Folha de S. Paulo
Embora mais fraca, aliança contra
ultradireita se recuperou nos últimos dias
O resultado da eleição
legislativa da França depende das alianças que se formaram ou ainda
vão se formar até o segundo turno, no domingo. Isto é, depende em boa parte da
soma dos votos dos eleitores que não querem o partido Reunião Nacional (RN) no
poder: do "voto útil".
A frente contra a ultradireita se recuperou
nos últimos dias, apesar de bem mais fraca do que em eleições realizadas de
2002 a 2022. Em tese, voltam a diminuir as chances de que o RN, de Marine Le Pen,
consiga maioria absoluta na Assembleia, ainda que seja o partido maior.
Pelas últimas projeções, a soma dos eleitos
pela esquerda e pelo centro macronista poderia até ser majoritária. Há quem
sugira, assim, uma aliança precária, mas bastante para aprovar um ou outro
projeto e evitar crise maior, pelo menos até a convocação de outra eleição,
possível apenas daqui a um ano.
Jamais houve coalizão de ideologia mista na
Quinta República (desde 1958). O presidente Emmanuel
Macron detesta o França Insubmissa
(LFI), partido maior da aliança de esquerda. O LFI tem dito que apenas entrará
em governo de coalizão que siga o seu programa. Hum.
Por que prestar atenção à política francesa? Apesar dos pesares crescentes da França, a aliança franco-alemã é o pilar da enorme União Europeia. Um tumulto político-econômico por lá teria repercussão mundial, até financeira, aqui inclusive.
De resto, não é de hoje que a política de
países relevantes, ainda mais os ocidentais, serve de estudo de caso ou
inspiração para elites, as nossas inclusive. Vide o caso de Trump, Brexit e até
da pequena Hungria sob Viktor Orbán.
Pense-se nas ideias suscitadas pelo
desmoronamento de partidos centristas. Nos planos da esquerda intelectual e
política francesa para gastos sociais e tributação de ricos, que inspiram Lula
3 e PT.
Além do mais, a conjuntura tem combustível
para queimadas. França e países maiores da Europa crescem
muito pouco. O déficit francês apenas é menor que o da Itália. A aversão contra
imigrantes ferve. Etc.
Fim de parênteses.
Apesar dos buracos no muro da "frente
republicana" contra o RN, formou-se coalizão considerável. Candidatos de
esquerda e de centro desistiram de concorrer no segundo turno a fim de
favorecer seus adversários com mais chances de vencer os nomes do RN.
Apenas no domingo vai se saber se a maioria
do eleitorado também votou "útil". A recomendação de voto tem sido
mais ignorada. Pode ser que eleitores se abstenham no segundo turno se o
candidato deles desistiu.
Os líderes do que restou da direita
tradicional não recomendaram desistência e menos ainda "voto útil" na
esquerda, coalizão do Partido Socialista, dos Ecologistas, do suave Partido
Comunista e do radical França Insubmissa (LFI). Isto quando não se bandearam
para o RN.
Macron, de centro, recomendou voto contra o
RN, mas praticamente vetou o LFI, que, disse, seria capaz de levar a França à
"guerra civil" (assim como o RN). Os partidos centristas aliados de
Macron foram mais explícitos no veto. Na coalizão de esquerda, Nova Frente
Popular (NFP), foi maciça a adesão ao "voto útil".
Elege-se um deputado em cada um dos 577
distritos eleitorais. Vão para o segundo turno aqueles que tiveram menos de 50%
dos votos e mais de 12,5%.
No domingo, foram eleitos 76 deputados. Em
190 distritos, haveria disputa entre dois candidatos no segundo turno. Em 306,
haveria três qualificados. Em 5, quatro candidatos. Mas as 306 disputas
"triangulares" foram reduzidas a 89, dadas as desistências em nome do
"voto útil".
Os candidatos do RN chegaram em primeiro
lugar em 297 distritos, ante 159 da NFP (esquerda) e 70 da coalizão de Macron.
A eleição francesa ainda vai dar pano para a
manga política, econômica e ideológica.
2 comentários:
O povo francês como do resto da Europa cansou dessa política de esquerda , sua incompetência administrativa , política exagerada ecológica contra a agricultura nacional e que na pandemia se mostrou Violenta , autoritária e mentirosa
Esses ventos conservadores de direita sopraram na Argentina e na união europeia , tão vindo soprar nos Estados Unidos e em breve estarão soprando aqui
Pois é,uma barafunda eleitoral,será que o eleitor médio entende?
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