está fadado a ser um "ano brabo" em que o "bicho vai pegar". Tendo decidido entrar com tudo nesse turbilhão, a presidente poderá ter de dedicar parte substancial de seu precioso tempo à contenção dos danos que poderão advir dessa decisão. É mais um fator a contribuir para a sobrecarga do Planalto.
E ainda falta ter em mente o imponderável. Ou nem tanto. Saltam aos olhos as condições cada vez mais precárias sob as quais vem sendo atendida a demanda de energia elétrica no País. Os reservatórios do núcleo do sistema hidrelétrico estão com o nível mais baixo dos últimos 12 anos. Mas essa precariedade não impediu que, justo agora, o Planalto considerasse oportuno reduzir as tarifas de energia elétrica em 20%.
É bem verdade que o governo professa crença quase religiosa na insensibilidade da demanda de energia a seu preço. E tão forte é essa sua convicção que, antes mesmo de a redução de tarifas ter sido efetivada, o Planalto deflagrou intensa campanha publicitária no horário nobre de televisão, para que nenhum consumidor deixasse de perceber a real extensão da redução envolvida. Tomara que não, mas, se São Pedro se revelar pouco generoso com as chuvas de verão, é bem possível que a presidente se veja, em 2013, sobrecarregada também pela difícil gestão de um quadro grave de escassez de energia.
Rogério Furquim Werneck, economista e professor da PUC-Rio
Fonte: O Globo
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