O Estado de S. Paulo.
‘Projeto de Nação’ dos generais contou com a estrutura dos ministérios para ser elaborado
O País se deu conta nesta semana de que o
projeto dos militares que apoiam o governo de Jair Bolsonaro prevê a manutenção
do poder até 2035. Até lá, eles terão avançado na tarefa de remodelar o Estado,
vencendo uma nova guerra. Na falta do Movimento Comunista Internacional,
identificam o “globalismo” como a doutrina inimiga que pretende subjugar a Pátria.
São os banqueiros internacionais, a alta
finança, que ocupa o lugar que um dia foi dos bolcheviques, criando uma
situação interessante. O discurso contra a plutocracia, tão em moda entre os
radicais da direita dos anos 1920, orgulha-se em dividir a mesa com Elon Musk,
mas é refratário ao dinheiro de George Soros.
O plano dos generais Eduardo Villas Bôas e Hamilton Mourão defende a austeridade pública. Quer cobrar o atendimento no SUS de quem ganha mais de três salários mínimos. Pretende impor mensalidades aos alunos das universidades federais enquanto os cadetes das Forças Armadas e das polícias recebem soldo nas suas escolas porque o estudo ali é visto como serviço.
Ao tratar da Educação, a intenção do plano
fica mais nítida. Ele quer “desideologizar” o ensino no País. Como fazer isso
sem afrontar a liberdade de cátedra, a autonomia universitária e a liberdade de
pensamento é algo que não se explica. É curioso que generais se sintam à
vontade para impor ao mundo acadêmico aquilo que acusavam o PT de tentar impor
às escolas de formação de oficiais: um currículo ao gosto de sua visão de
mundo.
Tudo isso está no Projeto de Nação, o
Brasil em 2035, estudo do Instituto Villas Bôas que contou com o apoio de
Mourão e com a estrutura dos ministérios, que distribuíram questionários pelo
País, cujas repostas moldaram o documento, conforme disse seu coordenador, o
general Rocha Paiva. Assim é fácil.
O leitmotiv do trabalho seria a tutela
ideológica da sociedade? Se não, como explicar que até no capítulo que trata do
combate à corrupção conste como diretriz para atingir esse objetivo “coibir a
pregação ideológica radical nos três níveis da Educação”? É como se a corrupção
fosse problema da ideologia que se pretende combater: a dos outros. Ela não
existe no ouro dos pastores da Educação, no orçamento secreto, na compra de
caminhões de lixo e na rachadinha.
Por fim, quem oferece um projeto à Nação
silencia sobre o exemplo que deve dar ao País. Ele não trata do fim dos
privilégios das corporações da burocracia civil e militar. Não se toca no
acúmulo de salários, na aposentadoria integral de militares e nas gratificações
e auxílios deles e de carreiras, como a dos magistrados. Fica-se, assim, com a
impressão de que a austeridade do projeto é só uma pimenta jogada nos olhos dos
outros.
Um comentário:
Pois é,pimenta no olho do outro é refresco.
Postar um comentário