Novos números do PIB não trazem alento; avanço mais vigoroso dependerá do desfecho nas urnas
Apesar da paralisação dos caminhoneiros, que derrubou a produção e o consumo em maio, a economia brasileira mostrou algum crescimento no segundo trimestre.
A boa notícia é que foram desmentidos os prognósticos mais sombrios de uma recaída recessiva. Por outro lado, o parco avanço —apenas 0,2% entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores— confirma que o país ainda não superou os obstáculos a uma retomada mais vigorosa.
A frustração já começara com os dados do primeiro trimestre. Esvaiu-se rapidamente o otimismo do início do ano, quando a maioria dos analistas acreditava que a alta do Produto Interno Bruto poderia se aproximar dos 3%.
O movimento paredista de maio basicamente acentuou o mal-estar, e hoje as projeções para o resultado de 2018 rondam 1,5%.
O viés de baixa permanece após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, que mostraram estagnação do consumo e uma nova retração, de 1,8%, nos investimentos, interrompendo uma trajetória de alta de quatro trimestres.
Não se trata apenas do efeito da paralisação, portanto. Crédito escasso e caro, excesso de endividamento de famílias e empresas, incertezas das mais variadas, domésticas e internacionais, se combinam e limitam as chances de recuperação a curto prazo.
Com a proximidade das eleições, aliás, a tendência é que a letargia perdure ao menos até o fim do terceiro trimestre. Nas últimas semanas, juros e dólar voltaram a disparar no mercado, com o temor de que a polarização política prevaleça e resulte na vitória de plataformas econômicas pouco confiáveis.
O ambiente internacional se tornou mais inóspito. O custo do dinheiro em moeda forte ficou mais elevado em razão da força da economia americana. Países com alto endividamento externo, como Argentina e Turquia, têm sido alvo de fuga de capitais.
Embora a situação brasileira seja muito melhor nesse quesito, observa-se certa contaminação do real, acentuada pelo estado trágico das finanças públicas. Nada disso facilita a retomada da confiança de empresários e consumidores.
Há o lado positivo, porém. O país ainda se encontra no fundo do poço, com elevada capacidade ociosa e ausência de pressão inflacionária. Uma recuperação cíclica robusta se afigura plausível caso a perspectiva de reformas se consolide após as eleições.
A indicação de que não haverá descontrole no caixa do Tesouro Nacional pode derrubar os juros de longo prazo e destravar investimentos. Sem aceleração do crescimento, dificilmente o próximo governo dará conta dos enormes desafios nacionais —porém é ilusório imaginar mais uma vez que ela virá à base de mero voluntarismo.
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