Com discursos desafinados e à procura de projeto forte, partidos contrários ao PT ingressam em 2013 ainda sem candidato
Letárgica na primeira metade do governo Dilma Rousseff, a oposição tenta despertar. Sem rosto, discurso e carente de articulação, sabe que precisa se encontrar para impedir que o PT confirme o quarto mandato consecutivo no Palácio do Planalto.
Principal vertente de resistência, o PSDB reconhece as dificuldades criadas pela falta de sintonia. A oposição tradicional, formada ao lado de DEM e PPS, não consegue minar a popularidade de Dilma, apesar do fraco desempenho da economia e do protagonismo do julgamento do mensalão, que condenou petistas ilustres, na agenda nacional. Isoladas pela ampla base aliada no Congresso, as siglas também patinam para impor derrotas políticas ao governo.
– Em dois anos, nossas principais dificuldades no parlamento, Código Florestal e royalties, não foram obra da oposição, foram discussões mais amplas, como o atrito entre ambientalistas e ruralistas – avalia um integrante do alto escalão petista.
Na abertura do terceiro ano do governo Dilma, o cenário parece não ter mudado. A tentativa fracassada de impor um nome alternativo à candidatura do governista Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado é um exemplo. Sem um candidato, só referendou o apoio a Pedro Taques (PDT-MT) na quinta-feira, véspera da votação que reconduziu Renan ao cargo.
Discurso é pautado pela imprensa, diz analista
Parlamentares creditam os insucessos à falta de um líder que catalise as forças contrárias ao governo. Presidente tucano, o deputado Sérgio Guerra (PE) define 2013 como ano decisivo para que os partidos definam um presidenciável e afinem suas prioridades.
– Hoje a oposição peca por não ter um discurso nacional. Cada partido tem sua própria agenda – critica.
Resolver a lacuna da liderança é apenas parte dos problemas, avalia Pedro Fassoni Arruda, professor do departamento de Ciência Política da PUC-SP. Além de um contraponto ao PT, a oposição precisa trazer suas bandeiras para o debate nacional, saindo das asas da imprensa e do Ministério Público.
– Hoje temos uma oposição sem discurso e pautada pela imprensa. Se a gasolina sobe e os jornais batem, a oposição bate na carona – critica.
Os destaques
- Aécio Neves (PSDB-MG) – O senador e ex-governador de Minas é a principal aposta dos tucanos para tentar barrar o ciclo do PT no governo federal.
- Marina Silva (sem partido-AC) – Sensação da eleição presidencial em 2010, quando teve 20% dos votos, a ex-senadora encabeça movimento pela criação de novo partido.
- ACM Neto (DEM-BA) – Tornou-se a principal liderança de sua sigla após vencer a disputa pelo comando de Salvador em 2012.
- Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) – senador em primeiro mandato, ganhou destaque durante a CPI do Cachoeira, no ano passado.
- Roberto Freire (PPS-SP) – Deputado federal por seis mandatos e senador entre 1995 e 2002, é o comandante nacional do partido que critica o PT pelas alianças com "as velhas ideias".
Partidos carecem de nomes fortes
Nome mais cotado para ocupar a lacuna de líderes da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB) deixa a toca aos poucos, usando da mineirice que o mantém afastado de bolas divididas, evitando se indispor com siglas de envergadura, a exemplo do PMDB.
Presidente do DEM, o senador Agripino Maia (RN) é contrário a pressa na escolha do oponente de Dilma, justamente de olho em aliados insatisfeitos no governo. Ele considera fundamental "oxigenar" a tradicional aliança PSDB-PPS-DEM, seduzindo siglas da base aliada, como PDT, PTB e PP.
– Não se pode sentar para discutir tendo candidato posto. Nossa articulação precisa ser mais elástica – diz.
Aliado histórico dos tucanos, o DEM ganhou sobrevida com a conquista de ACM Neto em Salvador. Por outro lado, Marina Silva tenta criar a própria sigla e o PSOL articula chapa com chances nanicas de sucesso, liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (AP).
Tal carência de nomes faz com que atuais aliados de Dilma, como o governador Eduardo Campos (PSB-PE), sejam capazes de assustar mais os petistas que os nomes da oposição.
A situação reforça uma convicção do professor Pedro Fassoni Arruda: depois do julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) goza de mais apelo junto ao eleitorado do que os partidos contrários ao PT.
Fonte: Zero Hora (RS)
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