Eleição de Calheiros segue o padrão da política dos últimos 25 anos. A presidente é que muda
Renan Calheiros aboletou-se de novo na Presidência do Senado. Substituiu José Sarney. Faz diferença?
Sarney manda no Maranhão, Estado dos mais miseráveis e primitivos, terra que infelicita sem parar faz 46 anos. Calheiros é um agregado mais recente de quem manda noutro dos Estados mais miseráveis e primitivos do país, Alagoas, faz pelo menos uns 80 anos.
Ambos enriqueceram quando na política. Não são oligarcas patrícios ou de alguma linhagem, gente que na verdade desapareceu como casta política lá por volta dos anos 1970 na maioria do país.
Sarney e Calheiros, por assim dizer, vieram de baixo.
Calheiros, principalmente, tem uma carreira muito semelhante à de tantas figuras de escol do PMDB, gente da pequena classe média, ou ainda menos que isso, que ascendeu com as vitórias do PMDB nos anos 1980. Ironia da história, subiram na vida "combatendo a ditadura" e/ou as elites carcomidas de seus Estados. São, por assim dizer, "homens novos", plebeus enriquecidos.
Fizeram a carreira da política como empreendimento gente como Orestes Quércia (SP), Iris Rezende (GO), Jader Barbalho (PA), Geddel Lima (BA), para citar uns poucos, quase todos ex-governadores.
Pode-se dizer, de modo apenas um pouco sarcástico, que a democratização permitiu a ascensão de novas elites, dos "homens novos" do PMDB aos mensaleiros e similares no PT e agregados.
Em particular nos Estados do centro-norte, tais figuras, seus sucessores e agregados se tornam os grandes agenciadores do favor, de prebendas do Estado, de negociações de subsídios para o empresário local e patronos de novos carreiristas. Tais lideranças definiram o padrão de negociação e negócios entre Executivo e Congresso pelo menos desde a Constituição de 1988.
Calheiros. Adepto de Collor. Amigo de usineiro enrolado. Fugido do Senado em 2007 por rolos. Indicado por Barbalho para suceder Rezende como ministro da Justiça no governo FHC. O ministério só não chegou tão baixo nos dias da ditadura militar, quando esteve sob advogados fascistas que ensinavam na USP, ou na ditadura Vargas.
Sarney e Calheiros estão associados a um dos momentos mais baixos do governo brasileiro -a Presidência hiperinflacionária e caótica, para ficar na crítica mais amena, de Sarney, e o governo Collor, que dispensa comentários.
Quase nada vai mudar no Senado de Calheiros. O que muda, para pior, é o governo Dilma Rousseff, que desce um pouco mais, dada a sua tolerância compromissada com a candidatura do PMDB, mais uma das tolerâncias da presidente.
Dilma Rousseff tolerou sem mais a gente que Lula colocou no ministério dela, e em tantos outros cargos públicos.
Enrolados, os ministros lulo-dilmianos caíram em série, o que ajudou a tornar ainda mais ridículo o investimento federal, aliás um dos motivos do pibinho dilmiano.
Dilma Rousseff não move uma palha para reformar o Estado. A presidente-gerente aceita um sistema de 20 mil nomeações para o que deveria ser a elite do serviço público, muita vez nomeação bandida.
Calheiros, enfim, não muda grande grande coisa. Está onde sempre esteve. Dilma é que vai mudando.
Fonte: Folha de S. Paulo
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