Folha de S. Paulo
Ala política do PT insiste na tese de que
gasto público é vida, o que é um problema para Haddad
Mais uma vez, a ala política do PT investe contra o
ministro da Fazenda de um governo do partido. A corrente que
identifica gastos públicos com crescimento e vida, representada por Gleisi
Hoffmann, se opõe à proposta de Fernando
Haddad de equilibrar as contas em 2024. Defende que o governo se
permita um déficit primário de até 2% do PIB. Quem tem razão?
Se, nas últimas décadas, o estatuto
epistemológico da economia,
entendido como a capacidade de desenvolver modelos que permitem previsões
acuradas, avançou no campo da microeconomia, o mesmo não se deu na macro. Nela,
coisas demais acontecem ao mesmo tempo, o que multiplica os fatores de
confusão, estragando os modelos. O câmbio existe para humilhar os economistas,
diz a velha piada.
Como política típica, Hoffmann não detalhou o que tem em mente. Ainda assim, é fácil ver que a versão forte da hipótese de que gasto é vida está errada. Se não existissem limites à capacidade do Estado de gastar, não haveria países pobres. Qualquer nação com renda per capita menor que a de Luxemburgo (US$ 127 mil) estaria comendo mosca, pois bastaria o poder público "investir" mais para zerar a diferença.
O que o mundo real revela é que países que
insistem em gastar além de suas receitas e não têm credibilidade para
endividar-se a juros razoáveis, como Venezuela e Argentina,
se convertem justamente em Venezuelas e Argentinas. A literatura também mostra,
é verdade, casos de países que tiveram seus problemas agravados porque o
governo relutou em gastar num momento em que deveria tê-lo feito. A economia é
mais complicada que a física.
José
Guimarães, também da ala política do PT, foi mais cândido. Disse que
o déficit é necessário para a legenda ir bem nas eleições
municipais em 2024. O problema dessa posição é que ela contraria uma
das leis de ferro da política, que é jamais admitir que o objetivo último de
suas ações é só vencer eleições.
Um comentário:
Pois é.
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