Folha de S. Paulo
Fim de modelo exige, entre outras coisas, a superação do reducionismo econômico
"Capitalismo Canibal" (ed.
Autonomia Literária), de Nancy Fraser,
é daquelas obras que chegam em hora oportuna com um título que consegue
expressar a máxima "o conceito alcançou a realidade". A filósofa e
feminista recoloca o capitalismo em cena, uma vez que, segundo ela, o termo
esteve fora dos escritos dos pensadores marxistas nas últimas décadas.
O livro defende que "o capital está destruindo todas as esferas da vida, consumindo a riqueza da natureza, aprofundando o racismo, sugando a nossa capacidade de cuidar uns dos outros e destruindo a prática política". Todos esses tópicos compõem o cartão postal do nosso tempo e configuram o capitalismo do século 21.
Frente a um cenário tão infausto, que exige a
ampliação da ideia de capitalismo, quais propostas se mostram à altura do nosso
cotidiano? Como já disse em outros momentos, na escuta de cada época, mulheres
negras e todos os habitantes das bordas do sistema vêm propondo outras formas
de reconfiguração dos modos de produção, antevendo as catástrofes que começam
arruinando as beiradas: "Da beirada se pode ver todo tipo de coisa que não
se pode ver do centro. Grandes coisas, inimagináveis, as pessoas na borda veem
primeiro" (Vonnegut).
A 2ª Marcha das
Mulheres Negras, que será realizada em Brasília em 2025, dez anos
depois da primeira, tem como tema "Por reparação e bem viver" e
aponta, tal como o título do livro de Fraser, para uma designação que alcança a
realidade. Ela insiste que o fim do capitalismo canibal exige, entre outras
coisas, a superação do reducionismo econômico.
Em sua carta de princípios, a marcha traz
como postulado a ideia de que a plataforma do bem viver, inspirada nos povos
andinos, manufatura uma filosofia, um sistema de vida, uma proposta política
que recusa, radicalmente, os princípios do capitalismo, da violação da vida e
dos direitos. Eis aí uma forma de oposição a um capitalismo que canibaliza tudo
e que insiste em não deixar nada de fora do seu apetite voraz e predador.
Um comentário:
Tá
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