O Globo
Não há corrupção. Há fotos apagadas e
ataques à Lei de Acesso à Informação pela sociedade firmada entre o governo
militar de Bolsonaro e o consórcio arthur-nogueira-neto.
Não há corrupção. Pode haver ruído
circunstancial no arranjo societário. Nada que não se ajeite. Os pastores do
MEC estiveram abençoados com franjas do FNDE; até se exibirem. Daí o alarido.
Já silenciado. Não há corrupção. Há pano rápido.
O governo honesto é corporativista, como
corporativista é a gestão eleitoreira do Orçamento. Ciro Nogueira, o verdadeiro
Guedes, sabe distribuir. Sócios também os fardados, a materialização — ainda
que com Viagra, em último caso com próteses penianas — do ímpeto
patrimonialista do Planalto. O pulo do gato está na reserva.
Não há corrupção. Há filtros: gabinetes paralelos e sigilo. Não existirá mesmo corrupção num governo que se limpa entre a multiplicação de estruturas influentes informais e a decretação de segredos centenários, processo tocado por um gabinete formal, o de Segurança Institucional, a serviço do universo em que Bolsonaro e seus barros são probos.
Jamais será corrupta a família cujo pai — o
presidente — desfilha o jairzinho que se vale dos trânsitos no palácio para
traficar influência. Problema da mãe. E o estagiário de Sylvio Frota que
comanda o GSI que se vire para filtrar as visitas do zero-alguma-coisa e de
seus amigos-em-busca-de-alguns-zeros; que rebole para sustentar a existência de
um filho do presidente que, tendo se mudado para Brasília depois da eleição do
pai, estaria — segundo o pai — “há muito tempo longe”.
O general — que gritou o “pega” e agora
corre — que faça a conta fechar; pelo menos para efeito no zap profundo em que
o mito combate aquilo que seu governo produz no Ministério da Educação.
Falemos do MEC novamente. O FNDE é
propriedade de Ciro Costa Neto. Foi ali, onde se arma licitação para a compra
de ônibus escolares com preços superfaturados, que operaram os pastores Gilmar Santos
e Arilton Moura. Não são obra dos ciros e netos, porém.
Gilmar, segundo nos contou o ex-ministro
Milton Ribeiro, só teve existência porque Bolsonaro pediu para que recebesse
especial atenção no ministério. Seu parceiro Arilton é aquele cuja foto foi
apagada pela Casa Civil. Não sendo agentes formais da pasta, corrupção não
haverá no governo. A CGU endossa. Para isso há os gabinetes paralelos. Problema
da Polícia Federal. E o que de comprometedor escapar, ou se deleta ou se
esconde.
Aras não há. Não há corrupção. Sujos são os
visitantes.
O resto será a palavra de degredados do
bolsonarismo como Weintraub, de acordo com quem Bolsonaro lhe pediu que
entregasse o comando do FNDE ao Centrão.
Nunca haverá corrupção no governo de um
sujeito que constituiu, ao longo de três décadas, uma empresa familiar dentro
do Estado, mas que foi eleito — e ainda é percebido em sua base de apoio
fundamental — como inimigo do establishment. Weintraub será somente um ingrato,
de resto a conviver com a questão desonrosa: por que demorou tanto a falar, só
o fazendo agora que sem apoio do antigo chefe para se candidatar?
Bolsonaro é sócio de Valdemar Nogueira,
todos costa neto de costas largas. Ciro, outrora também associado nos governos
petistas, mas que só no do capitão conseguiu alcançar o coração do Planalto,
gestor formal do Orçamento, senhor também, com o alcolúmbrico Arthur Pacheco,
do orçamento secreto.
O governo de Jair Nogueira é militar, mas é
sobretudo dos militares. A cultura dos valdemares, também netos, foi aplicada
pelos bragas: o uso de emendas do relator, via Ministério da Defesa, para a
construção até de capelas funerárias em paróquias de aliados de Ciro Lira. É
assim quando general quer se viabilizar como vice.
O método por meio do qual a sociedade no
poder faz rir consiste em passar o tanque. A turma vai tratorando, em massa,
arrastando o Orçamento. Quando algo da blitz é revelado, recua-se. E o governo
capitaliza como se a interrupção daquela veia do esquema derivasse de algum
efeito dos alertas internos; na verdade, inócuos.
É a mesma prática de arrastão que jorra
dinheiros para o início da construção de escolas, enquanto outras, milhares,
vão abandonadas. Começa-se a obra sabendo que não haverá como terminá-la. Mas é
ano eleitoral. Tira-se a foto. Aumenta-se a superfície dos fotografados.
Alarga-se a das obras sem fim. Talvez um erro administrativo — dirá Arthur
Bolsonaro.
Escolas entregues no mundo alternativo em
que o governo dos gabinetes paralelos não é corrupto. Aquele mundo em que se
compra kit robótica superfaturado para colégios desprovidos de água encanada —
a educação conforme Jair Lira. Um governo honesto que tem até empreiteira em
ascensão meteórica para chamar de sua. Mérito.
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