Pela primeira vez desde a redemocratização, uma legenda que está no Planalto não tem expectativa de lançar nome
Pedro Venceslau, Valmar Huspel Filho e Carla Araújo | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A pouco mais de um ano para o primeiro turno da eleição presidencial de 2018, o PMDB governa o País com as maiores bancadas do Congresso Nacional, mas assiste como coadjuvante às movimentações de aliados e adversários para a próxima campanha. É a primeira vez desde a redemocratização que a legenda que comanda o Executivo federal não tem nomes com potencial para disputar um novo mandato no Palácio do Planalto a essa altura do calendário.
Com o presidente Michel Temer - que tem 3% de aprovação popular, segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada - acusado na Lava Jato e com alguns de seus principais auxiliares e correligionários investigados ou presos, o partido deverá abrir mão de encabeçar uma chapa.
A prioridade é tentar se “reinventar” para manter o que as lideranças ainda consideram ser um patrimônio: a capilaridade política nos Estados. Se antes das denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer o partido acreditava que a melhora da economia poderia cacifar uma eventual reeleição do presidente, agora ninguém mais cogita esse cenário.
“O PMDB não deve ter candidato à Presidência da República em 2018. Temos de refletir sobre o fracasso das candidaturas de (Orestes) Quércia e Ulysses Guimarães. O partido deve apoiar um candidato da base que se comprometa com a agenda reformista”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aliado próximo de Temer.
Quando questionado sobre os cenários com os quais o PMDB trabalha para 2018, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), apresenta um leque amplo. “No nosso campo, existem vários nomes com condição (de disputar o Palácio do Planalto): Henrique Meirelles, João Doria, Geraldo Alckmin”, disse ele em recente entrevista à TV Estadão. O primeiro é filiado ao PSD e os dois últimos são do PSDB.
Um dos mais próximos conselheiros políticos de Temer, o consultor político Gaudêncio Torquato reconhece que os efeitos da Lava Jato serão sentidos em 2018. “Pode haver uma composição em torno de uma candidatura de centro. O PMDB é um partido pragmático. Pode apoiar o Meirelles, por exemplo.”
Em conversas reservadas, integrantes da cúpula peemedebista dizem que o partido poderá liderar uma chapa se conseguir levar para a legenda um dos nomes do PSDB cotados para o Planalto: o prefeito de São Paulo, João Doria, ou o senador José Serra (SP), são citados reservadamente. Ambos receberam sinais de que as portas estão abertas para o projeto nacional.
Em caráter oficial, o partido ainda insiste que tem quadros para entrar na campanha. Jucá, por exemplo, tem um nome na ponta da língua: Paulo Hartung, governador do Espírito Santo. O problema é que Hartung está conversando com outros siglas e deve deixar o PMDB.
Voo curto. Os políticos que compõem o núcleo duro do partido e do Planalto também não devem tentar voos políticos ousados em 2018. Apesar de ter a máquina partidária e federal nas mãos, dificilmente tentarão algo maior do que uma vaga na Câmara dos Deputados.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, alvo de investigações, tem dito a interlocutores que não tem pretensões de se candidatar no próximo ano. Sua expectativa é em um eventual governo do PMDB ou de algum aliado da base tentar continuar exercendo um cargo na Esplanada dos Ministérios, como já fez nos governos petistas.
Caso não haja espaço no próximo governo, Padilha tem afirmado que pretende voltar para a vida orgânica do partido.
Já o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, que foi governador do Rio, tem intensificado as agendas em seu Estado natal, dando sinais de que pode concorrer para a manutenção do foro privilegiado - ele também é alvo de investigação.
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