sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Bernardo Mello Franco – Uma encrenca no Turismo

O Globo

Na campanha, Lula atacou Jair Bolsonaro por discursos e homenagens a milicianos. Eleito, entregou o Ministério do Turismo a uma deputada que mantém laços políticos com a mesma turma.

A nomeação de Daniela Carneiro, que se apresentava até outro dia como Daniela do Waguinho, criou desgaste desnecessário para o novo governo. Além de expor a contradição entre discurso e prática, o caso escancara a falta de critério nas últimas escolhas para a Esplanada.

A ministra foi indicada pelo União Brasil, resultado da fusão do PSL com o DEM. Ao celebrar o acordo, Lula fez mesuras ao “companheiro” Luciano Bivar, que alugou seu antigo partido para o capitão em 2018. Todos os presidentes são obrigados a engolir sapos, mas é preciso algum cuidado para evitar a indigestão. Neste caso, uma consulta ao Google poderia ter poupado o petista do desconforto.

Como indica seu nome de urna, Daniela é casada com Waguinho, chefe do União Brasil no Estado do Rio. Prefeito de Belford Roxo, ele confiou seu Departamento de Ordem Urbana a um miliciano condenado a 22 anos de prisão por homicídio. O caso foi revelado pelo Extra em 2020. Em outubro passado, outra reportagem da Folha de S.Paulo mostrou como Belford Roxo se tornou um curral eleitoral armado, onde fazer campanha contra o prefeito virou atividade de risco.

Às vésperas do segundo turno, Waguinho promoveu um leilão de apoio político. Na mesma semana, reuniu-se com Lula e Bolsonaro. Fechou negócio com o petista, que se encantou com a ideia de alavancar a performance na Baixada Fluminense. O acordo se mostrou mais vantajoso para o prefeito do que para o presidenciável. Do primeiro para o segundo turno, Lula ganhou míseros 4.757 votos no município. Waguinho não entregou o que prometeu, mas emplacou a mulher na Esplanada.

Não há saída fácil para a encrenca. Se mantiver a ministra, o presidente começará o governo sob uma sombra incômoda, ainda que não tenha as notórias ligações da família Bolsonaro com a milícia. Se rifá-la, pode enfrentar represálias dos novos aliados. Daniela negou relação com o crime e indicou que não está disposta a pedir o boné, o que aumenta o risco político de uma eventual demissão.

O caso também arranha a imagem de Marcelo Freixo, que foi preterido na distribuição de ministérios e aceitou o cargo de presidente da Embratur. O deputado se projetou ao denunciar a influência da milícia na política do Rio. Agora estreia no governo subordinado ao clã de Belford Roxo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lamentável manchar desse jeito um começo de governo tão bafejado de esperança num recomeço verdadeiro.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,uma simples rastreada no Google teria evitado o constrangimento.