- Folha de S. Paulo
Algumas democracias vão bem melhor que outras no combate à pandemia
Até que se descubram vacina ou terapia para o coronavírus, as grandes conquistas nesta pandemia não serão tecnológicas. Serão relacionadas a como conduzir as comunidades políticas diante de restrições inéditas e ubíquas.
Ditaduras, velhas como a chinesa ou novas como a húngara, recorrem à força. Democracias sujeitam-se às leis e à responsabilidade.
Fosse apenas ligar a máquina de fabricar moeda e dívida dos tesouros, não seria necessário esforço nenhum. O sequestro de recursos presentes e futuros é técnica antiga de lidar com calamidades, pacificada nas Constituições e na administração pública.
A questão começa por tentar entender por que algumas democracias, mobilizando uma fração da energia que outras vão empregar, têm obtido resultados excepcionais contra a epidemia. É o caso da Coreia do Sul, de Taiwan e aparentemente também do Japão.
Pode-se dizer que essas sociedades asiáticas foram expostas anteriormente a ameaças de catástrofes infecciosas e desenvolveram, por assim dizer, anticorpos de governança. Ainda assim, estudá-los e adaptá-los ajuda a encurtar o aprendizado.
Mas como explicar a Alemanha? A mais populosa nação europeia tem larga fatia de idosos e não viveu surto similar recente. A taxa alemã de mortos, ponderada pelo total de habitantes, é menos de 10% da italiana e da espanhola e 15% da francesa.
Há anos a federação alemã atravessa a tempestade nacional-populista sem avaria significativa. Seus blocos liberais da direita à esquerda entenderam cedo que o inimigo havia mudado e que as antigas divergências pareciam futricas de salão perante o monstro emergente.
A sobriedade, a capacitação técnica obsessiva da máquina estatal e o respeito quase religioso da liderança política pelo saber especializado em todos os campos estão recompensando os alemães, como os recompensaram no ataque à crise financeira há uma década.
Anular demagogos, portanto, é apenas a parte introdutória da lição.
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