Entre as principais razões do êxito na expressiva adesão, estão seu caráter plural e a ausência de vinculação a partido político
Comemoramos hoje os 45 anos do histórico
evento ocorrido no pátio da Faculdade de Direito da USP em defesa da democracia
e em repúdio ao regime militar.
Em 8 de agosto de 1977, o professor
Goffredo da Silva Telles Júnior leu a “Carta aos Brasileiros”, documento que se
tornou um marco na luta pelo restabelecimento do Estado de Direito.
Diante dos atuais ataques à democracia e às
instituições, com questionamentos infundados ao processo eleitoral brasileiro,
insinuações de adiamento do pleito e, até mesmo, de eventual desprezo ao
resultado da vontade popular, resolvemos editar uma nova “Carta às Brasileiras
e aos Brasileiros”, com o propósito de reafirmar o pacto de 1988 e o respeito
às regras do jogo democrático, aproveitando a simbologia da data para fazer uma
justa homenagem à carta de 1977.
Entre as principais razões do êxito na expressiva adesão à “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, estão seu caráter plural e a ausência de vinculação a partido político, vocalizando o anseio da sociedade civil.
Sem essa marca, presente em todo o
processo, jamais teríamos alcançado as centenas de milhares de assinaturas. Não
imaginávamos chegar tão longe. Iniciamos com a comunidade jurídica, depois
abrimos as adesões para a sociedade civil. Vieram motoristas, catadores de
latinha, empresários, artistas e os mais diversos segmentos da sociedade. Todos
muito bem-vindos.
O texto da Carta foi escrito a várias mãos,
com o claro objetivo de atrair o maior número de assinaturas daqueles que
compreendem a democracia como preceito fundamental. Cada um dos subscritores
firmou um compromisso com esse valor. A mobilização popular será o antídoto
eficaz para evitar eventual investida contra o resultado da eleição,
independentemente de quem seja o vencedor.
A tentativa de fragilizar a democracia e as
instituições uniu pessoas com trajetórias de vida diferentes; as divergências
foram suspensas, e a defesa do Estado Democrático de Direito prevaleceu como
valor sublime.
Não há melhor lugar para a leitura pública
da Carta do que a Faculdade de Direito da USP. A história das Arcadas fala por
si, recheada de tolerância, respeito aos adversários e, sobretudo, marcada por
lutas históricas pela democracia.
A concepção de Estado Democrático de
Direito implica, ainda, igualdade de oportunidades, respeito à diversidade, à
democracia racial e à liberdade religiosa, entre outros valores de igual
relevância. É um conceito em permanente construção.
Com o início da campanha eleitoral a partir
de 16 de agosto, o debate estará aberto. Cada um defenderá o candidato que
entenda ser o melhor para conduzir o país, na certeza de que muitos outros
pleitos virão. Eventual equívoco em uma eleição poderá ser retificado na
seguinte e assim sucessivamente.
Hoje, juntos, assinamos a Carta. Amanhã
poderemos nos separar na defesa de projetos diferentes para o país. Nada mais
natural em uma sociedade multicultural, na qual a discordância está sempre
presente no debate de ideias. Contudo, se a democracia estiver novamente em
perigo, estaremos juntos na defesa do valor maior.
Com o sentimento de unidade, convidamos
todas as pessoas a estar presentes no ato de leitura da “Carta às Brasileiras e
Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, no dia 11 de agosto,
às 11h, na Faculdade de Direito da USP no Largo de São Francisco.
Será um momento ímpar para celebrarmos o
que nos une: Estado Democrático de Direito sempre!
*Ana Elisa Liberatore Silva Bechara é
Vice-Diretora da Faculdade de Direito da USP; Antonio Roque Citadini é
Conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo; Celso Fernandes Campilongo é
Diretor da Faculdade de Direito da USP; Dimas Ramalho é Presidente do Tribunal
de Contas de São Paulo; Luiz Antônio Marrey é Procurador de Justiça; Ricardo de
Castro Nascimento é Juiz Federal; Roberto Vomero Mônaco é Advogado; Thiago Pinheiro
Lima é Procurador-Geral do Ministério Público de Contas
3 comentários:
A carta de 1977 do professor Goffredo foi em defesa da democracia em repúdio ao regime militar de 1964.A atual carta de 2022 é em defesa da mesma democracia ameaçada de retrocesso por conta de um abominável restolho aloprado da ditadura de 64 que censurou, sequestrou, torturou, matou e deu sumiço em cadáveres.
A pergunta que faço é: onde estavam esses "democrats" antes do período eleitoral? Foi só agora que o B atacou a representacao democratica? Durante a parte mais dura da pandemia enquanto o governo atacava sistematicamente as vacinas e outras medidas profilaticas ?
Estou com a Carta e não abro.
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