quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Rio volta a criar vagas com carteira

Após dois anos e meio de cortes, o Estado do Rio voltou a criar empregos formais. Em novembro, o saldo ficou positivo em 3.038 postos de trabalho, impulsionado pelo comércio. O desempenho do Rio, porém, vai na contramão do país, que teve fechamento de 12.292 vagas.

Rio volta a criar vagas formais

Na contramão do país, estado abre 3.038 postos em novembro, após dois anos e meio de cortes

Daiane Costa, Geralda Doca / O Globo

Depois de dois anos e meio de cortes de vagas formais, o Estado do Rio de Janeiro criou 3.038 empregos em novembro, impulsionado pelas contratações temporárias feitas pelo comércio para atender ao aumento da demanda por produtos para o Natal. Da última vez que o estado ficou com saldo positivo, em março de 2015, foram abertas 4.118 vagas. Foi o terceiro estado que mais contratou no mês, atrás de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

A performance vai na contramão do resultado geral do Brasil. Em novembro, foram fechados 12.292 postos após sete meses seguidos de alta. Apesar disso, o resultado foi melhor que o registrado no mesmo período de 2016, quando foram eliminados 116.747 empregos. Foi a primeira divulgação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho depois que a reforma trabalhista for aprovada, em 11 de novembro. Clemente Ganz Lúcio, economista do Dieese, diz que o resultado negativo do país em novembro não surpreende:

— São meses com saldo positivo e outros negativos, com abertura e fechamentos de postos de trabalho. O comércio fez suas contratações temporárias, mas os demais setores desaceleraram.

Para o economista e professor da PUC-Rio, José Márcio Camargo, ainda não é possível dizer que houve efeito da reforma no mercado de trabalho:

— Foram praticamente 15 dias. Muito pouco tempo para dizer que a reforma influenciou o Caged de novembro.

O desempenho do Rio foi obtido graças ao comércio, que registrou saldo de 9.649 postos. Em outros setores como serviços, construção civil e indústria, as demissões superaram as contratações.

Na avaliação do então ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, que entregou o cargo ontem depois da divulgação dos dados do Caged, o Rio está retomando a condição de “empregabilidade”, assim como o Rio Grande do Sul, que também enfrenta dificuldades financeiras.

Segundo Camargo, o resultado do emprego formal do Rio é positivo depois de meses seguidos de desemprego:

— Acho positivo (o desempenho do Rio), vindo de uma sequência de resultados negativos. Mas ainda não dá para ficar entusiasmado. É preciso esperar um pouco mais.
No ano e nos últimos 12 meses, o Estado do Rio segue como o local onde mais houve corte de vagas entre todas as unidades da federação. De janeiro a novembro, enquanto o país acumula saldo positivo de quase 300 mil postos, o Rio eliminou 79 mil. Em 12 meses, o estado já destruiu 120 mil vagas. Em todo o país, nesta base de comparação, foram fechados 178.528 postos de trabalho.

Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista e pesquisador da área de mercado de Trabalho da FGV-Rio, observa que a melhora no mercado do Rio é devido às contratações temporárias.

— A crise demorou a chegar no estado por causa do ciclo olímpico. Ano passado, o Rio estava em outro planeta, e a crise ajuda a piorar a situação agora. No Rio, os dados vêm ficando menos negativos a cada mês, mas será uma melhora gradual. Já a geração de vagas formais no mercado brasileiro como um todo virá mais forte no ano que vem, acompanhando a volta do crescimento da economia.

O coordenador de Estudos Econômicos do Sistema Firjan, Jonathas Goulart, observa que, em razão desses cenários econômicos distintos, o nível de confiança de empresários e consumidores do estado se mantém mais baixo do que a média geral para o país.

— A gente prevê uma leve melhora no mercado do Rio, sobretudo por causa da recuperação da economia do país. Se olharmos para os setores, serviços e comércio têm índices maiores de desemprego porque dependem mais da demanda local, do que a indústria, que vende para outros estados e países. Ela pode ser uma geradora de emprego com carteira em 2018 — observa o economista da Firjan.

O publicitário Fábio Keidel, de 31 anos, foi um dos que conseguiram trabalho com carteira assinada no Rio. Já estava fora do mercado formal há quatro anos. O aprofundamento da crise econômica fez seus clientes desaparecerem. Depois de se inscrever em diversas empresas, Fábio passou por três meses de análise de currículo, prova on-line e entrevistas até ser contratado como especialista em mídias sociais:

— A maioria das oportunidades que encontrei era para recém-formados, profissionais iniciantes e com salários mais baixos. Para a vaga que fui contratado, a remuneração era compatível com a função, mas havia pré-requisitos específicos como a exigência de curso de pós-graduação.

GOVERNO PREVÊ 1,7 MILHÃO DE VAGAS
Para os especialistas, o impacto da nova lei trabalhista no resultado negativo do Caged de novembro é pouco significativo porque não houve tempo suficiente para isso. Já em dezembro, será possível avaliar melhor o efeito das mudanças. Entre as principais inovações, a reforma cria regimes novos de contratos, como o intermitente (por hora), o teletrabalho e amplia de 24 horas para 30 horas o contrato de trabalho a tempo parcial.

Rodolfo Torelly, do site especializado Trabalho Hoje, também disse que ainda não é possível medir os efeitos da reforma no resultado do Caged.

— Ainda não é possível mensurar. É preciso esperar por mais tempo — disse Torelly, acrescentando que os efeitos foram pífios em outros países onde houve reformas semelhantes.

Nogueira minimizou o resultado negativo de novembro, a primeira retração de vagas depois de sete meses de alta. Segundo ele, o mês costuma apresentar saldo baixo de geração de emprego.

— Isso não significa uma interrupção no processo de retomada da economia — disse Nogueira.

O resultado para o país só não foi pior por causa do comércio. O único setor em que as admissões superaram as demissões foi o varejo, que criou 68.602 vagas. Segundo Nogueira, se a economia crescer 3% em 2018, o país vai gerar 1,7 milhão de empregos com carteira assinada. Num cenário mais otimista, se a alta for de 3,5%, a projeção é de criação de dois milhões de postos. Além do aquecimento da atividade econômica, o governo aposta nos efeitos positivos da reforma trabalhista.

O resultado do emprego formal deve voltar a ficar positivo em 2018, pela primeira vez desde 2014. Em 2015 e 2016, o país cortou 2,9 milhões de empregos. Segundo Barbosa Filho, devem ser fechadas 300 mil vagas este ano.
Colaborou Pollyanna Brêtas

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