terça-feira, 20 de setembro de 2022

Merval Pereira - Voto envergonhado

O Globo

A desorganização estrutural de nossos partidos, está transformando esta eleição presidenciável em geleia geral

A nova pesquisa Ipec trouxe ânimo para a campanha de Lula, renovando as esperanças de ganhar no primeiro turno. Há ainda uma novidade que as pesquisas escondem e pode mudar o resultado: o surgimento do voto envergonhado em Lula. A pesquisa Ipec está se aproximando de constatar que há cerca de 4% de eleitores que declaram voto indeciso ou nulo, mas votam em Lula quando o tablet do pesquisador é deixado em suas mãos para que escolha o candidato sem ser observado.

Um perigo para os lulistas é a abstenção, especialmente por receio da violência. Se Bolsonaro for para o segundo turno com uma diferença menor para Lula que a estimada pelos maiores institutos, como DataFolha e Ipec, será motivo para que alimente a narrativa de que foi montado um esquema para impedir sua vitória. Mais um mês de campanha fará com que Bolsonaro possa alimentar a esperança de virar o resultado.

A desorganização estrutural de nossos partidos está transformando esta eleição presidencial numa geleia geral sem sentido que não seja o imediatismo dos interesses políticos. Com a controversa polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro, que indica uma espécie de volta ao passado, esfacelou-se a lógica programática dos partidos, se é que algum dia a maioria deles teve alguma.

Entre o passado recente e o passado mais que perfeito, os eleitores não são capazes de ampliar o horizonte para outras perspectivas, e isso contamina as disputas regionais. Tome-se o exemplo da pelo governo de São Paulo. O que surgiu como terceira via entre o petista Fernando Haddad e o bolsonarista Tarcísio de Freitas, a candidatura do governador Rodrigo Garcia, pode se transformar numa repetição da disputa de 2018, quando João Doria tomou carona no fenômeno Bolsonaro para se eleger governador no primeiro turno.

Rodrigo Garcia deu uma uma subida nas pesquisas, que o colocam em empate técnico com Tarcísio. Este passou grande parte da campanha tentando se descolar de Bolsonaro, para aderir mais ostensivamente nos últimos dias. Garcia agora já pensa no segundo turno, quando sonha tornar-se o candidato bolsonarista contra o petista Haddad.

O PSDB de Garcia, que teoricamente faz parte da coligação que apoia Simone Tebet, poderá então ter parte apoiando Lula, especialmente entre a velha guarda do partido que preserva sua identidade de centro-esquerda, e parte apoiando Bolsonaro, ficando a candidata oficial relegada ao segundo plano devido à polarização nacional.

Em Minas Gerais, o fenômeno se repete, pois o governador Romeu Zema, que se elegeu na onda bolsonarista e lidera as pesquisas de opinião, se afastou do presidente e declarou neutralidade no primeiro turno, mas já teria se comprometido a apoiar Bolsonaro no segundo. A possibilidade de Zema vencer no primeiro turno não leva o candidato de seu partido, Luiz Felipe D’Avila, a ser bem votado no estado.

O receio de perder votos dos lulistas leva também o prefeito de Salvador, ACM Neto, que já foi um antipetista ferrenho, a decretar neutralidade no primeiro turno. No Piauí, onde a rejeição a Bolsonaro é tão grande quanto o apoio a Lula, o candidato apoiado pelo chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, do PP, não quer ligação ostensiva com Bolsonaro, mas pode ser que no segundo turno revele sua verdadeira identidade.

Essas incoerências levam os bolsonaristas a apostar num segundo turno mais robusto, com apoio de governadores eleitos no primeiro turno. Como relata reportagem do GLOBO, a terceira via poderia ter se viabilizado em nível nacional se seus integrantes tivessem se unido verdadeiramente, e mais cedo.

Nada menos que seis estados, e alguns dos maiores colégios eleitorais, como Minas Gerais e Bahia, estão escolhendo candidatos que não se aliaram formalmente a nenhum dos dois líderes das pesquisas, embora formalmente todos os seus partidos tenham candidatos próprios, especialmente MDB e PSDB.

O União desistiu de ter candidato de peso, ou de apoiar algum nome, para poder deixar livres seus filiados para apoiar quem quiserem, prejudicando a candidatura de Soraya Thronicke, colocada na disputa “de mentirinha”. Ela tem se destacado nos debates e propagandas políticas. Mesmo assim, segue sua sina de ficar entre os candidatos com 1%.

6 comentários:

Anônimo disse...

Faltam 12 dias pras eleições, estou aguardando ansiosamente a apuração das urnas , em que Bolsonaro provavelmente vai ganhar no primeiro turno ou quase , pra ver o que que vocês vão falar, qual vai ser a narrativa que vocês vão inventar pra justificar tanto erro e tanta forçação de barra para favorecer o Lula, o Ladrão!

Anônimo disse...

A desorganização estrutural de nossos partidos ou a imprensa militante que só dá espaço aos dois palhaços?

Anônimo disse...

Certamente, para se escolher o menos pior já que a corte não nos deixou escolha.

Gira Mundo disse...

Onde Nós Chegamos..! Muito Triste ..

Anônimo disse...

Outro perigo para os lulistas é aparecer um dos tantos bolsonaristas criminosos e este agredir ou assassinar o cidadão esquerdista. A violência bolsonarista é imprevisível e sem limites!

ADEMAR AMANCIO disse...

Em qualquer lugar do mundo e,sempre foi assim,escolhe sempre o menos pior.No planeta terra não tem ninguém perfeito.