O Estado de S. Paulo
A invasão das sedes dos três Poderes põe em questão a autonomia política do Distrito Federal
O fracasso em proteger os três Poderes no
ataque de domingo é ainda pior quando se considera o quanto a União paga ao
Distrito Federal para sediá-la. A União gasta cerca de R$ 5 bilhões por ano só
com a Polícia Militar do DF. O presidente decretou intervenção em sua
segurança, e o STF afastou o governador. A autonomia do Distrito Federal, que
existe desde 1988, é colocada em questão.
Não é só a PM e nem só a segurança pública:
no total, a União transfere cerca de R$ 20 bilhões a Brasília apenas por ser
sua capital (pelo chamado “fundo constitucional”). Contribui, assim, para a
prosperidade deste ente, que já tem o 8.º maior PIB entre as 27 unidades da
federação. Maior do que qualquer Estado do Centro-oeste ou do Norte (e
Nordeste, exceto Bahia).
A abundância não se traduz necessariamente em serviços melhores. A educação é apenas a 8.ª no Ideb (anos finais). A segurança é a mais ineficiente das 27 UFS – considerando o retorno do gasto em indicadores de violência (Pereira Filho et al., 2010). A política social é precária: o DF é a unidade mais desigual da federação.
Os recursos fazem com que o prêmio salarial
do funcionalismo seja próximo ao do federal, e bem maior do que o dos 26
Estados. O prêmio é a diferença do que um servidor ganha em relação a um
trabalhador da iniciativa privada de mesma experiência e qualificação. O Banco
Mundial o calcula em 80% para o DF. O conforto é tanto que o DF ainda não
discutiu uma reforma da Previdência – o que faz sentido, já que não precisa
pagar parte da conta.
Já a autonomia política é criticada pelos
moradores mais velhos, que veem nela a origem de uma elite política e
empresarial corrupta. O DF não é o Rio, mas dois dos últimos governadores e um
vice passaram um tempo na cadeia.
Há algumas justificativas para o fundo
constitucional. O DF compete por mão de obra com o funcionalismo federal, e não
pode arrecadar impostos sobre prédios, terrenos e apartamentos da União
(imunes). Uma justificativa, porém, parece ter caído por terra: a de que
precisa receber recursos pois tem a missão de proteger os três Poderes, tarefa
que justificaria um status especial em relação aos 26 Estados. Eles agora estão
mandando PMS para ajudar, ampliando o vexame.
No modelo americano, Washington recebe
recursos apenas para eventos especiais (como posses, protestos) e o governo
local é totalmente supervisionado pelo Congresso, que tem até o poder de
“dissolvê-lo”. A autonomia do DF, que dura quase 35 anos, agora terá seus
termos rediscutidos.
Um comentário:
Sempre fui contra a autonomia do DF. O governador (por que nã prefeito ou síndico) deve ser nomeado pelo Governo Federal. A onerosa Câmara Distrital substituída por um conselho de cidadãos.
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