Folha de S. Paulo
Presidente eleito antecipa acertos
políticos e trabalha para atenuar riscos no Congresso
Quem fez o prognóstico foi o próprio
Lula, antes da
campanha. "Temos que saber que, além de eleger o presidente da
República, temos que eleger deputados e deputadas, senadores e senadoras. Se a
gente não construir maioria, vai ficar fragilizado", disse o petista, em
março.
Lula soube na noite de 2 de outubro que essa fragilidade seria uma ameaça. A aliança liderada pelo PT não chegou nem perto de uma maioria no Congresso. Na Câmara, o bloco elegeu só 136 dos 513 deputados.
O número não é distante do quadro de 2002.
Naquele ano, Lula se elegeu com uma aliança
de três partidos e 130 deputados. No poder, ampliou a coalizão:
distribuiu cargos, formou uma base com quase 300 cadeiras na Câmara e emplacou
um nome do PT na presidência da Casa.
A pressão sobre Lula agora é maior do que
há 20 anos. O Congresso tem um
centrão bolsonarizado,
que abraçou o antipetismo como bandeira eleitoral, e inchado, com 187 vagas na
Câmara. Além disso, o Legislativo acumulou poder e depende menos da boa vontade
do Planalto.
O jogo duro dos partidos com a PEC da
Transição foi o primeiro sinal dos riscos que Lula pode enfrentar a partir de
2023. O petista decidiu se mexer e fez dois lances nesta terça-feira (29) para
tentar tapar os buracos da governabilidade.
A primeira jogada foi o convite formal à
União Brasil para ocupar cargos no governo. Ao lado de
PSD e MDB, a legenda elevaria o bloco de Lula para 279 votos na
Câmara.
O segundo movimento foi o apoio do PT
à reeleição de Arthur Lira (PP) na presidência da Câmara, com a
manutenção das verbas que abastecem redutos dos parlamentares. Aliados de Lula
estimam que Lira carregue ao menos 50 votos do centrão para aprovar projetos do
governo.
Ainda em março, Lula disse a apoiadores
que eleger
parlamentares de esquerda era prioridade: "A gente não pode
votar colocando raposa no nosso galinheiro. A desgraçada da raposa vai comer as
galinhas". Depois de fazer as contas, o petista teve que convidar as
raposas para jantar.
4 comentários:
Excelente texto! Com algumas verdades indesejáveis! O centrão bolsonarizado é uma delas, talvez não a pior...
Vai ter raposa comendo raposa.
Depois que as galinhas tiverem acabado...
Tudo como dantes no quartel de Abrantes.
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