O Estado de S. Paulo
Ações políticas de Lula pioraram para ele difíceis condições estruturais
Lula reclama das renúncias tributárias como
se fosse um infortúnio recente trazido por alienígenas. Na verdade, elas
mantiveram padrão razoavelmente constante nos últimos 20 anos, com ou sem PT no
poder. Espelham fielmente o padrão do sistema político brasileiro, que é a
acomodação de interesses setoriais ou privados à custa dos cofres públicos.
O palavrório em tom de esperneio do presidente é inconsequente, pois ele não tem condições de alterar os dois principais fatores que lhe causam tantos dissabores ao pretender que governa. O primeiro é o fato de que o patrimonialismo continua sendo a principal característica das relações público-privadas no País. O segundo é que o Legislativo mudou a relação de poder com o Executivo.
O que tornou essa situação “estrutural” muito
mais grave foram medidas políticas tomadas pelo próprio Lula. Ele ancorou seu
projeto de governo na expansão dos gastos públicos sem que eles, até aqui,
tivessem se transformado no irresistível motor do crescimento da economia (e de
popularidade). O efeito tem sido piora das expectativas dos agentes econômicos
e demora na queda da taxa de juros (que torna o custo de capital quase
proibitivo).
Outros dois projetos políticos do atual
governo só pioraram o quadro. Ele retomou a valorização do salário mínimo
fazendo, com isso, soar todos os alarmes em relação à já preocupante
Previdência, pressionada pelo fechamento da janela demográfica. E aumentou
gastos obrigatórios que estão sufocando o resto de liberdade que tinha nas
decisões políticas sobre alocação de recursos via Orçamento.
É também exclusivamente política a decisão de
Lula de ignorar o lado das despesas quando se debruça sobre questões
orçamentárias. Em parte, apenas segue a velha retórica de palanque, mas ficou
obrigado a fincar o pé na receita (aumento de arrecadação) justamente quando
maior se tornaram a resistência social à carga tributária e a consequente
relutância do Congresso a atender ao Executivo.
A contundência verbal do presidente está
inversamente proporcional à sua efetiva capacidade de alterar os marcos
fundamentais do contexto no qual opera – e um deles, no qual navega um pouco
perdido, é a notável bagunça jurídica e institucional. Suas palavras têm o dom
de piorar a situação que critica (como a dos juros altos), ou apenas causam
espanto dado o grau de ignorância que traduzem, embora mais nenhuma surpresa.
A insistência do presidente de lidar com
situações de fundo através do seu gogó, que já foi considerado infalível,
contribui para diminuir ao invés de aumentar sua estatura política.
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