quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Hélio Schwartsman - Duelo pela vida

Folha de S. Paulo

Ala política do PT insiste na tese de que gasto público é vida, o que é um problema para Haddad

Mais uma vez, a ala política do PT investe contra o ministro da Fazenda de um governo do partido. A corrente que identifica gastos públicos com crescimento e vida, representada por Gleisi Hoffmann, se opõe à proposta de Fernando Haddad de equilibrar as contas em 2024. Defende que o governo se permita um déficit primário de até 2% do PIB. Quem tem razão?

Se, nas últimas décadas, o estatuto epistemológico da economia, entendido como a capacidade de desenvolver modelos que permitem previsões acuradas, avançou no campo da microeconomia, o mesmo não se deu na macro. Nela, coisas demais acontecem ao mesmo tempo, o que multiplica os fatores de confusão, estragando os modelos. O câmbio existe para humilhar os economistas, diz a velha piada.

Como política típica, Hoffmann não detalhou o que tem em mente. Ainda assim, é fácil ver que a versão forte da hipótese de que gasto é vida está errada. Se não existissem limites à capacidade do Estado de gastar, não haveria países pobres. Qualquer nação com renda per capita menor que a de Luxemburgo (US$ 127 mil) estaria comendo mosca, pois bastaria o poder público "investir" mais para zerar a diferença.

O que o mundo real revela é que países que insistem em gastar além de suas receitas e não têm credibilidade para endividar-se a juros razoáveis, como Venezuela e Argentina, se convertem justamente em Venezuelas e Argentinas. A literatura também mostra, é verdade, casos de países que tiveram seus problemas agravados porque o governo relutou em gastar num momento em que deveria tê-lo feito. A economia é mais complicada que a física.

José Guimarães, também da ala política do PT, foi mais cândido. Disse que o déficit é necessário para a legenda ir bem nas eleições municipais em 2024. O problema dessa posição é que ela contraria uma das leis de ferro da política, que é jamais admitir que o objetivo último de suas ações é só vencer eleições.

 

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