O país precisa de um sinal de civilidade e desprendimento neste momento de incertezas e de tantas notícias ruins.
Embora as principais lideranças do PSDB já tenham se manifestado contra, não é absurda a ideia de um encontro entre a presidente Dilma Rousseff e os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, com o propósito de desanuviar o ambiente político e construir caminhos para a superação da crise múltipla em que o país se encontra mergulhado. O Brasil precisa, mais do que nunca, neste momento grave de sua história, de homens públicos capazes de dialogar até mesmo com adversários políticos. Petistas, tucanos e militantes de outras siglas, mesmo divergindo ideologicamente, podem muito bem encontrar pontos comuns para tirar o país do atoleiro, sem que tenhamos de abrir mão da depuração ética que vem sendo feita na administração pública e nas relações de empresas privadas com o governo.
O primeiro objetivo da reunião proposta por intermediá- rios do ex-presidente Lula, mas já rejeitada por Fernando Henrique, era atenuar o ímpeto de setores oposicionistas pelo impeachment de Dilma Rousseff. O debate em torno desse tema não está restrito aos tucanos, mas Fernando Henrique Cardoso, que também foi alvo de pedidos de afastamento durante os seus dois mandatos, nunca mostrou simpatia por iniciativas que arranham a legitimidade constitucional. Tem, portanto, autoridade moral para desestimular movimentos precipitados e irresponsáveis. Ainda assim, sua negativa merece atenção: ele diz que não é hora de fazer conchavos com o governo para salvar o que não deve ser salvo.
A questão, porém, não é a reabilitação pessoal de governantes com baixa popularidade. É o país que precisa de um sinal de civilidade e desprendimento neste momento de incertezas e de tantas notícias ruins. Certamente um encontro entre tucanos e petistas não vai resolver as dificuldades econômicas do país, nem vai acabar com a corrupção, mas pode criar um ambiente favorável à busca de soluções negociadas para os impasses políticos e para a própria crise de confiança que afeta a todos.
Países democráticos costumam recorrer a soluções desse tipo em situações extremas. Um dos mais famosos entendimentos políticos que se conhecem foi o Pacto de Moncloa, firmado na Espanha na década de 70, depois de 35 anos de ditadura franquista e em meio a uma crise econômica sem precedentes. O acordo, assinado por representantes de todos os partidos políticos, sindicatos e outros setores, possibilitou o combate à crise e o processo que instituiu o moderno Estado democrático espanhol.
O Brasil ainda não passou por uma experiência desse tipo. Por que não tentar?
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