- Folha de S. Paulo
Presidente parece investir seu capital político em seu público mais radical
Bolsonaro continua com o quepe de capitão. Fala para sua pequena tropa. No Exército, os capitães comandam companhias —entre 60 e 250 militares subalternos. Se progridem na carreira, passam a liderar mais gente. Dia desses, o presidente comemorou com um sinal de OK no Twitter a chegada a 3,4 milhões de seguidores.
No universo das celebridades digitais, esse estoque pode render almoço grátis em churrascaria ou ingresso para show sertanejo. Na política, no mundo real, os efeitos dessa popularidade são duvidosos. Dilma tem 6,1 milhões de seguidores e, fora uma ou outra curtida, vive no ostracismo.
Bolsonaro teve quase 58 milhões de votos, pessoas de carne e osso que enxergaram nele uma alternativa ao status quo anterior, mas ainda se comporta como líder de uma pequena companhia de quartel. Quando usa sua rede social, fala para um grupo muito restrito. Às vezes, pior: faz eco à desordem e ao sectarismo.
Nesta segunda-feira (11), Olavo de Carvalho, o ideólogo do clã Bolsonaro, a quem se atribuem várias nomeações para o governo, escreveu em sua conta pessoal no Twitter (seguida pelo presidente) linhas que são um clássico latino-americano: "Se o povo não sair às ruas para defender o seu voto, o resultado das eleições será facilmente invertido pela elite". Chamar o povo diante do primeiro revés político é coisa que está na página 1 do livro dos autocratas.
Olavo estava irritado com a demissão de seus seguidores do Ministério da Educação e com a tentativa dos generais do Planalto em moderar o comportamento presidencial nas redes sociais.
O presidente parece investir seu capital político em bitcoins —as moedas virtuais que deixam muita gente com a sensação de riqueza e poder, mas que ninguém aceita no comércio.
Se continuar a falar apenas para seu público mais radical, os haters habituais, a poupança de popularidade do presidente será inútil como hoje são as bitcoins.
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