terça-feira, 10 de setembro de 2024

Eliane Cantanhêde - Fumaças e erros no ar

O Estado de S. Paulo

Brasil: envolto em fumaça e andando em círculos na política externa, sem chegar a lugar nenhum

Ao vencer a eleição de 2022 e anunciar ao mundo que “o Brasil voltou”, o presidente Lula trazia com ele alívio pelo fim do governo Bolsonaro e expectativa do retorno de políticas públicas essenciais, reinserção do País no mundo e recuperação da liderança na área ambiental. Em resumo, Lula prometia repetir os acertos e deixar para trás os erros dos dois mandatos anteriores. Tem sido assim?

“Pária internacional” com Bolsonaro, o Brasil colhe fracassos com Lula, como mediador nas guerras de Rússia e Ucrânia e de Israel e Palestina e a política externa anda em círculos, sem chegar a lugar nenhum, não por culpa do Itamaraty. Lula e o assessor Celso Amorim jogaram as expectativas lá em cima, mas o Brasil não teve fôlego para tanto.

Resultado: rompeu na prática com Israel, afastou-se da Ucrânia, atraiu desconfianças no Ocidente e sinalizou uma aliança tácita com Rússia e China, que transformam os Brics em bunker na disputa por hegemonia com os EUA. Sem contar o nó que Nicolás Maduro deu no Brasil e no amigão Lula, que lhe deu uma importância que ele jamais teve e recebe em troca agressões, ironias e descaso.

Amorim foi à Rússia na semana passada, um dia depois de Vladimir Putin apoiar Brasil, Índia e China como negociadores de um cessar-fogo com a Ucrânia. Amorim diz que foi “uma coincidência” e a viagem era para uma reunião dos Brics sobre segurança. Ele, porém, já tinha marcado reunião paralela com seu correspondente chinês, claro, sobre a guerra. Até onde isso pode ir?

Se não é potência política, econômica e bélica, o Brasil tem inegável liderança ambiental, com a maior fonte de energia renovável, uma legislação ambiental reconhecida mundo afora e a COP-30 em Belém do Pará em 2025. Mas... Amazônia, Cerrado e Pantanal estão em chamas, metade da Chapada dos Veadeiros e do Parque Nacional de Brasília foi dizimada e 60% do território nacional está envolto em fumaça.

Ok. Há uma confluência perversa de seca, calor, vento e ação criminosa, mas assusta o mundo e incendeia a oposição interna. Mal comparando, Lula não tem culpa do assédio sexual do então ministro dos Direitos Humanos contra a ministra da Igualdade Racial, mas o fato remete a episódio semelhante na CEF na era Bolsonaro e deixa a sensação de que os erros se repetem, por mais diferentes que os governos sejam – e são.

Sem recuperar o protagonismo nas questões internacionais e ambientais e insistindo em estatismo e aparelhamento na Petrobras, fundos de pensão, agências reguladoras, Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os acertos nem deixa os erros no passado.

4 comentários:

Anônimo disse...

"O Brasil voltou" pra apoiar Maduro e a "democracia venezuelana", tão exaltada pelo diretório nacional do PT. Não dá pra ter saudades do "chanceler" Ernesto Araujo, mas a vergonha que passamos hoje é parecida com a vergonha que passamos nos 4 anos do DESgoverno Bolsonaro.

Anônimo disse...

A colunista faz uma boa análise dos problemas do governo Lula, mas acho que omite acertos importantes que fazem com que o terceiro governo Lula seja bem melhor que o DESgoverno Bolsonaro.

ADEMAR AMANCIO disse...

Os dois governos são bem diferentes mesmo,pena que só boa vontade não apaga incêndio,existe,sempre,o imponderável.

Anônimo disse...

O imponderável, e a gula petista por cargos e Poder!