quarta-feira, 29 de março de 2023

Elio Gaspari - Lula com Bolsonaro na cena

O Globo

Os dois dividirão o palco, e os presságios são ruins

Confirmadas as expectativas, a partir desta quinta Jair Bolsonaro estará no Brasil, procurando espaço para fazer contraponto a Lula. Será uma situação inédita, com um ex-presidente, derrotado nas urnas por pequena margem (1,8% ponto percentual), opondo-se ao titular. Até agora, os ex-presidentes recolheram-se em elegante silêncio. Além disso, Bolsonaro e o Lula 3.0 têm a marca comum de uma agressividade tóxica para a paz política.

O ex-capitão mostrou-se um criador de casos em toda a sua carreira política. Nos quatro anos de governo, brigou com as vacinas, com a China e com as urnas eletrônicas, para citar apenas três exemplos. Já Lula, que se define como uma "metamorfose ambulante", fez sua campanha prometendo uma pacificação política e entrou no Planalto brigando com o presidente do Banco Central e vendo uma "armação" do senador Sergio Moro numa investigação da Polícia Federal.

Lula foi eleito por um arco de forças que defendiam a democracia. Quem acha que esse é um simples palavrório deve se lembrar da tarde de 8 de janeiro em Brasília. O arco democrático é algo diferente da frente de partidos que apoiou Lula. No primeiro estão pessoas como o ex-ministro Pedro Malan. No segundo está a força do Partido dos Trabalhadores. Bolsonaro e os golpistas juntaram esses dois blocos, mas, desde que chegou ao governo, Lula pouco fez para manter o arco. Pelo andar da carruagem, pouco fará.

Bolsonaro foi alimentado pelo sentimento antipetista e foi batido pela sua agressividade irracional e errática. Regressando, ele quer liderar a direita que tirou do armário, mobilizou e acabou por avacalhar. Pode ser que ele sonhe ser um novo Carlos Lacerda, que o francês Charles De Gaulle chamou de "demolidor" de presidentes. Lacerda foi um grande governador da cidade do Rio de Janeiro. Falta ao ex-capitão um legado semelhante.

Bolsonaro volta menor, até porque o conservadorismo nacional já dispõe de dois quadros racionais: os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Minas Gerais, Romeu Zema. O ex-presidente, contudo, precisa voltar a se alimentar com o antipetismo. Já se abasteceu nele, com sucesso. Precisa da colaboração do PT, e daquilo que se supõe ser a esquerda, para voltar a crescer.

Num cenário no qual Lula 3.0 e Bolsonaro compartilhem a cena abundam os maus presságios. São trazidos pelas características de dois personagens atraídos pela onipotência. A do ex-capitão está no seu DNA. A de Lula é recente e, de certa forma, pontual. Por mais que se entendam as razões da malquerença de Lula por Sergio Moro, a sua elevação à categoria de ideia fixa é inútil e derrogatória para um presidente. As caneladas de Lula em Michel Temer mostram sua disposição de estreitar o arco de forças que se comprometeram com a democracia. O ex-presidente manteve-se neutro na disputa, defendendo seu governo, a democracia e a Constituição. Atacá-lo foi no mínimo uma inutilidade.

Os maus presságios cristalizam-se no risco de um debate de polarizações irracionais. O Brasil já foi governado por um presidente que hostilizava a vacinação durante uma epidemia. Depois da derrota, Bolsonaro disse que teria feito melhor se deixasse a Covid por conta do seu ministro da Saúde. Pedir desculpas a Luiz Henrique Mandetta e a Nelson Teich? Nem pensar.

 

5 comentários:

Fernando Carvalho disse...

O boçal tem um lado tétrico que Elio Gaspari não enxerga. É o lado necrófilo (só a etimologia). O lado que tem a ver com a especialização dele em matar. A que envolve um tal de canto da praia. Com o seguidor dele que quis explodir 60 mil litros de querosene de avião perto do aeroporto de Brasília. Teve um caso de um homem preso pela Polícia Federal armado com um fuzil de longo alcance. Provavelmente o alvo seria a cabeça de Lula. E o que se espera é que tal tipo seja preso ou na pior hipótese seja considerado inelegível.

Anônimo disse...

Vamos ver se o PatoManco terá algo a grasnar além do pedido de segurança, segurança, ou se será, mais uma vez, apenas o 'manequim de monta' do Bozo

Anônimo disse...

GOVERNADOR DA GUANABARA?
GOVERNADOR DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO?
QUÁ, QUÁ, QUÁ

Anônimo disse...

Perfeito!

ADEMAR AMANCIO disse...

É...