O Globo
Bolsonaro
manda recado ao mundo sobre perigo das eleições
Bolsonaro
oficializou o golpe que pretende dar, acumpliciado pelos generais da reserva
que o assessoram e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, incapaz de reagir ao
verdadeiro descalabro que foi a fala presidencial diante de embaixadores
estrangeiros convidados para ser informados de que as eleições brasileiras são
comumente fraudadas e que, desta vez, isso só não acontecerá se as sugestões
das Forças Armadas ao TSE forem acatadas.
Faz
como o ex-presidente Donald Trump, seu espelho, que, ao perceber que perderia
para o democrata Joe Biden, começou a levantar dúvidas sobre a contagem de
votos, especialmente os votos pelo correio, uma tradição americana. Todos nós
sabemos onde isso quer desaguar: numa tentativa de inviabilizar a eleição caso
as últimas cartas tiradas da manga do ministro da Economia, Paulo Guedes, não
consigam reverter a tendência do eleitorado a favor do ex-presidente Lula até o
momento.
Bolsonaro viola todas as leis, eleitorais e fiscais, para executar decisões eleitoreiras de última hora. Como é comum, seu timing político é apurado, mas defasado das necessidades dos cidadãos comuns. Se tivesse apoiado a vacinação em massa, teria uma reação favorável de parte do eleitorado que hoje o renega. Se tivesse mantido o auxílio emergencial, sem querer acabar com a pandemia antes da hora, teria mais sucesso do que possivelmente terá com o aumento do Auxílio Brasil e dos vales gás, alimentação e diesel que está distribuindo um pouco tarde, quando a inflação descontrolou-se e comerá parte da “bondade”que está fazendo com o dinheiro da União em benefício próprio.
Reunir
embaixadores para criticar nosso sistema eleitoral é mandar um aviso
internacional de que pretende questionar o resultado das eleições se não for o
vencedor. O que espanta, em Bolsonaro, é ele fazer coisas de que até Deus
duvida. Já era assim quando militar subalterno e deputado federal do baixo
clero.
Continua
sendo o mesmo Bolsonaro de baixa extração no exercício da Presidência da
República, aonde chegou por um equívoco histórico do eleitorado brasileiro, que
acertou ao ver nele o candidato capaz de derrotar o petismo em 2018, mas errou
ao considerá-lo capaz de exercer a Presidência de um país que precisava, e
continua precisando, de um estadista para enfrentar seus graves problemas de
desigualdade social. Esses problemas não serão resolvidos por auxílios
emergenciais, bolsas disso ou daquilo, Bolsa Família ou Auxílio Brasil.
São
remédios circunstanciais, não estruturais. Não vemos no país, desde o Plano
Real, um programa de governo que seja de caráter permanente, estrutural. Não
por acaso, o Plano Real continua vivo até hoje, baseado em premissas sólidas,
que são atacadas há anos por governos de diferentes matizes, e mesmo
internamente no PSDB, que hoje acolhe até bolsonaristas.
O
PSDB não assumiu o lugar de partido de centro-esquerda original, nem foi capaz
de conter o avanço da direita. Ao contrário, assumiu um papel de centro-direita
que nunca foi dele e que o PT inventou para não ter competidor na esquerda
social-democrata. Mas o Plano Real foi o único programa de governo depois da
redemocratização que não se baseava em medidas populistas, embora fosse
popular, e, por tocar no bolso do cidadão comum, teve a acolhida extraordinária
que levou Fernando Henrique Cardoso a se eleger duas vezes, vencendo no
primeiro turno.
Foi
criado para resolver problemas estruturais do país, e não para dar soluções
efêmeras a nossos graves problemas. Até mesmo os programas sociais criados no
governo Fernando Henrique, que, unidos por uma boa cabeça marqueteira,
transformaram-se no Bolsa Família, não tinham o caráter populista que marca
esse tipo de programa.
Eram medidas paliativas, até que o país recuperasse sua capacidade de crescimento organizado e sustentável. Transformaram-se em programas permanentes, que foram sendo modificados à medida que os interesses eleitoreiros apareciam. O tripé macroeconômico do Plano Real — câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal — foi sendo flexibilizado em vários momentos, ora para forçar um crescimento artificial do PIB para eleger uma candidata, ora para arranjar mais dinheiro para investimentos fisiológicos capitaneados pela parte da classe política que apoia quem abre as burras da União, seja de maneira ilegal, por meio da corrupção, seja tornando legais mecanismos que são, no mínimo, imorais, como o orçamento secreto.
Um comentário:
Jornalista não devia ter político de estimação,FHC é o queridinho da maioria.
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