Correio Braziliense
Ex-ministro da Fazenda de
Itamar Franco, foi responsável pela implementação do Plano Real, quando Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) deixou o cargo para concorrer e vencer as eleições de
1994
O perfil político do ex-governador do Ceará
Ciro Gomes pode ser sintetizado numa palavra da moda: resiliência. Ontem, o PDT
aprovou em convenção nacional, por aclamação e sem votos contrários, a escolha
do seu nome como candidato à Presidência da República. Ele resistiu a todas as
investidas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para desestabilizar
sua candidatura. O petista comeu pelas beiradas as alianças do PDT nos estados,
mas o político cearense, intempestivo e destemperado, duas palavras que também
constituem o seu perfil, resistiu bravamente. Manteve-se em cena com uma fatia
de 8% do eleitorado, que segue firme e forte apoiando sua candidatura.
Esta será a quarta vez que Ciro disputará a
Presidência, que é a sua grande obsessão política. Nunca chegou ao segundo
turno, mas sempre deu trabalho aos adversários, nos pleitos de 1998 e 2002,
pelo antigo PPS, e 2018, pelo PDT, quando obteve seu melhor desempenho, com
13,3% dos votos.
Ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, foi responsável pela implementação do Plano Real, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deixou o cargo para concorrer e vencer as eleições de 1994, derrotando Lula. Ciro tem uma trajetória bem-sucedida de gestor público, como prefeito de Sobral e Fortaleza e governador do Ceará, que hoje se destaca por ter uma das melhores redes de ensino público e gratuito do país.
Ciro é um caso raro de resiliência porque
trafega numa faixa muito estreita do eleitorado, mantendo-se sempre em torno
dos 8% de intenções de votos, conforme o último levantamento do Instituto
DataFolha. Sua campanha eleitoral está a cargo de João Santana, o
ex-marqueteiro das campanhas vitoriosas de Lula, em 2006, e Dilma Rousseff, em
2010 e 2014.
Santana está entre aqueles que foram
flagrados recebendo dinheiro de caixa dois pela Lava-jato, mas fechou delação
premiada e, assim, saiu da prisão. Conhece como ninguém as relações de Lula com
seus velhos aliados e o eleitorado, principalmente o nordestino.
“Vote em um e se livre de dois” é o bordão
criado por Santana para abrir caminho na polarização eleitoral protagonizada
por Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao contrário dos demais, que ainda
não apresentaram suas plataformas, Ciro tem um programa de governo com
princípio, meio e fim, no qual busca uma espécie de aggiornamento do velho
trabalhismo brizolista, que é o DNA do PDT. A chave é o modelo
nacional-desenvolvimentista, considerado esgotado pela maioria dos economistas.
Suas propostas estão publicadas no livro Projeto Nacional: O Dever da
Esperança.
Programa
Ciro quer revogar o “teto de gastos”, rever
a autonomia do Banco Central, abandonar o tripé da política monetária (meta de
inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal), criar 5 milhões de empregos
nos dois primeiros anos de governo com uma canetada, mudar a política de preços
da Petrobras, adotar o programa de renda mínima universal do ex-senador petista
Eduardo Suplicy, investir pesadamente em escolas federais em tempo integral e
criar um complexo industrial de saúde, focado na produção de medicamentos.
Velhas propostas de campanhas anteriores
foram exumadas pelo programa, como a regulamentação do imposto sobre grandes
fortunas, com alíquota progressiva para patrimônios acima de R$ 20 milhões; a
tributação de lucros e dividendos; e um imposto progressivo sobre heranças e
doações, além de dois impostos gerais: um para pessoa física e outro para a
jurídica. Também pretende promover uma nova reforma da Previdência, atingindo o
setor público, com adoção do regime de capitalização. Seu guru é o economista
Mangabeira Unger, professor da Harvard, de quem foi aluno.
O político cearense é um osso duro de roer
numa campanha. Não tem medo das agruras da corpo a corpo na rua, onde enfrenta
os desafetos petistas e bolsonaristas. Nos debates, é contundente e preparado
para defender seus pontos de vista. Esses atributos, porém, também são seu
ponto fraco, porque é destemperado e disposto até a resolver no braço as
diferenças, quando é agredido verbalmente. Nada disso, porém, abala a fatia do
eleitorado que lhe permanece fiel. O seu problema é de outra natureza: sair
dessa bolha.
Ciro se coloca como uma alternativa ao PT.
Nas eleições passadas, quando ficou fora do segundo turno, viajou para Paris,
com o propósito de não votar nem em Bolsonaro nem em Fernando Haddad, o
candidato do PT. Busca ser uma alternativa para os eleitores e as forças
políticas de centro, mas seu programa político acabou se tornando um obstáculo
para isso. Quem conseguiu ampliar as alianças ao centro foi Lula, ao atrair o
ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que se filiou ao PSB, para ocupar a
posição de candidato a vice.
As forças de centro que se mantiveram distante de Lula sempre apostaram numa terceira via, mas nunca aceitaram que fosse liderada por Ciro. O PSDB e o Cidadania, que fizeram uma federação, optaram por apoiar a candidatura de Simone Tebet (MDB), que agora também sofre um ataque especulativo do petista. Mesmo isolado e sem coligação, a candidatura de Ciro foi bancada pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, que deixou em aberto a vice. Caso o MDB, cuja convenção será 27 de julho, resolva defenestrar a candidatura de Tebet, o jogo fica zerado na terceira via. E Ciro pode voltar a ser uma alternativa a algumas das forças que compõem esse campo, como o Cidadania.
2 comentários:
Pra que queremos um presidente bruto e sem educação. Se a gente já tem um o qual queremos ficar livres?
Ciro Gomes só é ''bruto'' e ''sem educação'' quando lhe pisam no pé,tá certo que de uns tempos pra cá começou atacar gente que nem merece,como o Haddad,por exemplo.
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