Valor Econômico
Wellington Dias deve apresentar a Lula da
Silva detalhes de um programa de fomento ao empreendedorismo, com foco nos
inscritos no Cadastro Único
Colocado na berlinda por alas do governo
que ofereceram o comando do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social
(MDS), gestor do Bolsa Família, ao grupo político do presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), conforme revelou o Valor, o titular da pasta,
Wellington Dias (PT), segue alheio ao fogo amigo e com o pé no acelerador.
Nos próximos dias, ele deve se reunir com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar os detalhes de um programa
de fomento ao empreendedorismo, com foco nas dezenas de milhões de inscritos no
Cadastro Único, que está sendo alinhavado pelos técnicos do MDS.
Nos próximos dias, o ministro também deve anunciar o número de pessoas e de famílias que saíram da linha da pobreza desde o início do governo, a partir do cruzamento de dados do MDS e da Caixa Econômica Federal.
Alertado de que parcela expressiva dos
brasileiros de baixa renda sonhava mais com o próprio negócio do que com a
carteira assinada, Lula passou a exaltar o empreendedorismo na campanha
eleitoral.
Uma das pessoas que alertou o petista sobre
a mudança de cenário foi o presidente e fundador da XP Investimentos, Guilherme
Benchimol. Em abril do ano passado, Benchimol ponderou ao então candidato que
76% dos moradores de favelas e comunidades de baixa renda têm, tiveram ou
pretendem ter uma micro ou pequena empresa.
Pesquisa do Data Favela, Instituto
Locomotiva e Central Única das Favelas (Cufa) de 2022 mostrou que 35% dos
moradores dessas comunidades sonham com o próprio negócio, enquanto somente 10%
querem arrumar um emprego, e 9% falam em ter uma profissão, com diploma de
curso superior.
O programa de estímulo ao empreendedorismo
do MDS mira a criação de um fundo garantidor social, que dará suporte aos
microempreendedores individuais (MEI) e aos inscritos no Cadastro Único que
desejam abrir o próprio negócio, mas não têm avalista nem bens para dar em
garantia.
Já existe um diálogo avançado entre o MDS,
o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e o Banco da Amazônia (Basa) para que um
fundo dessa natureza alcance centenas de mulheres que se dedicam à plantação e
produção de guaraná na região. Uma parceria com a Coca-Cola Brasil daria
garantia da compra direta do insumo para a fabricação do refrigerante.
Enquanto o fundo garantidor não sai do
papel, Dias tem percorrido o país para assinar parcerias com a iniciativa
privada voltadas à inclusão sócio-econômica dos 94 milhões de inscritos no
Cadastro Único do ministério.
A meta de Wellington Dias é encaminhar 1
milhão de inscritos no cadastro para vagas de trabalho com carteira assinada ou
projetos de empreendedorismo. O ministro faz uma conta: se cumprir o objetivo,
vai gerar economia aos cofres públicos com o programa de R$ 8,4 bilhões ao ano,
e R$ 32 bilhões até 2026.
Na sexta-feira, Dias firmou acordo de
contratação pela Coca-Cola, na fábrica em Jundiaí (SP), de inscritos no
Cadastro Único. Há potencial de 600 vagas até o fim do ano.
O primeiro acordo dessa natureza foi
firmado em março com o Grupo Carrefour Brasil, que pretende contemplar
inscritos no Cadastro Único com até 7 mil vagas em todo o país.
Pelo modelo do acordo de cooperação técnica
firmado pelo ministério com as empresas, as prefeituras - que administram os
cadastros do Bolsa Família nos municípios - encaminham uma lista de inscritos
aos potenciais empregadores. Os selecionados são encaminhados para programas de
capacitação, e se efetivados, terão a carteira assinada. O beneficiário que
melhorar de renda pode continuar no programa por até dois anos, recebendo 50%
do valor do benefício.
Embora o MDS tenha sido oferecido ao
Centrão, na realidade, não há previsão de que Lula afaste Wellington Dias, seu
aliado de décadas, da função. Não há mais trocas ministeriais no horizonte,
além da nomeação do deputado Celso Sabino (PA) para o lugar de Daniela Carneiro
(RJ), ambos do União Brasil, no comando do Ministério do Turismo.
A posse de Sabino está prevista para a
próxima semana, porque o futuro ministro aguarda o retorno da esposa, Erika
Sabino, que está em Portugal.
Circula nos gabinetes palacianos, entretanto,
que Lula não poderá se furtar a promover uma reforma ministerial ampla no ano
que vem, porque terá que acomodar as forças políticas que o apoiam à conjuntura
das eleições municipais.
Lula continua sob pressão para abrir espaço
no primeiro escalão ao grupo político de Arthur Lira. Aliados do alagoano
convenceram emissários do presidente de que ao invés de contemplar, no varejo,
quadros do PP, Republicanos e PL não bolsonarista com vagas no segundo escalão,
a melhor estratégia seria agraciar o bloco com um ministério de porteira
fechada.
A expectativa entre auxiliares de Lula,
entretanto, é que sob o bombardeio de novas denúncias, que alçaram a
investigação contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF), dilua-se, aos
poucos, o poder de fogo de Lira, e com isso, o estoque de munição para fazer
cobranças ao governo.
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