quarta-feira, 29 de março de 2023

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Massacres em escolas estão ligados às redes sociais

O Globo

Polícia precisa monitorar as comunidades que cultuam violência para frustrá-los no nascedouro

Assassinatos e ataques violentos de adolescentes em escolas, quase corriqueiros nos Estados Unidos, têm se tornado frequentes também no Brasil. Desde 2002, houve 40 mortos em 22 ações violentas em estabelecimentos de ensino, de acordo com nota técnica da USP. Das 22, metade ocorreu desde fevereiro de 2022. Outro levantamento, da Unicamp, constatou 35 mortes e nove dos 22 ataques desde julho de 2022. O motivo para a alta fica fica claro quando se analisa a morte brutal da professora Elisabeth Tenreiro, 71 anos, por um adolescente de 13 numa escola estadual paulistana.

“Irá acontecer hoje”, anunciou o jovem numa rede social. Horas depois, entrou numa sala de aula usando máscara e luvas, esfaqueou três professoras e dois alunos. Em seu celular, o adolescente colecionava vídeos de massacres e fazia questão de mostrá-los aos colegas. A presença em comunidades da internet que cultuam discursos de ódio e violência ensejava diálogos estarrecedores. Num perfil fechado de rede social, o ataque à escola era anunciado desde domingo, recebendo apoio de outros usuários que o encorajavam.

Um deles se apresentava como “mentor” e dizia estar orgulhoso. Ao anunciar o atentado, o adolescente dizia ter esperado pelo momento “a vida inteira” e pedia que lhe desejassem “boa sorte”. Seu codinome nas redes fazia referência a um dos autores do massacre de Suzano, que deixou dez mortos numa escola em 2019. O planejamento e a divulgação das barbaridades nas redes sociais são a forma como os autores tentam alcançar celebridade.

Escoradas no dispositivo legal que as exime de qualquer responsabilidade pelo conteúdo que veiculam, as plataformas digitais nada fazem para controlar esse tipo de conspiração para cometer massacres. Futuros assassinos circulam livremente por comunidades vinculadas à extrema direita ou às ideologias mais insólitas. É fundamental que a polícia monitore nas redes os passos desses jovens, especialmente nas comunidades que glorificam violência. Eles sempre deixam rastros e — como ocorreu — anunciam o que farão.

Além do aviso nas redes, outros sinais poderiam ter servido de alerta. O agressor havia se envolvido numa briga com outro aluno na semana anterior, e a professora Elisabeth apartou a contenda. Ele fora transferido havia menos de um mês por problemas de comportamento. Os motivos estavam documentados num boletim de ocorrência por uma funcionária da outra escola onde estudara. Segundo o relato, o aluno vinha postando nas redes sociais vídeos em que portava armas de fogo e simulava ataques violentos.

Não basta decretar luto oficial, indignar-se e abrir investigações para apurar a tragédia consumada. É preciso se antecipar. Nesse aspecto, as autoridades brasileiras se mostram despreparadas, e as redes sociais continuam a fingir que não é com elas. A morte trágica de Elisabeth é só mais um exemplo de por que é fundamental mudar a lei que as isenta de responsabilidade quando são usadas para atos criminosos.

É fundamental a polícia monitorar as redes para frustrar ataques no nascedouro. Quanto antes agir, maior a chance de preservar vidas. Nos Estados Unidos, que vivem dramas assim há anos, um homem armado de fuzis e pistolas matou três crianças e três adultos numa escola de Nashville no mesmo dia do ataque em São Paulo. Não dá para aceitar que esse tipo de horror se torne tão comum aqui quanto é lá.

Recuo de Bibi oferece uma nova chance à democracia israelense

O Globo

Diante de protestos inéditos, ele adiou votação da reforma do Judiciário. Mas risco de retrocesso não está afastado

A democracia israelense — exceção entre as ditaduras no Oriente Médio — obteve uma vitória parcial quando, pressionado por protestos e greves inéditos, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (conhecido como Bibi) anunciou o adiamento da votação de uma reforma que, se aprovada, acabaria com a independência do Judiciário. A expectativa agora é as principais forças políticas negociarem um acordo para pacificar as ruas e livrar Israel de entrar na lista de países onde a democracia sofre corrosão.

É certo que o sistema judicial israelense padece de limitações, derivadas de fragilidades intrínsecas à arquitetura institucional do país. Na fundação, a forma encontrada para conciliar o regime democrático e a essência judaica do Estado de Israel foi não dotá-lo de Constituição formal, mas estabelecer princípios na Declaração de Independência, detalhados em “leis básicas” aprovadas pelo Knesset, o Parlamento.

Com o poder absoluto de interpretá-las, a Suprema Corte é com frequência acusada de ativismo. Ao mesmo tempo, num país onde o Parlamento é unicameral e onde o presidente não tem poder de veto, o Judiciário é o único freio e único contrapeso a Executivo e Legislativo (na prática um só Poder). Decisões judiciais garantem direitos e liberdades civis e impedem o avanço da agenda religiosa sobre o Estado.

A proposta de Bibi, e dos partidos religiosos e da extrema direita que formam sua coalizão, tornaria o Judiciário refém do Parlamento. Pelo que passou na primeira votação, em fevereiro, a Suprema Corte perderia o poder de decretar a inconstitucionalidade de leis aprovadas no Knesset, e o governo teria mais poder na indicação de juízes.

O objetivo de Bibi não é resolver os dilemas institucionais que afligem Israel desde a fundação. Sua motivação é menos nobre. Ele é alvo de dois processos por corrupção que poderiam levá-lo para trás das grades. Ao enfraquecer a Suprema Corte, quer escapar. Os partidos religiosos e da extrema direita aproveitaram a oportunidade para tentar reduzir o poder dos tribunais.

Nunca se viu em Israel tamanha oposição popular (20% da população foi às ruas ao mesmo tempo). Contra a reforma, Bibi uniu sindicatos, investidores, empresários, Forças Armadas e até países aliados, como Estados Unidos. Os protestos chegaram ao ápice após ele demitir o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que declarara ver risco para a segurança nacional na proposta. Na segunda-feira, a greve paralisou o aeroporto de Tel Aviv e embaixadas no exterior, forçando o recuo de Bibi.

Primeiro-ministro mais longevo em Israel, ele está na terceira encarnação no poder. Sobrevive graças à retórica divisiva, apresentando-se como ponto de equilíbrio capaz de conciliar interesses e ideologias opostos. Para voltar ao cargo, insuflou a extrema direita, que se tornou a segunda força em seu governo. Agora, só salvará a democracia israelense se negociar com a oposição, como quer o presidente, Isaac Herzog. A alternativa é Israel, a exemplo de Hungria, Polônia ou Venezuela, se tornar mais um país que sabotou a própria democracia manietando o Judiciário.

Na ponta do lápis

Folha de S. Paulo

Governo estima déficit menor em 2023, mas solidez do ajuste ainda será testada

Em atendimento à Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo publica a cada dois meses uma reestimativa das receitas e despesas esperadas no ano, como meio de avaliar a evolução da situação orçamentária.

Trata-se de instrumento importante de transparência e controle das contas públicas.

A partir de tais relatórios bimestrais, a política fiscal é recalibrada. Quando se acredita que a arrecadação ficará abaixo do previsto anteriormente, por exemplo, pode ser necessário reduzir gastos. Em outros momentos, conclui-se que há margem para a ampliação de programas e investimentos.

Essa procedimento louvável nem sempre é executado do modo mais adequado, porém. Já houve casos, que atingiram o paroxismo sob Dilma Rousseff (PT), de projeções irrealistas, em geral para esconder números desfavoráveis ou adiar cortes orçamentários indigestos.

Não se vê nada tão grave na primeira avaliação de receitas e despesas deste 2023, que prevê queda substancial do déficit primário (excluindo encargos da dívida pública). Ainda assim, os dados suscitam algumas dúvidas —especialmente diante da incerteza que ronda a agenda econômica de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Calcula-se que o déficit do ano será de ainda exorbitantes R$ 107,6 bilhões, ante R$ 228,1 bilhões na lei orçamentária aprovada pelo Congresso. Muito da melhora se deve a providências corretas tomadas pelo governo, e a conta final não diverge em demasia dos R$ 125 bilhões estimados pela Instituição Fiscal Independente, ligada ao Senado.

Nota-se, porém, que o vaticínio oficial se ampara mais na alta da receita esperada do que no controle da despesa. A arrecadação foi prevista com base em um crescimento de 1,6% do PIB, enquanto as projeções de mercado rondam 0,9%.

Não se considerou, ademais, o gasto de R$ 4,5 bilhões com o aumento do salário mínimo a partir de maio, e foi contabilizado ganho de R$ 26 bilhões decorrente de recursos do PIS/Pasep não sacados por trabalhadores —recurso que o Banco Central, responsável pela apuração definitiva do déficit público, não pretende levar em conta.

São questões pontuais, mas que merecem atenção. Ainda mais porque as conclusões do relatório foram usadas pelo ministro Fernando Haddad, da Fazenda, para pressionar o BC a reduzir os juros.

O compromisso de Lula com o equilíbrio orçamentário, do qual depende a queda das taxas, ainda está por ser testado. Mais do que previsões e medidas para este ano, aliás, importa a regra fiscal para a eliminação do déficit a longo prazo.

A credibilidade da política econômica precisa ser construída com objetivos realistas e, sobretudo, com a disposição de cumpri-los.

700 mil

Folha de S. Paulo

País atinge trágica marca de óbitos na pandemia, que ainda exige ação do Estado

O Brasil bateu a funesta marca oficial de 700 mil mortes por Covid-19, mas o número real é ainda maior. Estudo da UFMG estima que a subnotificação em 2020 foi de pelo menos 18%. Métodos indiretos de contagem, como o excesso de mortalidade, elevam ainda mais as cifras.

A boa notícia é que o pior da pandemia já passou. A má é que ela ainda não acabou, com cerca de 300 óbitos por semana. Um contraste notável com os 4.000 óbitos por dia registrados nos piores momentos, mas suficiente para assegurar que o doença ainda permaneça como causa de morte relevante no país.

O principal motivo para o arrefecimento da crise sanitária foram as vacinas, que devem ser celebradas como um triunfo do engenho humano. Desenvolvidas em tempo recorde, funcionaram surpreendentemente bem e mudaram o perfil de contaminação.

No início, viam-se pacientes jovens e saudáveis com quadros pulmonares gravíssimos, invariavelmente precisando de suporte ventilatório (intubação). Agora, os óbitos estão mais concentrados em grupos específicos, como idosos com comorbidades que acabam perecendo devido a doenças preexistentes exacerbadas pela Covid-19.

É possível também que o vírus tenha evoluído para formas menos letais. A ômicron e suas subvariantes, hoje dominantes no mundo, não seriam tão mortais quanto a delta ou a cepa original —um debate aberto entre virologistas.

De todo modo, ainda há tarefas para autoridades sanitárias. A mais urgente é reforçar a vacinação em grupos vulneráveis (idosos e imunocomprometidos) ou que apresentam baixa cobertura (crianças com menos de cinco anos).

Também seria importante disseminar o uso de terapias antivirais, como o Paxlovid, para pacientes com maior risco de agravamento da Covid-19 —elas são capazes de reduzir o risco de morte, mas precisam ser iniciadas de forma relativamente precoce.

Deve-se ainda prestar assistência aos muitos pacientes que desenvolveram a chamada Covid longa, que inclui sintomas bastante debilitantes, ou que passaram a conviver com transtornos mentais, notadamente os de ansiedade.

Resolver sequelas que a epidemia deixou sobre o SUS também é necessário, como a queda no número de transplantes e o aumento da mortalidade materna. Ambos parecem estar associados ao estresse por que o sistema passou e do qual ainda não se recuperou.

‘Serenidade e paciência’ do BC

O Estado de S. Paulo.

Sob forte ataque do governo Lula, que tudo faz para qualificá-lo como agente político de oposição, o Banco Central explicou didaticamente por que os juros devem ficar onde estão

A divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) era o evento econômico mais esperado da semana. A decisão que manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, na semana passada, não surpreendeu ninguém, e a publicação da ata da reunião, em condições normais, seria algo corriqueiro no calendário financeiro. Mas o comunicado divulgado logo após a reunião, especialmente o trecho em que o BC afirmou que não hesitaria em elevar a Selic caso fosse necessário, foi recebido como uma declaração de guerra pelo governo Lula da Silva.

De forma coordenada, diversos ministros vieram a público cobrar uma retratação, por meio da ata, por parte do BC. Até mesmo a ministra do Planejamento, Simone Tebet, considerou o tom do documento equivocado e disse que os membros do colegiado teriam “esticado a corda”. Frustrando quem esperava ver na ata um novo capítulo dessa novela, o BC respondeu a essas críticas da melhor forma possível. Tecnicamente impecável, o documento trouxe muitos argumentos para justificar a manutenção da taxa básica de juros e foi de um raro didatismo que poderia ser muito bem aproveitado pelo governo neste momento de tantas incertezas.

A ata descreveu em detalhes a deterioração do cenário externo. Além da inflação global elevada e do mercado de trabalho aquecido, Estados Unidos e Europa têm agora o desafio de lidar com os efeitos de uma crise bancária que traz ainda mais volatilidade. Mesmo nesses países, os bancos centrais têm reforçado a austeridade, o que traz consequências à política monetária conduzida por países emergentes.

Internamente, há muitos indícios de desaceleração da economia, mas a inflação ao consumidor continua muito elevada. Esse comportamento, explicou o Banco Central, já era esperado. Se o primeiro estágio da dinâmica da desinflação afeta os preços administrados e os livres e costuma ser mais rápido e intenso, o segundo é bem mais lento, pois envolve a tendência geral dos preços e desconsidera distúrbios resultantes de choques temporários.

Parece bastante evidente que é nessa etapa que o País se encontra hoje. Depois de afetar os bens duráveis, a inflação se deslocou para o setor de serviços e tem demonstrado resiliência, o que reforça a importância de conter a demanda – e, consequentemente, a atividade econômica. “Tal processo demanda serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas”, disse a ata.

Os recados do BC reforçaram a importância das contribuições do governo nesse processo desinflacionário, especialmente no que diz respeito às expectativas. O BC reconheceu a importância da reoneração dos combustíveis e das estatísticas fiscais divulgadas pelo Ministério da Fazenda, mas frisou que não basta apenas apresentar uma nova âncora para alterar essas projeções.

Mudanças nas expectativas de inflação, nas projeções da dívida e nos preços dos ativos não são “mecânicas”, mas dependem fundamentalmente da percepção sobre a solidez e a credibilidade deste arcabouço. O mecanismo que substituirá o teto de gastos ainda precisa passar pelo primeiro teste – não foi nem apresentado, mas já tem sido boicotado por alguns ministros e por lideranças do PT.

A isso, somam-se as críticas de Lula ao regime de metas de inflação. Nem o fato de o Conselho Monetário Nacional (CMN) ter mantido as metas inalteradas até 2025 foi capaz de impedir uma desancoragem ainda mais acentuada das expectativas. A conclusão que a ata deixa implícita parece bastante lógica. Quando o presidente da República não acredita na importância da política fiscal, não é preciso mudar as metas para perceber a falta de disposição do governo em contribuir para atingi-las.

Da mesma forma, se o governo não consegue se unir em defesa do novo arcabouço, não há motivo para acreditar que ele será respeitado. Assim, resta ao BC batalhar sozinho contra a inflação, o que requer uma política monetária bem mais austera e uma dose de serenidade e paciência com quem se recusa a cumprir seu papel.

Lula e seu ‘portal da verdade’

O Estado de S. Paulo.

Com o ‘Brasil contra Fake’, governo pretende arbitrar o que é verdade ou mentira no debate público; a julgar pela tradição lulopetista de desinformação, será a fabulação de sempre

O governo Lula da Silva avocou para si, agora oficialmente, a tarefa de arbitrar o que é verdade ou mentira no debate público. No domingo passado, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) lançou o Brasil Contra Fake, um portal online que reúne respostas para o que a Secom chama de “principais fake news envolvendo o governo federal”. Não se trata de outra coisa senão mais uma manifestação do velho cacoete autoritário dos governos lulopetistas.

Se, de fato, está preocupado com a qualidade do debate público, o governo muito ajudará a melhorá-lo se não mentir nem distorcer a realidade factual para os cidadãos. Por mais singelo que pareça, de sua parte, basta apenas isso. A menos que a motivação recôndita para esse programa seja revelar à sociedade só a “verdade” que o Palácio do Planalto quer ver revelada. Ou, ainda, definir como “fake news” informações que, embora irrefutáveis, sejam constrangedoras para a atual administração. Não se pode desconsiderar também que o Brasil Contra Fake pode se descortinar como uma tentativa de desqualificar eventuais críticas ao governo formuladas por jornalistas profissionais ou por adversários políticos.

Governos genuinamente comprometidos com a democracia e com a higidez do debate público não se veem em posição de reivindicar o monopólio absoluto da verdade, menos ainda lançando mão de canais oficiais de comunicação para isso. A sociedade civil tem como se proteger das mentiras que circulam na esfera pública por meio do jornalismo profissional, das universidades e de outras instâncias independentes de guarda da verdade factual.

Já seria temerário que qualquer governo, fosse qual fosse sua orientação política, tomasse para si a atribuição de definir o que é verdade ou mentira entre a miríade de informações que circulam no ambiente digital. Afinal, não cabe ao Estado determinar o que são “fake news”. O quadro é ainda mais perigoso quando é um governo como o de Lula da Silva, logo quem, que se arvora em guardião da “verdade”.

Ao lançar o Brasil Contra Fake, Lula afirmou que “o Brasil sofreu muito com mentiras nas redes sociais nos últimos anos”, de modo que o governo precisa “fortalecer uma rede da verdade”. Obviamente, o presidente só não disse que ele e outros próceres do PT foram os artífices de uma máquina de torturar fatos e destruir reputações nas redes sociais que, poucos anos depois, seria levada ao estado da arte pelo bolsonarismo, provocando danos ao País em uma escala ainda por ser devidamente mensurada. É o velho Lula de sempre, dobrando a aposta na falta de memória de ampla parcela dos cidadãos.

É claro que todo esse esforço governamental para construção do que Lula chamou de “rede da verdade” vem revestido das melhores intenções – aquelas das quais o inferno está cheio.

Um programa de combate à desinformação patrocinado pelo atual governo não inspira a mínima confiança. Uma iniciativa como o Brasil Contra Fake só não é inacreditável porque os petistas são conhecidos, entre outras coisas, por suas fabulações. Basta dizer que, apenas 72 horas antes de lançar essa espécie de “portal da verdade”, Lula afirmou, sem apresentar provas, que a bem-sucedida operação do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Federal que impediu que o Primeiro Comando da Capital (PCC) praticasse uma série de atentados contra autoridades não passava de uma “armação do (ex-juiz e senador Sérgio) Moro”.

Evidência cabal de que o Brasil Contra Fake não está nem aí para o debate público nem para a verdade factual é o fato de que uma deslavada mentira como essa, por óbvio, não haverá de ser reparada no portal. Decerto também não o será a tese estapafúrdia defendida por Lula segundo a qual a Operação Lava Jato seria fruto de um conluio entre autoridades brasileiras e americanas para usurpar as riquezas do País.

Como confiar no juízo dessa patota que já demonstrou não ter quaisquer escrúpulos éticos nem tampouco apreço pela verdade factual quando esta conflita diretamente com seus interesses?

A ética não é só para os outros

O Estado de S. Paulo.

Pretensão de Bolsonaro de embolsar presentes caros revela compreensão distorcida da função pública

Não é questão de condenar por antecipação nem de julgar sem provas. Mas o que foi revelado até o momento é suficiente para afirmar: Jair Bolsonaro achou que o exercício da Presidência da República dava ensejo para ele deixar o Palácio do Planalto com mais bens do que quando ele lá chegou. Até agora, foram revelados três lotes de presentes caríssimos que ele pretendia incorporar ao seu patrimônio pessoal. Os casos exigem investigação cuidadosa. Há presentes de valores vultosos, que destoam das práticas habituais da cortesia diplomática, o que pode eventualmente representar algum tipo de contrapartida, com implicações penais ainda mais graves.

Avaliado em cerca de R$ 16,5 milhões, o primeiro lote de joias de ouro e diamantes foi barrado pela Receita Federal quando entrava no País na mala de um assessor, sem qualquer tipo de declaração. O caso foi revelado pelo Estadão, que mostrou o empenho de Jair Bolsonaro, até o final do mandato, para tentar liberar e, aparentemente, ficar com esses bens.

O segundo lote de presentes, com joias e armas avaliadas em cerca de R$ 500 mil, foi integrado ao acervo pessoal de Jair Bolsonaro. No entanto, depois de o caso vir à tona, a Justiça determinou a devolução dos bens. No dia 24 de março, a defesa de Bolsonaro entregou essas joias e armas dadas por autoridades sauditas em uma viagem oficial.

Agora, o Estadão revelou a existência de um terceiro pacote de joias dadas ao presidente da República pelo regime da Arábia Saudita em outubro de 2019. Num primeiro momento, os presentes ficaram no acervo privado do presidente da República. No entanto, em junho de 2022, Bolsonaro solicitou que as joias fossem encaminhadas ao seu gabinete, ficando sob sua guarda. Estima-se que o lote valha, no mínimo, cerca de R$ 500 mil.

Tal como dispõe o Decreto 4.344/2002, todos os presentes recebidos pelo presidente da República em cerimônias de troca de presentes, audiências com chefes de Estado e de governo, visitas oficiais ou viagens ao exterior devem ser incorporados ao patrimônio da União, com exceção dos itens de natureza personalíssima (medalhas personalizadas e grã-colar) ou de consumo direto (bonés, camisetas, gravata, chinelo, perfumes, entre outros). Em julgamento de 2016, corroborando os termos do Decreto, o Tribunal de Contas da União (TCU) classificou como grave irregularidade a incorporação de presentes recebidos em função do cargo ao acervo pessoal do presidente da República.

A moralidade pública não pode ser um slogan que se exige apenas do lado contrário. A lei tem de ser cumprida e os indícios, investigados até o fim, até porque a devolução das joias por si só não modifica eventual tipificação penal de corrupção.

A coisa pública merece muito mais respeito. Mesmo que seja “apenas” incorporação indevida, o que ainda não foi comprovado, é um escândalo alguém achar que pode levar para casa presentes de R$ 500 mil recebidos no exercício de uma função pública. Tem algo de muitíssimo errado quando cargo público se torna ocasião de enriquecimento pessoal.

BC ainda não vê motivos para reduzir os juros

Valor Econômico

O novo regime fiscal, se bem desenhado, pode mudar a curto prazo a chave do aperto monetário, o que ainda não está nas cogitações do BC

O governo de Lula pode continuar com seu discurso agressivo contra a política monetária do Banco Central, destinado a uma batalha inócua. Apesar de considerarem duros os dois últimos comunicados e atas do Copom, e encará-los como uma afronta, o fato é que desde setembro, ininterruptamente, todos esses documentos indicam que o Comitê “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. A repetição da frase na primeira reunião do ano, sob novo governo, pode ter soado como uma agressão inesperada, mas foi apenas a continuidade esperada da política de aperto monetário.

Pelo conteúdo, a ata aponta que as expectativas de inflação pioraram e que a desinflação será agora mais lenta do que no início do ciclo de aumento dos juros. Não há diferença de grau em relação à ata anterior. Em termos de forma, ela até faz mesuras para o governo, sem deixar de apontar que políticas fiscais expansionistas obviamente são contraditórias com políticas monetárias contracionistas, pioram as expectativas e tornam mais custosa a queda da inflação.

No entanto, o BC preferiu desta vez salientar o lado positivo de um regime fiscal sólido e crível, em vez de ressaltar todos os efeitos negativos caso isso não ocorresse, como fizera. É a mesma coisa, mas escrita com prudência para não melindrar nervos sensíveis da administração petista. Não adiantou de todo. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esbravejou: “O Brasil que se dane, segundo o Copom”, escreveu no Twitter. “E ainda fazem chantagem sobre regra fiscal”.

A ata ressalta que tanto no cenário de referência, feita com os números contidos no boletim Focus, quanto no alternativo, de manutenção da taxa de 13,75% pelo período relevante, as projeções de inflação se elevaram em 2023 e 2024. No primeiro caso, foram de 5,6% e 3,4% para 5,8% e 3,6%. No segundo, de 5,5% e 3,1% para 5,7% e 3,3%. Dessa forma, a inflação projetada para o ano que vem começa a se desgarrar, ainda que suavemente, do centro da meta.

O balanço de riscos não se alterou muito. Entre os fatores que podem pressionar para cima a inflação saiu o hiato do produto mais fechado que o esperado e entrou a “desancoragem maior, ou mais duradoura” das expectativas de inflação. Entre os que poderiam reduzir a inflação além do esperado, deixou de ser mencionada a manutenção dos cortes de impostos e passou a contar uma desaceleração do crédito “maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária”.

O balanço de riscos segue equilibrado, mesmo com o BC apontando que o cenário externo se deteriorou e que o impacto dos problemas de alguns bancos nos EUA e Europa sobre o crescimento e condições financeiras são “incertos, porém têm viés negativo”. Esses pontos se alinham com o de que “ a sinalização majoritária entre as autoridades monetárias é de um período prolongado de juros elevados”. O BC pareceu dar menor peso à decisão do Banco Central Europeu e do Federal Reserve de indicarem que o ciclo de aperto pode estar chegando ao fim. Como a decisão do Fed ocorreu no mesmo dia da reunião do Copom, este dado pode não ter sido considerado.

A principal discussão sobre o balanço de riscos, porém, foi entre “ uma maior desancoragem das expectativas de inflação para prazos mais longos” e, de outro lado, uma “redução mais abrupta da concessão de crédito doméstica ou global impactando a atividade econômica”. Alguns membros do BC apontaram que, ao contrário da redução esperada pelo aperto monetário, ela foi mais intensa no período recente, “ainda que focalizada em mercados específicos”.

O BC, por outro lado, acrescentou o desenho de dois movimentos na queda de inflação, deixando claro - o diagnóstico do governo é outro - que o que impulsiona os preços é o “excesso de demanda”. Indicou mais uma vez que a harmonia entre políticas fiscal e monetária reduzirá as incertezas e acelerará a desinflação e que, para isso “a concessão de crédito, público e privado” tem de se manter com “taxas competitivas e sensíveis à taxa básica de juros” - uma sugestão aos que pensam em reviver subsídios.

O compromisso com a execução de um pacote fiscal e a reoneração dos combustíveis atenuou os estímulos de demanda, segundo a ata, e reduziu “o risco de alta da inflação no curto prazo”. O novo regime fiscal, se bem desenhado, pode mudar a curto prazo a chave do aperto monetário, o que ainda não está nas cogitações do BC

3 comentários:

Anônimo disse...

A imprensa livre é contra as fakes news, mas na hora de escrever suas opiniões age como tal. Afinal, a imprensa quer informações coibir as fakes news para ela ser detentora hegemônica delas? Os editorais do estadão são uma defesa tão ridícula de um ponto de vista político que fico pensando se a desfaçatez com que ela passa o pano para o Bob Fields e sua leitura contra a tal arbitrariedade da tentativa de gerar algum tipo de controle minimo as fakes news, sem por exemplo citar Barroso sobre essa terra de ninguém e dos economistas renomados que não compreendem como o brasil pode ter uma taxa de juros tão alta são simplesmente esquecidos. Ou seja, o contraditório é esquecido. E a própria imprensa que é uma concessão pública que deveria ser um órgão que zelaria pela expansão da discussão em seus diversos atores, apresenta seu ponto de vista como sendo uma verdade indubitável, por que ela é a expressão...

Anônimo disse...

1. COM UM SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO COMO ESSE DE SP, O ASSUNTO IRA 'FEDER' MESMO

2. BIBI NÃO PASSA DE UM VOZHD CORRUPTO JUDEU

Anônimo disse...

O terrorista americano é um homem TRANS. Por que a palavra TRANS não foi mencionada no editorial?