- Correio Braziliense
• Pouco depois do início da operação da Polícia Federal, desembarcou em Brasília o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de uma reunião e de almoço com a presidente Dilma Rousseff
Às vésperas do recesso legislativo, a Polícia Federal realizou 53 operações de busca e apreensão em sete estados e no Distrito Federal, decorrentes da Operação Lava-Jato. Batizada de Politeia, a nova etapa de investigação é referente a seis processos instaurados no Supremo Tribunal Federal (STF), dos mais de 30 pedidos de investigação já encaminhados pelo Ministério Público Federal contra 52 políticos com mandato ou autoridades com foro privilegiado.
Casas, escritórios e empresas dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra (PSB-PE), do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) e do ex-ministro Mário Negromonte, entre outros, foram alvos dos agentes federais.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aproveitou a operação para mandar um recado aos acusados de envolvimento no escândalo da Petrobras. “Adsumus”, disse na nota que divulgou. A tradução do latim significa “aqui estamos”.
Janot vem sendo muito criticado pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também estão sob investigação do Ministério Público, em razão das delações premiadas da Operação Lava-Jato.
Candidato à reeleição, Janot sabe que dificilmente terá o nome aprovado pelos governistas do Senado, que têm a prerrogativa de homologar ou não sua recondução ao cargo por indicação da presidente Dilma Rousseff.
Além disso, ele precisa vencer uma eleição na sua própria corporação para encabeçar a lista tríplice a ser enviada à Presidência pelo Ministério Público Federal. Também concorrem ao cargo os subprocuradores Mario Bonsaglia, Carlos Frederico Santos e Raquel Dodge.
Não se pode, por isso, concluir que Janot intensifica as ações na Operação Lava-Jato para permanecer no cargo; é mais provável que o “tour de force” esteja sendo feito exatamente porque pode deixar o posto em setembro.
No Congresso, o ex-presidente Fernando Collor de Mello protestou da tribuna contra o procurador-geral e a Polícia Federal, embora os mandados de busca e apreensão tenham sido expedidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, atual presidente da Corte. Ou seja, os pedidos de Janot foram bem fundamentados.
Os agentes foram ao apartamento funcional de Collor, na quadra dos senadores, na Asa Sul do Plano Piloto, e também apreenderam três carros de luxo — uma Ferrari, uma Lamborghini e um Porsche — na Casa da Dinda, residência usada por Collor na época em que era presidente da República.
Nas redes sociais, a apreensão dos veículos foi associada ao famoso Fiat Elba que o levou à renúncia, após a campanha do impeachment. A Polícia do Senado Federal, porém, questionou a ação no apartamento funcional, e o advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, considerou o episódio uma violação das prerrogativas do Senado.
Barbas de molho
Pouco depois do início da operação da Polícia Federal, desembarcou em Brasília o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de uma reunião e de almoço com a presidente Dilma Rousseff.
Foram quatro horas de conversa, da qual participaram os ministros Jaques Wagner (Defesa), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral). O vice-presidente Michel Temer e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ficaram de fora.
O encontro estava marcado com antecedência. A Operação Lava-Jato e a crise de governabilidade faziam parte do cardápio, mas o início das ações policiais contra os políticos suspeitos surpreendeu. Ao investir contra um ex-presidente da República em pleno mandato de senador eleito, foi sinalizado que agora chegou a vez de os “donos do poder” pagarem seus pecados no escândalo da Petrobras.
Por isso mesmo, o clima ontem no Congresso era de grande tensão em relação aos desdobramentos que virão. Já não se tratam mais de ações determinadas por um juiz federal de primeira instância, como é o caso de Sérgio Moro, que trancafiou os maiores empreiteiros do país. Agora é o Supremo Tribunal Federal que está endossando as investigações e sinaliza que ninguém está acima do bem ou do mal.
O fato de as ações ocorrerem em pleno recesso do Judiciário indica que podem prosseguir no recesso do Legislativo. O resultado é que ninguém sabe dizer o que poderá ocorrer até agosto. Os políticos envolvidos no escândalo, porém, estarão muito mais desgastados perante a opinião pública e preocupados com a própria pele.
Será um bom cenário para a presidente Dilma Rousseff resistir a qualquer tentativa de impeachment da oposição. Não se pode dizer a mesma coisa, porém, em relação à corrosão da imagem do ex-presidente Lula pelo escândalo da Petrobras.
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