terça-feira, 19 de abril de 2022

Andrea Jubé: PSB cobra mais ‘centro’ na frente Lula-Alckmin

Valor Econômico

Após a reunião com as centrais sindicais, na quinta-feira, em que o ex-governador Geraldo Alckmin gritou um entusiasmado “viva Lula, viva os trabalhadoooores do Brasil”, o ex-tucano e seu futuro companheiro de chapa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vão reaparecer juntos no Congresso Nacional do PSB, em Brasília. Ambos são aguardados para a abertura do evento, no dia 28.

Será a terceira aparição da dupla em público, desde o início dos ritos para sacramentar o inesperado enlace. O registro oficial da chapa, entretanto, somente ocorrerá após as convenções partidárias entre julho e agosto. A primeira fotografia, criticada pela falta de diversidade (ausência das minorias), remonta a 8 de abril, quando as cúpulas de PT e PSB celebraram o noivado político.

O segundo ato público entre Lula e Alckmin foi no dia 13, no evento com sindicalistas, quando o neo-pessebista chamou o petista de “maior líder popular deste país”. Na véspera, o diretório nacional do PT havia aprovado a indicação do ex-tucano para compor a chapa como vice de Lula por 68 votos a favor e 16 contrários.

O Congresso Nacional do PSB ocorrerá entre os dias 28 e 30 de abril, quando a atual Executiva Nacional será reconduzida para um novo mandato e será votada a “autorreforma” programática da legenda.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, que será reeleito, adiantou à coluna que haverá vagas na nova direção para as lideranças que acabaram de chegar ao PSB.

Além de Alckmin, os deputados Marcelo Freixo (RJ) e Tabata Amaral (SP) e o ex-governador do Maranhão Flávio Dino ganharão assento no diretório nacional. “Precisamos incluir as novas lideranças que ingressaram no partido, que são muito representativas”, explicou Siqueira. “É um rearranjo da direção, para que ela possa expressar as novas do partido”.

Apesar da nova fase, o PSB ainda tem velhas rusgas com o PT nos Estados. São Paulo é o exemplo mais emblemático, onde o ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) disputam a cabeça de chapa na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes na coalizão de esquerda, mas também persistem indefinições no Rio Grande do Sul e Espírito Santo.

Siqueira ressalva que as pendências não ameaçam a aliança nacional porque a prioridade zero é “derrotar o bolsonarismo”. Mas pondera esses embaraços “não deixam a liderança estadual do PSB numa situação confortável”.

Apesar dos recentes atos públicos da dupla Lula-Alckmin, que começam a ganhar fluxo, Siqueira observa que as direções nacionais de PSB e PT precisam se reunir para ajustar forma e conteúdo da frente ampla encabeçada por ambos - e que inclui PV e PCdoB, que formaram federação com os petistas. “Até agora não há nada combinado”, alertou o dirigente pessebista.

O ponto de partida da união é consensual: essa eleição não será uma disputa entre esquerda e direita, mas entre democracia e autoritarismo, diz Siqueira. Ele também está convicto de que a polarização Lula-Jair Bolsonaro “é irreversível”.

O que preocupa o dirigente do PSB é a falta de clareza, até agora, sobre a constituição da frente ampla, liderada por Lula. “Uma frente precisa ter correspondente programático, ela não pode ser algo apenas de retórica, precisa ter um programa que corresponda à representatividade política, social e econômica dessa frente”, advertiu Siqueira, em sintonia com declarações de Flávio Dino na entrevista ao Valor publicada ontem.

Siqueira observa que se não foi possível até agora uma aliança com partidos mais ao centro, que haja um esforço para se conquistar setores econômicos e sociais desse espectro. “Esse programa não corresponde a uma disputa de direta e esquerda, ainda não percebi que essa diretriz esteja clara”, destacou.

Para Siqueira, a exigência de uma inclinação mais ao centro tem na disputa interna em São Paulo o exemplo mais emblemático. “Não é uma candidatura mais à esquerda que amplia a frente, é uma mais ao centro, essa que pode trazer o eleitor de centro”, diz o dirigente, puxando a brasa para Márcio França. “É mais fácil levar uma pessoa de esquerda a votar em alguém de centro para garantir a frente ampla, do que o inverso”.

Siqueira acrescenta que o futuro programa da frente ampla terá que ter clareza sobre o projeto econômico, e, simultaneamente, encampar uma reforma política ampla e profunda. “É indispensável que ao ganhar a eleição, se possa relegitimar o sistema político, que está altamente destroçado”, criticou. “Bolsonaro já é fruto da necrose desse sistema”.

No encontro com as centrais sindicais, Lula disse que vai criar uma mesa de negociação entre representantes de sindicatos e empresários para discutir mudanças na legislação trabalhista, caso venças as eleições. Ao lado de Alckmin, adiantou que esse debate poderá ser coordenado pelo vice-presidente.

Sobre o tema, Siqueira afirma que o PSB nunca negou a necessidade de uma reforma que modernizasse a legislação trabalhista, mas não no sentido da precarização do trabalho. “E, sim, no sentido de perceber o mundo pela evolução tecnológica e pela revolução industrial, que criou condições de trabalho que não estão previstas na legislação”.

Siqueira diz que o PSB quer contribuir de forma ampla com o futuro programa de governo e que vai se reunir com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para saber qual será o espaço dos partidos da frente ampla nesse debate.

Afirma que o PSB está afiado para discutir os problemas do Brasil, porque se dedicou plenamente a isso nos últimos dois anos, desde que iniciou o processo de “autorreforma”, que visa a reformular o documento de fundação do partido, que remonta a 1947.

“Fizemos uma reestruturação do programa partidário em todas as áreas: ciência e tecnologia, política industrial, Amazônia 4.0, educação, saúde e segurança pública, de modo que ele possa se confundir com diretrizes a curto, médio e longo prazo de um verdadeiro Programa Nacional de Desenvolvimento para o país”, concluiu.

Nenhum comentário: