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Pai, perdoa porque ele não sabe o que diz
Para os padrões que o país se acostumou, ou que pelo menos já não se espanta com tanta frequência, até que foi moderada a reação do presidente Jair Bolsonaro ao encontro privado do Papa Francisco com o ex-presidente Lula, no Vaticano.
Como em recente documento pontifício o Papa referira-se à Amazônia como “nossa” e de “todos nós”, e a chamou de “querida”, Bolsonaro retrucou dizendo que a Amazônia é “nossa”, dos brasileiros. Agradou os militares com isso.
Mas o general Augusto Heleno, ministro do esvaziado Gabinete de Segurança Institucional, resolveu ir mais longe do que seu patrão. Há tempo que se comporta assim. Posto ao lado de Bolsonaro para podar-lhe os excessos, excede-se tanto ou mais do que ele.
Em horário de expediente no Palácio do Planalto, de resto como costuma acontecer, o general sacou do celular e disparou no Twitter:
“Parabéns ao Papa Francisco pelo gesto de compaixão. Ele recebeu Lula, no Vaticano. Confraternizar com um criminoso, condenado, em 2ª instância, a mais de 29 anos de prisão, não chega a ser comovente, mas é um exemplo de solidariedade a malfeitores, tão a gosto dos esquerdistas.”
O mais culto dos militares a servir a Bolsonaro, Heleno deve ter esquecido que Jesus Cristo recebia santos e pecadores, sem discriminar ninguém. E que o Papa João Paulo II visitou na prisão o turco que quase o matou à bala. Abençoou e perdoou.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que um criminoso é só aquele cuja sentença tenha transitado em julgado. A de Lula ainda não transitou. Acusar Francisco de ser solidário com “malfeitores” não é só injusto, é um tiro que o general dá no próprio pé.
São muitos os políticos denunciados por malfeitorias. E Heleno não só cruza com eles por aí como já deve ter recebido alguns em audiência. Por fim, mesmo que indiretamente, insinuar que o Papa é um esquerdista, é ignorar a biografia de Francisco.
Quando superior dos jesuítas na Argentina, Francisco tornou-se suspeito de ter contemporizado com a ditadura militar. A suspeita virou uma cruz que ele carrega até hoje. Ao contrário do general que não se sente culpado pelas mortes que viu de perto no Haiti.
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