- O Estado de S.Paulo
Time da Economia agrada aos mercados, mas articulação política preocupa
O núcleo duro da Economia de Bolsonaro está praticamente pronto. O superministro Paulo Guedes, confirmado lá atrás, quando a vitória de Bolsonaro ainda era só uma possibilidade, anunciou nos últimos dias os nomes de ocupantes de cargos considerados cruciais para carimbar a marca da equipe econômica: Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda de Dilma e diretor financeiro do Banco Mundial, para o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Roberto Campos Neto, diretor de Tesouraria do Santander, para a presidência do Banco Central (BC), e Mansueto de Almeida, que será mantido na Secretaria do Tesouro Nacional.
Levy é visto como o mentor do ajuste fiscal que enfrentou resistências na gestão Dilma e Mansueto, como um competente especialista em finanças públicas. No caso do BC, embora o sonho de consumo dos mercados fosse a continuidade do próprio Ilan Goldfajn, o novo presidente é tido como um técnico experiente, de DNA liberal – agora, a expectativa é em relação à composição da diretoria.
Ainda falta definir os nomes para alguns postos importantes do segundo escalão. Já dá para falar, porém, que o time econômico de Bolsonaro contribui para tranquilizar os mercados quanto ao cumprimento das promessas de uma política econômica liberal – compromisso do futuro presidente, ele mesmo visto com desconfiança no momento em que incorporou Guedes à campanha, por seu passado de ideias nacionalistas e intervencionistas.
O bom humor dos mercados e dos setores produtivos com a equipe de Bolsonaro coincide ainda com sinais de alívio na atividade econômica, neste finalzinho de mandato de Temer. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), por exemplo, fechou o terceiro trimestre com uma surpreendente alta de 1,74% sobre os três meses anteriores, ainda que de agosto para setembro, isoladamente, tenha ocorrido uma baixa de 0,9%. Embalados pelas perspectivas de um certo “apaziguamento” do quadro político/econômico com a troca de governo, analistas mais otimistas já começam a rever suas estimativas para o ano que vem, de um crescimento de cerca de 2,5% para algo em torno de 3,5%. De toda maneira, bem acima do resultado esperado para este ano, próximo de 1,5%.
Mas, para que esse bom humor persista e amplie seu alcance fora do circuito financeiro, Bolsonaro terá de acertar o passo em pelo menos duas frentes. A primeira, sem sombra de dúvida, é a rápida calibragem do foco da política econômica. Claro que os problemas são múltiplos, especialmente na área fiscal, mas as sucessivas declarações, tanto de Bolsonaro como de Paulo Guedes, têm passado a impressão de que a equipe econômica enfileira várias prioridades, sem definir as “reais” prioridades para o início dos trabalhos e as formas de enfrentá-las: Previdência com ou sem capitalização, aperto ou não nas aposentadorias dos servidores, imposto único tipo IVA ou CPMF, e assim por diante.
Além disso, para que a opção pelo liberalismo vá além da retórica e funcione para valer, será preciso conciliar a política econômica do latifúndio de Guedes com a atuação de outras áreas do governo. E, nesse sentido, é preocupante a indicação do diplomata Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores, que sacudiu a comunidade do Itamaraty com seu “trumpismo” exacerbado e a sua visão “religiosa” das relações internacionais, que poderá esbarrar no pragmatismo do comércio exterior.
O desafio seguinte será garantir uma articulação política eficiente com o Congresso para garantir o encaminhamento de seus projetos prioritários. Desafio que faz crescer a tarefa do futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que nos últimos dias tem se envolvido em polêmicas desnecessárias – aliás, como o próprio presidente eleito – a exemplo das provocações à Noruega sobre a preservação da Amazônia.
Com um Congresso povoado de novatos, um time inexperiente e uma opção preferencial por negociação com bancadas, em vez de partidos, tudo indica que o governo Bolsonaro será posto à prova logo de saída, especialmente, na tramitação das reformas e de outras medidas de ajuste fiscal. O episódio do reajuste salarial para os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), que criou constrangimentos para o próprio Temer, foi só um alerta.
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