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A palavra do presidente – Editorial | O Estado de S. Paulo
Palavras de Jair Bolsonaro mais espantam e desorientam do que inspiram. Revelam ciclotimia que desgasta o estoque de confiança que os brasileiros nele depositaram
A palavra do presidente da República é forte no Brasil. Por duas vezes, em 1963 e 1993, os brasileiros afirmaram sua preferência pelo regime presidencialista nas urnas. Foi uma opção consciente por um tipo de líder claramente identificável como o fiel depositário dos anseios da sociedade, responsável último, no olhar do cidadão, por dar soluções para os graves problemas que afligem a Nação, como a pobreza e a desigualdade.
Pode-se discutir, é evidente, se a escolha pelo presidencialismo, e não pelo parlamentarismo, foi ou não a mais sábia. Fato é que, por razões históricas e culturais que marcaram a construção de nossa identidade nacional, o que o presidente diz e escreve nesta porção do mundo tem um peso como em poucos outros países. Isso é um patrimônio do chefe do Poder Executivo.
Por suas ações erráticas e por vezes irascíveis, o presidente Jair Bolsonaro tem comprometido esse patrimônio. Suas palavras mais espantam e desorientam do que inspiram. Revelam uma ciclotimia que desgasta o estoque de confiança que os brasileiros nele depositaram na eleição de 2018.
Nos últimos dias, a atenção do País tem se concentrado, mais uma vez, nas esquisitices do presidente. Em entrevista exclusiva ao Estado, o presidente admitiu ter sido uma “injustiça” a publicação de um tosco vídeo em sua conta no Twitter em que ele é associado a um leão solitário sob ataque de uma alcateia de hienas, estas representando o Supremo Tribunal Federal (STF), os partidos políticos, a imprensa, a Organização das Nações Unidas (ONU), em suma, instituições que são caras a países democráticos. Aos olhos do presidente Jair Bolsonaro, no entanto, essas instituições são os obstáculos que o impedem de guiar o País a bom porto. “Me desculpo publicamente ao STF, a quem porventura ficou ofendido. Foi uma injustiça. Erramos e haverá retratação”, disse o presidente.
O ataque tolo às instituições democráticas – enquanto o País clama pelo atendimento de demandas urgentes – foi o penúltimo episódio envolvendo o presidente, seus filhos e as redes sociais. Por certo, haverá outros.
O presidente disse o óbvio ao Estado: ele, e não seus filhos ou quem quer que seja, é o único responsável pelo que sai publicado em seu nome nas redes sociais. Isso nem sequer precisaria ser dito. Mas ao mesmo tempo que assume uma responsabilidade que, de fato, é só sua, o presidente Jair Bolsonaro confessa-se irresponsável ao permitir que terceiros pouco qualificados tenham acesso aos seus canais de comunicação com a sociedade e, em última análise, destruam a dignidade da Presidência da República com as barbaridades que, dia sim, outro também, saem publicadas nas suas redes sociais.
Ao fim e ao cabo, o que se vê é a desconstrução paulatina da palavra do presidente. Pouco a pouco, as ofensas proferidas não terão qualquer impacto. E tampouco suas desculpas.
O presidente Jair Bolsonaro deveria estar ocupado em transmitir aos brasileiros os resultados concretos das viagens recém-concluídas a países da Ásia e do Oriente Médio. E, desse ponto de vista, ele tinha assuntos muito mais sérios a tratar do que a reles exploração de teorias conspirativas. Por exemplo, foi digna de nota a postura pragmática do presidente na China, principal cliente de nossas exportações. Um positivo contraste com as diatribes ideológicas vistas na campanha eleitoral e nos primeiros meses de governo. Igualmente pragmático foi o anúncio de investimentos, no Brasil, da ordem de US$ 10 bilhões feito pelo governo da Arábia Saudita, país conhecido tanto pela riqueza como pela dureza de seu regime. “Estou em viagem representando o Brasil. Não pretendo entrar em discussão sobre o que acontece lá dentro (na Arábia Saudita)”, disse Jair Bolsonaro ao Estado.
Não há um Jair Bolsonaro das redes sociais, um pai para seus filhos e um chefe de Estado e de governo. Aos olhos dos brasileiros, tenham votado ou não nele, há apenas o presidente da República, guardião da respeitabilidade e da honra nacionais. Já passou da hora de Jair Bolsonaro mostrar que, se não estava talhado para o cargo antes da eleição, é capaz de aprender a exercê-lo.
É preciso avançar – Editorial | Folha de S. Paulo
País aguarda respostas sobre caso Fabrício Queiroz e a morte de Marielle Franco
Um novo conjunto de informações que veio à luz nos últimos dias deixa em situação incômoda o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e outros membros de sua família.
Os áudios que esta Folha e outros veículos divulgaram, nos quais Fabrício Queiroz conversa com um interlocutor desconhecido, e desdobramentos acerca da investigação do assassinato de Marielle Franco, levantam dúvidas e questionamentos que demandam respostas.
Queiroz, policial militar aposentado, foi por mais de dez anos assessor e motorista do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Antes disso, desde a década de 1980 mantinha relações de amizade com o atual mandatário.
O próprio Bolsonaro destacou o vínculo, em dezembro do ano passado, ao afirmar que fizera um empréstimo pessoal ao ex-assessor do filho, na tentativa de explicar um depósito de R$ 24 mil na conta de Michelle, a atual primeira-dama.
Exposto, Queiroz tentou sair de cena, enquanto o caso, que também envolve as atividades de Flávio, passou a ser investigado em banho-maria, tendo sido congelado em julho, em decisão do presidente do STF, Dias Toffoli.
Nos áudios, Queiroz não deixa dúvida sobre a gravidade dos elementos que acredita terem sido reunidos pelo Ministério Público —refere-se a eles como uma ameaça “do tamanho de um cometa”.
Diz também que discutiu com o presidente a demissão de uma funcionária fantasma, que se enquadraria no esquema fraudulento conhecido como “rachadinha”.
A biografia do ex-assessor contribuiu ainda, desde o início, para reforçar evidências que aproximam membros da família Bolsonaro de integrantes das milícias cariocas. Esses laços nebulosos mais uma vez provocaram inquietações com a exposição de um depoimento controverso que consta das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco.
O principal suspeito do crime, o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa, reuniu-se com outro acusado, o ex-policial militar Élcio Queiroz, no condomínio da Barra da Tijuca, no Rio, onde o presidente tem uma casa.
O encontro teria ocorrido no dia do crime, em 14 de março de 2018. Segundo um porteiro do local, Élcio disse que iria à casa de Jair Bolsonaro, que no entanto estava em Brasília. O presidente negou enfaticamente ligação com o crime, e o próprio Ministério Público diz que o depoimento do porteiro não tem apoio em provas técnicas.
Mas o problema não se encerra nesse aspecto. Na realidade, é o esclarecimento do assassinato de Marielle e das suspeitas contra Fabrício Queiroz, com todas as suas implicações, circunstâncias e envolvimentos, que o país aguarda.
A burocracia que prejudica o Rio e o país – Editorial | O Globo
Brasil continua mal em pesquisa sobre ambiente de negócios, e a cidade chega a ser caso à parte
São inúmeras as frentes a serem atacadas no Brasil, e particularmente no Rio de Janeiro, para se melhorar o ambiente de negócios e assim atrair mais investimentos, essenciais à retomada da economia e à manutenção do crescimento de forma sustentada. A tarefa é árdua.
No caso específico do Rio, o prefeito Marcelo Crivella acaba de cometer um atentado à segurança jurídica ao destruir o posto de pedágio da Linha Amarela, devido a divergências com a empresa concessionária. Se o objetivo é espantar investidores da cidade, do estado e do próprio país, agiu com eficiência.
Além do ato municipal, que se espera seja um desatino isolado, há espessas e históricas dificuldades para empresas e população, criadas por uma indestrutível burocracia. No governo de João Baptista Figueiredo, o último da ditadura militar, o cargo de ministro da Desburocratização foi ocupado de forma competente por Hélio Beltrão.
Removeu muitos entulhos — reconhecimento de firma para incontáveis documentos, “prova de vida” e assim por diante —, mas como a burocracia tem vida própria, com o tempo as dificuldades para as pessoas jurídicas e físicas foram recriadas.
No recente evento “Reage, Rio”, do GLOBO, o empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, que se tornou marca mundial, relatou as dificuldades que enfrenta para realizar o espetáculo na cidade que dá o nome à maratona de shows musicais. Citou um exemplo emblemático: para montar seu festival nos Estados Unidos e em Portugal, necessita de cinco licenças; no Brasil, 58.
No Rio, há a peculiaridade desastrosa para produtores de eventos de o Corpo de Bombeiros só emitir sua autorização após vistoriar todas as estruturas prontas. Este documento é necessário para se obterem as devidas licenças da prefeitura.
Como os Bombeiros dão o sinal verde apenas três, quatro dias antes da estreia, os responsáveis pelos empreendimentos são obrigados a correr contra o tempo, a fim de obter os alvarás do município. É uma “operação de guerra”. Não foi dito, mas pode-se entender que é aí que atuam os “despachantes”.
Também no “Reage, Rio”, a diretora de Le Cordon Bleu na cidade, Sofia Mesquita, relatou que enquanto a filial da escola mundial de culinária levou um ano para abrir as portas em São Paulo, no Rio, foram necessários seis.
A situação no plano nacional no quesito ambiente de negócios continua difícil, segundo a pesquisa Doing Business, do Banco Mundial. Na última sondagem, o país caiu 15 posições, para a 124ª, numa relação de 190 economias.
Reconheça-se que medidas têm sido tomadas para desatar nós da burocracia. E que não teriam se refletido neste levantamento. Importa é que muito precisa ser feito em todos os planos da administração pública para facilitar a vida de empresas e pessoas. Os casos do Rock in Rio e Le Cordon Bleu são apenas dois exemplos do que acontece no cotidiano dos empreendedores.
Fed reduz taxa de juro e indica pausa prolongada – Editorial | Valor Econômico
A pausa do Fed assegura cenário benigno para países emergentes como o Brasil
O Federal Reserve fez mais um corte de 0,25 ponto nos juros e indicou que a taxa estacionará entre 1,5% e 1,75% por um bom tempo. Com o movimento já aguardado pelos investidores, os mercados financeiros mal se moveram com a ação do banco central e parecem ter se alinhado à expectativa de que possíveis cortes só ocorrerão em meados de 2020, se ocorrerem. A mudança no comunicado da reunião ratifica a expectativa de uma pausa relativamente prolongada no ajuste da política monetária, ao indicar que o banco continuará monitorando os indicadores econômicos para estabelecer “o ritmo apropriado” da trajetória dos juros, em lugar de “agir de maneira adequada para sustentar a expansão” da reunião anterior.
Boa parte dos indicadores mostrou a necessidade da interrupção dos cortes nos fed funds. O consumo das famílias, que segundo o presidente do Fed, Jeremy Powell, vem “dirigindo a economia americana” continua forte, assim como o mercado de trabalho. Os números do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre, divulgados ontem, confirmam a perspectiva geral do banco.
Os analistas esperavam uma queda mais pronunciada do crescimento do PIB no terceiro trimestre, de 2% para 1,6%, mas o resultado foi melhor, de 1,9%, quase estabilidade. O consumo pessoal cresceu 2,9% anualizado, um ritmo confortável, embora substancialmente menor que os 4,6% do trimestre anterior.
Pelo lado negativo, os investimentos das empresas caíram 3%, a pior performance em quatro anos, enquanto as exportações enfraqueceram, o que é uma decorrência natural tanto do desaquecimento sincronizado global e como da guerra tarifária declarada pelos Estados Unidos contra a China. Dessa forma, segundo o Fed, o cenário de expansão sustentável, mercado de trabalho robusto e inflação a caminho da meta de 2% continua sendo o mais provável.
Há riscos e Powell deixou claro que eles tiveram um peso importante, ao lado dos bons fundamentos da economia americana, para que o Fed interrompesse seu ciclo de afrouxamento e espere novos dados que confirmem ou rejeitem seus prognósticos. O anúncio da “fase 1” das negociações entre EUA e China significa que “deram um passo adiante para a resolução do conflito”, disse Powell.
Além da guerra comercial, a economia global continua se desaquecendo, mas o presidente do Fed acredita que, com a acomodação geral que a redução dos juros e afrouxamento monetário em curso nas principais economias desenvolvidas e também nas principais economias emergentes, acabará por impedir que a desaceleração se transforme em recessão. Essa perspectiva, se confirmada, será importante para reativar a confiança dos empresários e retirar o freio que colocaram nos investimentos. Da mesma forma, a ameaça de uma separação turbulenta e sem acordo do Reino Unido com a União Europeia diminuiu em certa medida as decisões do Parlamento e convocação de eleições antecipadas. Resta a inflação teimosamente abaixo dos 2%.
O Fed se sente confortável de que a taxa de juros estabelecida permitirá que a economia americana cresça 2% em 2020, dentro de sua tendência histórica, segundo Powell. Com o juro entre 1,5% e 1,75%, ele aponta que a instância da política monetária ainda permanece acomodativa, já que a taxa real está um pouco acima de 0 e abaixo da taxa neutra de juros, que permite um crescimento ótimo sem pressionar a inflação.
Há poucos riscos advindos das condições monetárias. Eles são baixos quanto ao funding dos bancos e empresas. Os preços de alguns ativos, segundo Powell, estão altos, “mas nem todos e não há bolhas” evidentes. A alavancagem das instituições financeiras não é alta, ao contrário da das empresas, hoje “historicamente elevada”, segundo Powell, e acompanhada de perto pelo Fed.
Powell parece ter conseguido aglutinar melhor as posições do Comitê de Mercado Aberto, apesar de dois votos contrários à redução dos juros. Desta vez não houve dissidência quanto à necessidade de um corte maior, como na reunião anterior.
A pausa do Fed assegura cenário benigno para países emergentes como o Brasil. Saiu de cena a possibilidade de mudanças abruptas na política monetária dos EUA e a tendência predominante nas economias desenvolvidas e nos países emergentes relevantes é de afrouxamento. Assim, o dólar tem menos fôlego de valorização, o que amortece pressões sobre a inflação brasileira e dá conforto ao BC para continuar reduzindo os juros.
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