quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Maria Cristina Fernandes - Empresários entre o horror e o inevitável em São Paulo

Valor Econômico

Aversão do empresariado a Marçal vai até o fim do 1º turno

Sondado por um amigo comum para uma conversa com Pablo Marçal, um banqueiro despistou. “Cê tá louco? Ele vai sair por aí dizendo que falou comigo”. Um grande investidor paulistano, com negócios imobiliários em Goiás, de onde Marçal foi exportado para São Paulo, recebeu a mesma sondagem e caiu fora.

No meio empresarial e financeiro, este tem sido o comportamento padrão em relação ao candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo. Pelo menos até 6 de outubro. Num segundo turno contra Guilherme Boulos (Psol), cenário no qual a pesquisa Quaest desta quarta sugere um rigoroso empate, a coisa muda de figura.

O horror cede lugar ao inevitável. Com PCC, com tudo. Em dois grupos diferentes de WhatsApp de investidores, a vitória do candidato do Psol aparece como a única situação que os levaria a optar por Marçal, como um dia o fizeram, de maneira menos titubeante, por Jair Bolsonaro contra o lulismo.

Os empresários que orbitam em torno de Marçal ainda são predominantemente do marketing digital e startups financeiras, mas essas bolhas já começam a se expandir. Na noite do sábado, Samuel Pereira, um empresário do marketing digital, reuniu em sua casa em Alphaville um grupo de amigos em torno do candidato do PRTB.

Entre aqueles 11 homens brancos, regados a Rosso di Montalcino 2019 - Biondi Santi, havia um de fora da bolha, José Janguiê Diniz, fundador do Ser Educacional. Um dos grupos que mais se expandiram com o Fies e o Prouni dos governos petistas, abriu capital na B3. Janguiê joga em todas as posições.

Estreitou relações com administrações de centro-esquerda, como a Prefeitura do Recife, com a qual tem parceria de formação profissional, e comprou, por R$ 27,5 milhões, no leilão da massa falida do Banco Santos, a mansão do Morumbi, zona sul de São Paulo, do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. Com os cotovelos sobre a mesa, Janguiê gravou mensagem de apoio a Marçal, assim como os demais comensais, em vídeo que circula nas redes sociais em que todos fazem o “M” com os dedos apontados para baixo.

Não é o único de fora da bolha. Na lista de doadores oficiais da campanha de Marçal, está Helio Seibel, da HS Investimentos, com participações em grandes empresas do país, como a Dexco (Duratex, Deca, Hydra), Leo MadeirasLoggi Apolo Energia.

No registro oficial, Seibel doou R$ 100 mil, o mesmo que o empresário goiano Helvio Paulo Ferro Filho. Cada um deles doou tanto para Marçal quanto Arminio Fraga o fez para a candidata do PSB, Tabata Amaral. Marçal arrecadou, até o momento, R$ 944 mil, quatro vezes mais que Tabata. Dos cinco primeiros colocados nas pesquisas, são os únicos com registro de doações no TSE.

A lista de mais de 1 mil doadores de Marçal, com valores de R$ 500 a R$ 1 mil, é um cartão de visita para o discurso do empreendedorismo que entusiasma dois simpatizantes, Rafael Ferri Tallis Gomes.

Ferri ganhou fama ao colocar uma escultura de Paulo Guedes na entrada da empresa da qual era sócio, a TC, na avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo. Depois de vender sua participação nesta empresa, abriu uma assessoria de investimentos, a GTF Capital, que presta consultoria patrimonial a clientes da corretora Genial. Já Gomes, fundador da Easy Taxi e da Singu, empresa de beleza que vendeu para a Natura, hoje dirige a G4 Educação.

Não foram esses empresários que levaram à sua arrancada. Mais importante foi o impulsionamento cruzado de cortes de seus vídeos, desrespeitando a lei eleitoral, como denunciado - e acatado - pela Justiça Eleitoral. E, ainda, trapaças como aquela contada por Ana Luiza Albuquerque, Eduardo Escolese e Flávio Ferreira, da “Folha de S.Paulo”, em que Marçal se valeu de um homônimo de Guilherme Boulos para disseminar a associação que fez entre o candidato e a cocaína.

O que esta rede de pequenos doadores mostra é que Marçal tem nadado de braçada no empreendedorismo sem ser acossado por concorrentes. Um empresário que colaborou com Boulos chegou a sugerir uma incubadora de startups, com apoio da prefeitura, que negociaria convênio com universidades, forneceria água, luz, internet e isentaria os impostos municipais. Até uma parceria com o pé-de-meia, programa federal de bolsas para o ensino médio, poderia rolar. A proposta ficou no ar.

Além da ausência de concorrentes no tema, joga a favor de Marçal o discurso de que as ações contra sua candidatura podem vir a prejudicar o mercado digital para além de sua treta eleitoral. Duas gigantes do mercado, Google e X, entraram com embargos de declaração contra a decisão que suspendeu os perfis de Marçal pelo medo do efeito cascata.

É no TSE que esta batalha deve findar. É nisso que aposta o prefeito Ricardo Nunes, que, em entrevista ao Valor publicada nesta edição, insistiu no papel da Justiça Eleitoral a despeito de não tê-la acionado.

Como Marçal tem avançado nas pesquisas de maneira mais célere do que as ações, o mais provável é que uma decisão desfavorável à sua permanência no jogo, se acontecer, venha apenas no fim da campanha.

Tirar um candidato emergente da disputa tem um custo menor do que arrancar o líder que ele arrisca se transformar. A reação dessa rede de apoiadores, impulsionadores e influenciadores do marketing do empreendedorismo, dentro e fora da lei, abrirá uma frente de batalha que renovará a guerra entre justiça e política até 2026.

5 comentários:

Mais um amador disse...

Excelente coluna.

Anônimo disse...

Que vergonha os jornalistas que deveriam ser os primeiros a defender a democracia e a liberdade de expressão são os que mais impulsionam a ideia da cassação da candidatura do Pablo Marçal
os tempos de hoje estão medonhos, não há mais Compromisso com a ética jornalística muito menos com a verdade, A maioria recebendo uma verba governamental , mas a história vai julgá-los no momento oportuno

Anônimo disse...

Realmente, excelente coluna! É assustador empresários do setor Educacional apoiarem um candidato sabidamente criminoso, já condenado inclusive.

Anônimo disse...

Com tantas notícias de que P.M. tem pendências na justiça de Goiás, ficou bilionário à custa de golpes financeiros nas redes sociais enganando pessoas fica difícil aceitá-lo. Um prefeito lida com verba pública. Isso é sério.

ADEMAR AMANCIO disse...

Empresários do atraso,diga-se.