Folha de S. Paulo
Governo Lula fez bem em rever benefício
concedido na gestão de Bolsonaro
Em 2022, Jair
Bolsonaro te fez ajudar a pagar o imposto de todos os líderes
religiosos do Brasil, inclusive de quem não é da sua igreja, inclusive se você
for ateu. Na semana passada, Lula livrou
você dessa obrigação.
Pouco antes da eleição de 2022, Bolsonaro
dispensou os líderes religiosos de pagar contribuição previdenciária.
Com medo de perder, Jair tentou comprar o apoio de líderes religiosos, na
esperança de que fizessem campanha para ele junto a seus fiéis.
Enquanto fazia isso, Jair também gastava uma fortuna em dinheiro público para tentar se reeleger. Isto é, aumentou o rombo que nós, brasileiros, precisamos cobrir com nossos impostos.
Faça a conta comigo: se a conta a ser
dividida aumentou, e os líderes religiosos foram dispensados de pagar, quem
sobrou vai ter que pagar mais.
Sempre que você ler no jornal "Governo
isentou X de pagar impostos", leia: "De agora em diante, todos nós
vamos ter que pagar os impostos que X pagava".
Afinal, no dia seguinte do decreto da
isenção, o governo continuará com as mesmas obrigações: vai ter que pagar os
mesmos salários para os funcionários públicos, as mesmas aposentadorias, os
mesmos hospitais, as mesmas estradas, os mesmos quartéis, os mesmos juros da
dívida, o mesmo Bolsa Família.
A única diferença é que X não vai mais
contribuir com essa vaquinha. Logo, todo mundo vai ter que pagar um pouco mais
para que X não pague nada.
Em alguns casos, isenções fiscais podem ser
justificáveis. Mas os economistas concordam que elas precisam ser adotadas com
muito cuidado, após muitos estudos que comprovem que terão efeitos positivos
sobre o crescimento da economia.
Em geral, é mutreta.
Não me entenda mal: todo mundo tem o direito
de dar dinheiro para a igreja que frequenta. Eu dou para a minha. Eu quero que
ela continue lá, que pague a conta de luz, que alguém faça a limpeza
periodicamente, que alguém seja pago para tocar órgão.
Mas cada um tem que sustentar sua própria
igreja. Não roube meu imposto para chamar de seu dízimo.
Se você acha que seu pastor deveria ganhar
mais, aumente suas oferendas durante o culto. O dinheiro é seu, você faz o que
quiser com ele. Se você acha que o Malafaia precisa de um carro novo, dê seu
carro para o Malafaia. Se você acha que o Edir Macedo precisa de uma nova casa,
dê a ele a sua.
Mas o que Bolsonaro fez foi colocar o resto
dos brasileiros para pagar os impostos do Malafaia. Aí não, filho. A maioria
dos brasileiros não frequenta a mesma igreja que o Silas. E mesmo as que
frequentam provavelmente preferem que o dinheiro do governo vá para o posto
médico de seu bairro.
Portanto, Lula fez bem em revogar
a isenção para líderes religiosos.
Os bolsonaristas disseram que Lula está
perseguindo os cristãos. É mentira.
Só o que aconteceu foi o seguinte: pessoas
cuja profissão é propagar a fé cristã e administrar seus rituais –uma profissão
belíssima, a propósito– vão ter que contribuir para a construção de escolas e
hospitais do mesmo jeito que os outros cidadãos que ganham a mesma coisa que
eles.
E, talvez por castigo divino após ter tentado
subornar todas as lideranças cristãs brasileiras ao mesmo tempo, Bolsonaro
perdeu a eleição.
Um comentário:
É bem isto!
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