terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Oliver Stuenkel* - Invasão causa reação global sem precedentes

O Estado de S. Paulo.

Sem resistência Virou destaque em todo o mundo a facilidade com que os prédios dos Poderes foram tomados

Analistas políticos alertaram, diversas vezes, para o risco de uma versão brasileira da invasão do Capitólio em Washington em 6 de janeiro de 2021. Não surpreendeu, portanto, quando, dois anos e dois dias depois, apoiadores extremistas de Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram o Congresso, o STF e o Palácio do Planalto em Brasília.

Diante da previsibilidade – ainda mais óbvia por causa da presença expressiva de manifestantes na capital –, chamou a atenção e virou destaque internacional a facilidade com que foram invadidos e depredados os principais prédios públicos da cidade. Diferentemente das forças policiais americanas, que não tinham como antecipar um ataque ao Congresso – afinal, não havia nenhum precedente –, tanto as Forças Armadas brasileiras quanto a Polícia Militar do Distrito Federal estavam cientes do risco e poderiam ter contido os invasores com certa facilidade.

Por que não fizeram isso será uma das questões mais discutidas ao longo das próximas semanas e meses, mas há suspeitas quanto a algum grau de conivência por parte das forças de segurança. Esta é, pois, a maior diferença entre o 6 de janeiro nos EUA e o 8 de janeiro no Brasil: enquanto os fardados nos EUA têm compromisso inquestionável com a democracia, as Forças Armadas e policiais brasileiras parecem não gozar da mesma credibilidade nesse sentido.

Talvez, por isso, os eventos em Brasília tenham causado reação sem precedentes por parte de governos mundo afora. Em questão de horas, líderes de países como EUA, França, Espanha e de numerosas nações latino-americanas, assim como o secretário-geral da ONU, condenaram os ataques e demonstraram apoio ao governo Lula. Domina a interpretação de que a democracia brasileira ainda não saiu da zona de risco. Tal como fizeram ao longo dos últimos meses, embaixadores – sobretudo do Ocidente – reforçarão a mensagem aos generais brasileiros de que qualquer ruptura democrática levará ao isolamento diplomático do Brasil.

 *Analista político e professor de relações internacionais da FGV-SP

2 comentários:

Anônimo disse...

"Esta é, pois, a maior diferença entre o 6 de janeiro nos EUA e o 8 de janeiro no Brasil: enquanto os fardados nos EUA têm compromisso inquestionável com a democracia"... Olha querido vira-lata, as imagens da invasão do capitólio mostram os policiais que faziam a guarda do prédio deliberadamente deixando os arruaceiros entrarem. O estrago só não foi maior a estrutura do prédio por que os parlamentares estavam em sessão para a validação da eleição, vencida pelo Biden. Justamente devido a isso a segurança dos parlamentares foi impediosa em que tentasse se aproximar do recinto onde eles estavam localizados. No restante do prédio as imagens de policiais confraternizando com os arruaceiros também correram o mundo. O que eu quero dizer com isso é simples. As forças de segurança são reacionarias e elas tem inclinação natural para regimes de força. Essa de que os fardados tem compromisso inquestionável com a democracia é conversa pra boi dormir de liberal safado.

Anônimo disse...

Suponho que ele esteja comparando as Forças Armadas dos EUA (principalmente o Exército) com as do Brasil (idem). Nos EUA os oficiais superiores e comandantes não apoiaram as tentativas de golpe do Trump, que ameaçavam a Democracia. No Brasil, vimos vários generais e ministros militares agindo de forma no mínimo suspeita. Alguns analistas acham que aqui eles apoiavam o GENOCIDA, outros acham que eles tentavam contemporizar ou refrear as ideias ilegais do capitão das rachadinhas mas sem antagonizar diretamente com o canalha.