segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Fernando Gabeira - A campanha no funeral da rainha

O Globo

De certa forma, presidente erra de rainha. Ele deveria ir ao funeral de Vitória, uma grande puritana

Na semana passada, escrevi um longo artigo afirmando que a campanha política no Brasil é imprevisível. Mesmo com marqueteiros, estrategistas e análises minuciosas na mídia, os fatos escapam ao nosso controle. Quem diria que o Auxílio Brasil — que atropelou tudo para investir R$ 60,7 bilhões na salvação de Bolsonaro — não teria efeito algum entre os mais pobres?

Retomo o tema da imprevisibilidade, com uma nova pergunta: o que você diria se perguntassem no início do ano qual o papel da rainha da Inglaterra nas eleições do Brasil?

Certamente responderia com uma gargalhada. Proclamamos a República ainda no século XIX, não temos laços com a monarquia. A morte da rainha Elizabeth seria apenas uma notícia de destaque, nada mais.

No entanto, para enfatizar a força do acaso, a passagem da rainha foi terrível para a campanha de Bolsonaro. Ele esperava que o grande esforço e a grande transgressão do 7 de Setembro turbinassem sua posição nas pesquisas. Mas o tema foi ofuscado em seguida pela notícia da morte de Elizabeth.

Agora, Bolsonaro vai aos funerais em Londres para recuperar o prejuízo. Conseguirá? Tenho dito que a única forma de alterar o quadro seria ressuscitar a rainha.

Embora presidente do país do Novo Mundo, Bolsonaro disse que Elizabeth é nossa rainha. Isso certamente a agradaria, mas, se ele se apresentasse como “o imbrochável”, certamente ouviria do fundo do caixão forrado de chumbo:

— I beg your pardon.

De certa forma, Bolsonaro erra de rainha. Ele deveria ir ao funeral de Vitória, uma grande puritana, o que fortaleceria sua campanha de costumes, Deus, pátria e família.

Bolsonaro prega algo que não vive, mas talvez isso fosse comum no regime vitoriano. Sempre houve exceções, como sir Richard Burton. No século XIX, ele afirmava que as mulheres inglesas gozavam; não se tratava apenas de abrir as pernas, fechar os olhos e pensar nas glórias do Império britânico, como aconselhavam os mais velhos.

Certamente, Burton era uma espécie de marxista cultural de sua época, embora tenha vindo ao Brasil em busca de riquezas minerais, um tema que agrada Bolsonaro. Talvez não agrade tanto os mineiros que se lembram de suas montanhas perdidas. Os meninos seguem para a escola. Os homens olham para o chão. Os ingleses compram a mina, como diziam os versos de Carlos Drummond de Andrade sobre Itabira.

Se Elizabeth era a rainha de Bolsonaro, Charles é seu rei. Seria uma amizade improvável. O novo rei é preocupado com a destruição ambiental. Não quer que seus netos o vejam como cúmplice omisso da devastação do planeta. Mais um marxista cultural?

De novo, concluo que a única rainha que atenderia a sede eleitoral de Bolsonaro seria Vitória . Ainda assim, Bolsonaro não poderia se apresentar a ela aos brados de “imbrochável, imbrochável”. No lugar de um civilizado “I beg your pardon”, ouviríamos:

— Guardas, levem esse louco.

Depois de Londres, Bolsonaro terá ainda uma nova cartada: dirá na ONU que seu governo protege a Amazônia, que a fumaça que cobre a região não é de fogo e que as imagens de satélite sobre o desmatamento são apenas grosseiras manipulações.

São duas oportunidades em que tentará se passar por presidente do Brasil, depois de ter vivido quase quatro anos apenas o papel de um aloprado, como ele próprio chegou a se definir.

Nas próximas eleições, deixarei um espaço muito maior para o imprevisto, até para o Sobrenatural de Almeida, como diria Nelson Rodrigues. Se me perguntarem qual o papel das imagens do telescópio espacial James Webb nas eleições, humildemente, vou considerar.

Como entender uma viagem do presidente a Londres para um funeral, depois de ele ter desprezado a morte de quase 700 mil pessoas em seu país? Eleições são mesmo imprevisíveis.

 

5 comentários:

Anônimo disse...

Você quando mais jovem também foi um aloprado que achou que assaltar banco e sequestrar embaixador ia fazer a revolução nesse país, no final foi para Europa passou um tempo e voltou de tanguinha de crochê, mais aloprado ainda e agora pra completar apoia um vagabundo , traidor da Pátria, que quando presidente comandou o maior assalto ao Brasil de dentro do Palácio do Planalto, dizendo defender os trabalhadores
Você já deve estar sabendo que o Bolsonaro pode ganhar no primeiro turno, prepare as narrativas

Anônimo disse...

O papagaio bolsonarista anônimo acima conhece um pouco da biografia do Gabeira. Mas aparentemente desconhece a biografia do MINTO que idolatra e torce para que se reeleja. Bolsonaro quando mais jovem também foi um aloprado que fez planos terroristas de explodir bombas no RJ para melhorar os salários dos seus colegas. Por isso, foi julgado, também acusado de indisciplinas e outros maus comportamentos. Sempre foi visto como mau militar por seus superiores, que o consideravam "bunda suja". Expulso do exército, entrou na política, elegendo-se para 7 mandatos de deputado, sem aprovar um único projeto importante, sempre convivendo com o baixo clero e enriquecendo com as rachadinhas, que ensinou aos filhos, outras nulidades como o pai. Pra completar, o vagabundo traidor da pátria cometeu o maior genocídio durante a pandemia, causando a morte de centenas de milhares de brasileiros que foram deixados sem vacina pelo atraso na aquisição, por Bolsonaro não ter respondido por meses as ofertas dos fornecedores e por Bolsonaro ter cancelado a compra das vacinas produzidas no Instituto Butantan sob ordens do Doria. Além disso, o genocida estimulava o tratamento com remédios ineficazes e combatia as máscaras, que protegeriam parte dos mortos pela Covid.
Pena que o papagaio não esteja sabendo que Bolsonaro pode matar muito mais brasileiros se os otários o reelegerem em qualquer turno. Para segurança dos papagaios e dos brasileiros decentes, é melhor que Bolsonaro perca já no primeiro turno e em seguida seja julgado e preso por tantos crimes.

ADEMAR AMANCIO disse...

O primeiro anônimo é um legítimo aloprado,gostaria que ele não se estressasse tanto por causa de políticos,ninguém merece nossa saúde mental,fique na paz.
Eu critico Bolsonaro,mas faço orações a ele e sua família sempre que posso.

Anônimo disse...

"Como entender uma viagem do presidente a Londres para um funeral, depois de ele ter desprezado a morte de quase 700 mil pessoas em seu país? Eleições são mesmo imprevisíveis."

Gabeira você já foi mais honesto.
Agora idoso e ancorado na globo(continua?) virou papagaio de frases de efeito repetidas e sem nenhum lastro na realidade?
tome siso gabeira!

João Alderney disse...


Esse Gabeira é um bosta. O que creio, mesmo, é que tá querendo grana como a Globo, a Folha e toda essa mídia venal.
Não têm nada de concreto a dizer contra o Presidente que nunca teve corruptos entre todos os magníficos Ministros e demais auxiliares escolhidos para reerguer nosso Brasil vergonhosamente assaltado, pilhado, humilhado por Lula e todo o desgraçado PT, comandado por ele.
E por não ter nada, ficam com mimimi de pequenices e, o pior, de calúnias assentadas em maledicências.
Gabeira sabe muito bem que o Presidente, como outros eleitos pelo povo, não podem ser responsabilizados por crimes cometidos anteriormente ao mandato, é elementar, meu caro Watson.
Não que ele tenha cometido algum, é homem honrado, honesto, imbuído do princípio de que a Pátria está acima de interesses pessoais, como foram todos os Presidentes do Regime Militar que puseram esse comunistazinho pra correr do País, na contra-revolução que impediu o comunismo no Brasil e que esses esquerdopatas chamam de ditadura.
Se fosse patriota, essa Gabeira, não iria querer entregar o Brasil de volta ao maior bandido já abortado na terra de Vera Cruz e teria olhos para enxergar o homem que alimentou os brasileiros necessitados na infeliz pandemia sem endividar o País, sem enxergar o miséria que seria hoje para todos se o outro comuna Haddad fosse o presidente. Tem vergonha, homem, aprende, depois de velho, pelo menos, a amar tua Pátria.