quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Fernando Pessoa: Cancioneiro

Dá a surpresa de ser!
É alta de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ser
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

E a mão de seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ô fome, quando é que eu como?

(Cancioneiro, 10/9/l930. Fernando Pessoa)

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