É preciso retomar, em bases firmes, os entendimentos entre os responsáveis operacionais pelas polícias e tropas federais, visando ao enfrentamento da violência
O menino Vítor Gabriel Matheus Leite Coelho, de 3 anos, foi alvejado por uma bala perdida, na segunda-feira, quando brincava com os irmãos na sala de sua casa, em São João de Meriti, na Baixada. Ontem, ele lutava pela vida no Hospital Geral de Nova Iguaçu, onde respirava por aparelhos. Segundo os médicos, seu estado era gravíssimo. O drama de Vítor é mais um capítulo numa história de horror que assombra a população fluminense dia após dia. Não se sabe de onde partiu o tiro que atravessou o telhado e atingiu a cabeça da criança. O que se sabe é que situações como essa são cada vez mais frequentes no Rio, que enfrenta uma crise aguda na segurança pública. Na verdade, o problema ultrapassa os limites do estado, já que os números têm mostrado que a violência se disseminou por todo o país, transformando-se numa tragédia nacional.
O fato é que o Rio não conseguirá vencer essa guerra sem um esforço conjunto que reúna, de forma permanente, todas as forças de segurança — federais, estaduais, e até municipais — no combate ao crime. Nesse aspecto, as declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre a polícia do Rio em nada contribuem para intensificar essa união. Ao contrário. Só fazem ampliar o abismo numa parceria fundamental. Entre outras frases bombásticas, Jardim disse, sem apresentar provas, que os comandantes dos batalhões da PM “são sócios do crime organizado” e que “há toda uma linha de comando que precisa ser investigada”. O comportamento do ministro apenas ajuda a “banda podre”, que passa a usar como escudo a compreensível reação indignada das corporações.
Realmente, o crime nos quartéis é um problema grave que ronda a Polícia Militar, como exemplificam dois casos recentes. Em São Gonçalo, quase cem PMs foram acusados de receber propina de traficantes para não reprimir o tráfico em mais de 40 favelas do município. No Caju, o comandante da UPP e outros policiais da mesma unidade foram presos sob suspeita de desviar drogas e armas e forjar autos de resistência. No entanto, ações da Polícia Civil e da Corregedoria da PM no desmantelamento das quadrilhas fardadas indicam a existência de policiais sérios, a maioria deles.
O avanço político do encontro do Acre, onde 23 governadores e quatro ministros, inclusive o da Justiça, se reuniram para tratar da crise da segurança, não pode ser perdido por uma incontinência verbal, logo do ministro responsável pela PF.
É conhecida a resistência de parte das polícias à ação de tropas federais no Rio. Reclama-se até de sabotagens no compartilhamento de dados de inteligência. Mas este é um grave problema que se enfrenta com ações, e não com declarações. Estas devem ficar para ser sustentadas em provas. Diante de tudo isso, resta reparar os danos para que se recomecem, em bases firmes, os entendimentos entre os responsáveis operacionais pelas polícias e tropas federais, visando ao enfrentamento de uma crise de segurança nacional, em que o estado democrático de direito está sob risco.
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