Deputado diz que Marina Silva (Rede) não vai oferecer cargos em um eventual governo em troca de apoio na campanha eleitoral
Maria Lima | O Globo
BRASÍLIA
• Como avalia a pesquisa CNI/Ibope, que mostra Marina em empate técnico com o Jair Bolsonaro?
Eu credito o empate à luz própria da Marina. A campanha ainda não começou, mas Marina é uma incansável peregrina: vai a todos os lugares para onde é convidada e fala para pequenos grupos. Ela não tem orgulho, vaidade nem arrogância.
• Em 2014, ela tinha o apoio do Guilherme Leal, da Natura, da Neca Setúbal, do Itaú, do Alessandro Molon, que foi para o PSB. Houve uma debandada. Isso tem a ver com a personalidade da Marina? Ela é uma pessoa difícil?
A Marina não é nada difícil. É uma pessoa que tem um padrão de liturgia que impõe respeito nas conversas, mas é muito amistosa. Não creio que as pessoas tenham saído por causa de divergências com a Marina. Muitas saíram porque estavam prestando uma colaboração pelo Brasil e começaram a apanhar nas redes sociais. Presumo que tenha sido por isso. O que fizeram com a Neca e com o Guilherme Leal foi massacrante. Não é confortável para ninguém.
• Essa posição que se consolida nas pesquisas pode tirá-la do isolamento e atrair alianças com partidos do centro?
Não é a pesquisa que atrai alianças. No nosso caso, eu entendo que a coligação, se existir, será com base na análise de propósitos. Não haverá trocas, não haverá um governo de cooptação. Nós queremos criar, efetivamente, uma administração republicana. E isso não é uma frase de efeito pura e simplesmente. Sempre existe muita cooptação, jogos subterrâneos, e nós estamos distantes disso. Agora, conversar, pode-se conversar sempre. Sempre se poderá ter um espaço aberto para verificar a identidade de propósitos, objetivos determinados, tudo feito publicamente.
• Mas esse isolamento não inviabiliza a candidatura?
O que posso te dizer é que estamos trabalhando com a hipótese de não coligar. Se vier, será em torno de objetivos e propósitos. Não de negociações de cargos no governo. Para integrar o governo da Marina, será fundamental ser competente e ter a ficha limpa.
• Como governar sem uma base consistente?
Não há Congresso que mande no governo e não há governo que mande no Congresso Nacional
• Mas quando os líderes com mais força não são atendidos, dão um jeito de minar o governo...
A integridade do presidente já impede isso, porque eleva o nível da conversa. Se você tem um presidente que não merece respeito, o Congresso identifica essa fraqueza e toma o poder na mão, que é o que vem acontecendo. O exemplo é Itamar Franco. Se tem um presidente íntegro, a relação com o Congresso é boa.
• Caso ela seja eleita, o PT vai participar do governo?
A Marina diz que governará com os melhores de cada partido. O fato de ser vinculado ou filiado a um partido político não excluirá a pessoa. Mas também se constituirá um Ministério com especialistas sem qualquer vinculação partidária. O que não se pode é considerar a filiação partidária um obstáculo intransponível ao aproveitamento de uma pessoa de alta qualidade.
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