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Tudo como dantes no quartel de Abrantes
Em versão light de fim de semana (do mais recente porque nem sempre é assim), o presidente Jair Bolsonaro repetiu sem levantar a voz tudo o que vinha dizendo até que os ministros militares que o vigiam de perto, mas que não conseguem domá-lo, riscaram uma linha que ele não deveria ultrapassar, mas que ultrapassou.
O presidente usou um encontro com devotos evangélicos nos fundos do Palácio do Planalto para voltar a atacar governadores, “mas não todos” como fez questão de sublinhar, a imprensa que não perde uma chance de malhá-lo e, indiretamente, o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, sua mais nova obsessão.
Enquanto ouviu o que ele dizia, o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, passou a mão na cabeça mais de uma vez como se pensasse que aquele não era o script combinado. Se não foi por isso, pode ter sido pelo vento que soprava na direção de suas costas despenteando sua rala cabeleira.
A recaída de Bolsonaro desatou uma série de manifestações dos que rezam por sua cartilha ou fazem sua cabeça. Abraham Weintraub, ministro da (des)Educação, entrevistado ao vivo no Facebook pelo deputado Eduardo Bolsonaro, retomou os ataques da ala ideológica do governo à China. Disparou ao seu modo tosco:
“Eles têm contato com um monte de bicho que não é pra comer. E comem. E têm muito contato com porco e frango. Nos próximos 10 anos virá outro vírus desses da China? Probabilidade é alta”.
O autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho valeu-se das redes sociais para novamente a bater sem piedade no general Hamilton Mourão: “Lembro-me de haver promovido, na modesta medida das minhas possibilidades, a escolha do general Mourão para vice-presidente. Mais uma cagada numa vida já tão repleta delas”.
Não ficou só nisso. Sobrou ainda para Mandetta, os militares e até Bolsonaro:
“O Punhetta é o exemplo típico do que acontece quando um governo escolhe seus altos funcionários por puros “critérios técnicos”, sem levar em conta a sua fidelidade ideológica. O que os comunistas mais desejam é que o adversário tente vencê-los fugindo da briga ideológica. Os militares de 1964 fizeram exatamente essa cagada”.
Para seu desgosto recém-filiado ao PT e ao PSOL, uma vez que tornou público os números de sua carteira de identidade e CPF e os engraçadinhos logo disso se aproveitaram, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, atirou no governador do Maranhão e acertou no próprio pé. Disse:
“Flávio Dino, governador do Maranhão, creditou ao presidente Bolsonaro os 300 óbitos do Covid-21. Sempre acreditei, pelo passado histórico, que comunistas são seres alienados, sonsos, insensíveis e insensatos. Atitudes como essa confirmam esse perfil”.
Após cerca de duas horas no ar, tempo necessário para ser copiado pelos interessados, o comentário foi apagado. Dino (PC do B) não creditou morte alguma a Bolsonaro. E o Covid em questão é o 19, não o 21. Salvo se o general, responsável pelo setor de inteligência do governo, saiba de algo que prefira esconder por enquanto.
Foi um fim de semana e tanto no âmbito e nas cercanias de um governo que parece não ter mais o que fazer a não ser chamar a atenção para a sua inutilidade e sabotar os esforços dos que enfrentam a mais grave pandemia dos últimos cem anos. Os próximos 10 dias se encarregarão de demonstrar isso.
Aviso aos navegantes da Era do Coronavírus
Arrependimento tardio não dará jeito
Quem sai de casa sem precisar é porque acredita no que o presidente Jair Bolsonaro diz – salvemos a Economia porque a morte de velhinhos “são coisas de vida”. Pode até não gostar de Bolsonaro, mas pensa como ele. Pode até mesmo não saber que ele manda as pessoas saírem de casa e circular, mas faz o que ele manda.
Mais adiante, se virem caminhões do Exército transportando caixões para cemitérios à falta de carros funerários suficientes, se não puderem se despedir de parentes e de amigos que morreram contaminados pelo vírus, não se surpreendam. Não digam que não foram avisados. Não joguem a culpa apenas em Bolsonaro.
Ninguém poderá dizer: “Eu não sabia”. Poderá dizer: “Eu não quis acreditar”. Mas aí será tarde demais.
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