domingo, 8 de setembro de 2024

Bernardo Mello Franco – o X da questão

O Globo

Ao forçar bloqueio do X, bilionário usa o Brasil em cruzada contra a democracia

O Brasil sobreviveu à primeira semana sem tuitar. Na contramão das previsões mais pessimistas, a suspensão do X não fez o país voltar à era do telégrafo. Quem sentiu falta da rede encontrou refúgio em concorrentes como Bluesky e Threads.

Os ministros da Primeira Turma do STF foram unânimes ao referendar a decisão de Alexandre de Moraes. Cármen Lúcia lembrou que o acesso à plataforma do bilionário Elon Musk só foi cortado após o descumprimento “agressivo e belicoso” de sucessivas ordens da Justiça.

Flávio Dino ressaltou que nenhuma empresa pode escolher quais determinações judiciais vai cumprir. “O poder econômico e o tamanho da conta bancária não fazem nascer uma esdrúxula imunidade de jurisdição”, resumiu.

Desde 2022, quando foi comprado pelo fundador da Tesla, o ex-Twitter se degradou até virar uma rede tóxica. Alinhado ao movimento populista de extrema direita, Musk mandou eliminar filtros que continham a circulação de discurso de ódio, insultos racistas e notícias fraudulentas. A pretexto de defender a liberdade de expressão, restaurou contas que haviam sido banidas por apologia ao crime. Até propagandistas do neonazismo ganharam um megafone para unir sua tropa.

O dono do X também se juntou ao coro dos falsários. Até o início de agosto, já havia compartilhado 50 notícias falsas sobre a eleição americana. O arsenal incluiu um vídeo que alterava a voz da candidata Kamala Harris com inteligência artificial. Quando o levantamento foi divulgado, o chorume de Musk já somava mais de 1,2 bilhão de visualizações. Um impulso e tanto para a campanha de Donald Trump, que também foi readmitido no ex-Twitter. O republicano havia sido banido após insuflar a invasão do Capitólio em janeiro de 2021.

Por aqui, o X deu abrigo ao golpismo e adotou uma atitude de desafio à Justiça. Recusou-se a pagar multas e a cumprir ordens para bloquear perfis de extremistas. Em agosto, demitiu todos os funcionários e se negou a indicar um representante legal no país. A afronta às leis brasileiras tornou inevitável a suspensão da plataforma.

É difícil acreditar que Musk não buscasse esse desfecho. Ao forçar o bloqueio da rede, o dono do X jogou mais lenha na fogueira contra o Supremo, alvo preferencial do populismo verde-amarelo. No ato de ontem na Avenida Paulista, o deputado Eduardo Bolsonaro chamou Moraes de “psicopata” e puxou o coro de “Fora, Xandão”. Militantes exibiram cartazes de apoio ao bilionário sul-africano. Parte do material estava em inglês, idioma cultuado pelos patriotas nativos.

O X tinha 21 milhões de contas no país, de acordo com a plataforma Statista. Ao abrir mão de um mercado desse tamanho, o homem mais rico do mundo deixou claro que está disposto a perder dinheiro para impulsionar a extrema direita. É possível que o Brasil tenha sido só um laboratório em sua cruzada. Nas últimas semanas, Musk abriu novas frentes de batalha contra a União Europeia e o Reino Unido.

 

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando o colunista não quer falar dos temas do momento basicamente um ministro estuprador que ficou um ano no cargo sobre a proteção do PT e da esquerda livre pra cometer todos os tipos de crime contra as mulheres, recicla temas antigos, usando os bordões já conhecidos, esperando o tema passar e continuar sua cruzada pessoal contra a "extrema direita" e capitalismo, enquanto se faz de santo.....

ADEMAR AMANCIO disse...

Xandão!