O Estado de S. Paulo
O sindicato à moda antiga não passa de um
zumbi. Há muito não representa os trabalhadores e, agora, nem mobilizá-los
consegue, como se viu a partir do retumbante fracasso das manifestações de 1°
de Maio. Nem o presidente Lula nem seu ministro do Trabalho, Luiz Marinho,
estão se dando conta disso.
A estrutura sindical nasceu com grave vício
de origem. Foi criada por Getúlio Vargas para dar suporte a seu regime
corporativista inspirado em Mussolini, e não para defender o interesse dos
trabalhadores. Assim, foi ficando, governo após governo.
Graças às polpudas verbas do imposto sindical e ao comportamento cartorial dos seus dirigentes, os sindicatos prosperaram, garantiram boa vida a muitos e até forjaram líderes políticos, entre os quais se sobressaiu o atual presidente da República.
As relações de trabalho passam por uma
revolução em todo o mundo – e não só no Brasil. A robotização intensiva, a
tecnologia da informação, a adoção das contratações terceirizadas, os
aplicativos, o ecommerce, o teletrabalho e o home office, o enorme crescimento
do setor de serviços e tanta coisa mais mudaram o chão da fábrica, o chão da
loja, o chão da agência bancária e o chão do escritório.
Os próprios sindicatos afundaram em vícios
novos. Graças à manipulação de verbas públicas, os dirigentes sindicais têm
eliminado as respectivas oposições e vêm se perpetuando no poder. Por toda
parte cresceram os sindicatos fajutos. Esta foi uma das razões pelas quais
certas centrais sindicais, entre as quais a CUT, defenderam o fim do imposto
sindical – embora recentemente tivessem revertido essa posição.
Os próprios sindicatos contribuíram para o
esvaziamento de enormes categorias com iniciativas atabalhoadas. Um exemplo: as
últimas greves dos bancários ajudaram seus patrões, os banqueiros, a entender
que poderiam prosperar em seus negócios com redução drástica de pessoal.
Hoje, parcelas cada vez maiores de
trabalhadores não fazem mais questão de garantir um emprego formal, com
carteira de trabalho e tudo o mais. Seu maior objetivo é tornar-se patrão de si
mesmo, comandar sua própria jornada e trabalhar simultaneamente para mais de um
tomador dos seus serviços. Quer trabalhar por conta própria, quer ser
empreendedor ou operar como Microempreendedor Individual (MEI). É uma mudança
cultural e econômica de grande envergadura, que dispensa ou até rejeita
sindicatos.
Com a desidratação da indústria e a
transformação dos serviços, os sindicatos convencionais se esvaziaram. Hoje
procuram ganhar o apoio dos funcionários públicos, categoria institucionalmente
subserviente a seu patrão, que são os três níveis de governo.
Quando tentaram empurrar os entregadores de
aplicativos para dentro da CLT e para os sindicatos tão caducos, o presidente
Lula e o ministro Marinho foram surpreendidos com sucessivas e sonoras
rejeições.
Enfim, o mundo gira e os sindicatos rodam.
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