O Globo
Só se discute como gastar mais
PEC pra cá, PEC pra lá, orçamento secreto,
emendas do relator, teto de gastos. Desde o início de novembro, o debate
nacional está tomado por uma algaravia que se resume a três palavras: como
gastar mais.
Cada despesa com o dinheiro da Viúva tem
defensores capazes de justificar suas propostas. Quase sempre, falam em nome
dos fracos e dos oprimidos. Não apareceu uma única voz propondo cortar gastos,
como se o problema do Orçamento estivesse no andar de baixo.
Começando pelo topo, imagine-se uma reunião dos seis ex-presidentes, incluindo Jair Bolsonaro. Todos podem defender gastos, pelas mais altas razões. Falta dizer que eles custam à Viúva pelo menos R$ 5,76 milhões por mês. Tudo de acordo com a lei. Nessa estatística do Portal da Presidência, incluem-se o custeio de equipes, diárias de hotel, passagens e combustível. Ela não tabula aposentadorias e benefícios legalmente acumulados. Nela, o teto fica com Lula (R$ 129.700) e o piso com José Sarney (R$ 76.600).
No andar de cima do serviço público há de
tudo. No primeiro semestre deste ano, pelo menos 353 juízes ganharam mais de R$
100 mil num mês. Três receberam de R$ 432 mil a R$ 700 mil. Uma magistrada
recebeu R$ 733 mil em abril. Teve general acumulando os vencimentos de militar
(R$ 32 mil) com os de cargo civil (R$ 31 mil). No Superior Tribunal Militar, 22
viagens do seu presidente custaram R$ 235 mil. Tem ministro do Tribunal de
Contas que custa mais com suas viagens (R$ 43.517 entre 25 de fevereiro e 14 de
março) do que com os vencimentos (R$ 37.300 brutos). Três generais palacianos
receberam num ano até R$ 350 mil acima do teto do serviço público. Em 12 meses,
um deles recebeu R$ 874 mil brutos.
Furam-se tetos, tanto o do limite geral de
gastos à custa da bolsa da Viúva, como de embolsos individuais. Tudo dentro da
lei.
O que surpreende na má qualidade do debate
é que existem dezenas de propostas para gastar mais, sem que tenha aparecido
uma só ideia para gastar menos. É uma lógica que vai bem nos Emirados Árabes,
mas não faz sentido em Pindorama. Aqui, gasta-se mais em nome dos pobres sem
mexer nas excentricidades praticadas no andar de cima. Todo mundo é contra a
desigualdade, desde que não se toque no seu pirão. Nenhuma das emendas do
relator economizava um só centavo, só gastavam.
Pode-se argumentar que, com a magnitude do
Orçamento, um corte aqui e outro ali não fazem diferença. Tudo bem, mas servem
de exemplo, demonstram intenção. Até porque as arcas da Viúva não podem ser as
únicas onde é impossível cortar alguma coisa. Afinal, custos são como as unhas:
se não cortar, crescem.
Eleito por um arco de defensores da
democracia, Lula apresenta-se como encarnação de uma frente de partidos. No
arco democrático estava o economista Pedro Malan. Na frente de partidos está o
de sempre.
Faz tempo, botaram um aumento no contracheque do brigadeiro Eduardo Gomes, patrono da Força Aérea, duas vezes derrotado na disputa pela Presidência da República. Sem ter outra fonte de renda além do soldo, morava bem na Praia do Flamengo. Vivia só. Quando lhe deram um dinheiro que era legal, mas a seu ver impróprio, sem dizer uma palavra, fazia cheques mensais para os pobres de Petrópolis e para missões religiosas.
7 comentários:
"É voz corrente entre especialistas que esses “gastos”, de R$ 456 bilhões no ano que vem, precisam de um pente-fino. É possível que isso ocorra, pois o próprio Haddad comentou que a ex-presidente Dilma Rousseff exagerou nas desonerações."
Isso no texto de hoje de Lu Aiko Otta neste blog: pensa-se, sim, no corte de despesas. E isso é só um exemplo, Gaspari.
Tomara que Haddad realmente analise possíveis cortes, mas o colunista tem razão que na imprensa e no Congresso só se fala e pensa em GASTOS... Como a imprensa deve levantar e discutir a maior variedade possível de assuntos importantes, parabenizo o colunista e o blog que publicou seu texto!
Podia cortar as unhas afiadas e os salários do Gaspari.
Não faria mal nenhum.
Perfeito
O PT vem louco de fome, muitas bocarras abertas esperando. Emagreceu nesses 4 anis
Lula recebe tudo aquilo de aposentadoria?
Que tolice! Comparar gasto público com uma pessoa contratada pela empresa privada.
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