sexta-feira, 6 de março de 2020

Doria lança candidatura de Bebianno a prefeito do Rio

O ex-ministro Gustavo Bebianno foi lançado pelo governador de São Paulo, João Doria, como o nome do PSDB para a disputa eleitoral à prefeitura do Rio. Eles são desafetos do presidente Jair Bolsonaro.

Xadrez Carioca

Doria lança Bebianno e quer apoio de Witzel, que avança por nome próprio

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - Dois movimentos ligados a governadores que se apresentam como adversários do presidente Jair Bolsonaro mexeram no tabuleiro das eleições para a prefeitura do Rio. O tucano João Doria (PSDB) lançou a candidatura do ex-ministro Gustavo Bebianno — outro desafeto do presidente da República — pelo partido. Doria ainda deu a entender que busca o apoio do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), ao nome de Bebianno, citando a “boa atmosfera” que tem com o colega. Já a juíza Glória Heloíza apresentou ao Tribunal de Justiça (TJ) seu pedido de exoneração da função, um passo concreto em direção à sua candidatura, como informou o colunista Ancelmo Gois. Ela é a preferida de Witzel para representá-lo na disputa municipal.

O gesto de Doria de patrocinar o nome de Bebianno, com direito a uma entrevista coletiva conjunta em São Paulo, teve ainda uma consequência de impacto nacional no PSDB. O presidente do partido, Bruno Araújo, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, duas das principais lideranças tucanas, manifestaram publicamente incômodo com a forma como o governador paulista impôs o nome de Bebianno, atropelando a ex-secretária de Cultura

“Consenso nunca é de imediato. A maior parte do partido não sabe o que aconteceu”

Gustavo Bebianno, pré-candidato à prefeitura do Rio, sobre as reações no PSDB à sua indicação

do Rio Mariana Ribas, que havia sido anteriormente anunciada como pré-candidata à prefeitura do Rio pelo PSDB. É um indício de que Doria pretende fazer prevalecer indicados seus como candidatos do partido em importantes capitais este ano.

Até agora, a corrida eleitoral do Rio tem 12 pré-candidatos que foram testados pelo Datafolha em dezembro (ver tabela ao lado), em pesquisa contratada pelo GLOBO e pela “Folha de S.Paulo”. No cenários apurados pelo instituto, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) aparece com 22% das intenções de voto. Em seguida, em empate dentro da margem de erro, ficou o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), com 18%. Depois, está o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), com 8%. Crivella vem buscando se aproximar do presidente Jair Bolsonaro para garantir seu apoio na corrida pela reeleição. Contudo, por causa da alta rejeição —sua gestão é reprovada por 72% dos cariocas, de acordo com o Datafolha —, o mais provável é que ele receba um apoio “velado” de Bolsonaro.

Durante o carnaval, o governador Wilson Witzel chegou a lançar o nome do economista Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES e do IBGE, para a prefeitura pelo PSC. Segundo Witzel, Rabello de Castro foi o único filiado da legenda que manifestou o interesse de concorrer. Na ocasião, aliados do governador já apontavam que a précandidatura poderia ser utilizada como moeda de troca na composição de uma chapa. A exoneração da juíza Glória Heloíza deve acelerar esses planos. Heloíza tem menos de um mês para se filiar a um partido político a tempo de disputar as eleições municipais. As manifestações públicas de apoio à juíza fizeram com que ela fosse suspensa de eventos institucionais em maio do ano passado.

RUSGAS NO PSDB
O lançamento da pré-candidatura de Bebianno à prefeitura do Rio foi realizado em São Paulo com a presença do governador João Doria e de Mariana Ribas, até então pré-candidata do PSDB ao cargo. Mariana alegou problemas pessoais para desistir da vaga e afirmou que se prepara para entrar “num novo projeto ao lado do governador Doria”. O cargo que ela vai ocupar no governo paulista não foi divulgado. Contudo, a justificativa dada pelo pelo presidente do PSDB do Rio, Paulo Marinho, para o anúncio ter sido em São Paulo deixou evidente que a troca de pré-candidato não foi consensual dentro da legenda.

—Nós viemos aqui para comunicar nossa decisão e pedir anuência do governador João Doria, que, para nós, é a grande liderança do PSDB e a quem nós devemos satisfação —disse Marinho.

O anúncio da pré-candidatura de Bebianno provocou reações de caciques do partido. O presidente nacional da sigla, Bruno Araújo, fez manifestações de apoio a Mariana na quarta-feira numa rede social. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também se pronunciou em favor da pré-candidata. Doria e Bebianno minimizaram as divergências no partido.

— Consenso nunca é de imediato. A maior parte do partido não sabe o que aconteceu —afirmou Bebianno.

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