Folha de S. Paulo
Ao revelar o que realmente pensa sobre
déficit, Lula passou rasteira em Haddad
Lula afirmou
que o déficit
fiscal de 2024 não precisa ser zero e, ao dizer isso
casualmente, acabou passando uma bela rasteira em Fernando
Haddad, seu ministro da Fazenda. Pouca gente acredita em déficit
zero, de modo que é possível dizer que Lula foi apenas honesto. Presidentes
devem sempre dizer a verdade?
Acho que existem profissões que estão comprometidas com a honestidade. Penso que um médico, por exemplo, jamais pode mentir para o paciente competente que o questiona diretamente sobre seu estado de saúde. Fazê-lo, aliás, seria inútil, já que o paciente pode sempre requisitar seu prontuário e descobrir o que o médico desejava esconder. Mas o caso de presidentes é diferente.
Existem até situações em que o chefe de
Estado é obrigado a mentir. Imagine que o governo prepara um plano econômico
que inclui o congelamento de preços. Imagine também que um repórter pergunta ao
presidente se haverá congelamento. Se o mandatário disser a verdade ou tentar
sair pela tangente, ele estraga o plano, daí que negar o congelamento é um
imperativo.
Acredito, porém, que esses sejam casos raros.
Situações mais frequentes são aquelas em que o presidente tem o dever da
omissão, isto é, de esconder o que ele realmente pensa, a fim de preservar
espaços para a negociação política ou para não criar embaraços futuros.
Diplomatas e policiais são outras categorias profissionais que precisam saber
manter a boca fechada, mesmo que isso implique algum grau de ilusionismo e
manipulação.
Lula não é um presidente inexperiente, que
ainda está descobrindo o peso de suas palavras. Daí que há duas maneiras de
interpretar sua declaração sobre o déficit. Ou ele pisou feio na bola, o que
significa que está em pior forma do que se imaginava, ou quis mesmo passar um
recado para Haddad. A pergunta é: por quê? A revisão às pressas da
meta que ora se cogita parece mais uma operação de redução de danos.
Um comentário:
Verdade.
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