Folha de S. Paulo
Até o final deste ano de caos trumpista, Lula
vai se reunir três vezes com Xi Jinping
Luiz Inácio Lula da
Silva vai à China em maio. Assunto com a China jamais
falta, menos ainda com os destampatórios do Nero Laranja, Donald Trump.
Mas o que Lula ou o Brasil querem com a China?
Em abril de 2011, no início de seu primeiro mandato, Dilma Rousseff foi à China. Queria diminuir o "desequilíbrio comercial". O Brasil vendia à China commodities (comida e minérios), então 82,4% do total das exportações (dados da Secretaria de Comércio Exterior, aritmética deste jornalista). Importava manufaturados, mais de 99% das compras.
De volta ao Brasil, Dilma disse o seguinte,
no "Café com a Presidenta": "Alcançamos os nossos principais
objetivos, o de abrir as portas para que mais produtos brasileiros, produtos
mais elaborados, entrassem na China; e trabalharmos juntos em áreas
importantes, como a de ciência e tecnologia".
Atualmente, produtos do agro e da indústria
extrativa são 80,3% das exportações brasileiras para a China (de 2011 a 2024,
média 80%). A importação de manufaturados chineses continua em mais de 99% do
total. Nada mudou.
De diferente, o Brasil exporta
mais petróleo. A corrente de comércio sino-brasileira (soma de exportações
e importações) passou de 15,1% do total em 2011 para 26,3% em 2025.
Naquela viagem de Dilma, o governo anunciou
que a empresa sino-taiwanesa Foxconn investiria US$ 12 bilhões no Brasil (US$
17 bilhões, a preços de hoje). Seriam criados 100 mil empregos (o que as
montadoras empregam aqui) e haveria transferência de tecnologia para a
fabricação de celulares e computadores.
Nunca se soube quanto a Foxconn investiu (nem
perto de US$ 17 bi). Monta iPhones em Jundiaí (SP) e outras coisas em Manaus.
Emprega mais de 5 mil pessoas. O iPhone daqui
é dos mais caros do mundo. Não teve parceria no Brasil, desenvolvimento
tecnológico.
O grosso da produção mundial desses telefones
é chinesa (mais de 80%). Parte migra para a Índia, que tem uns problemas
"brasileiros" (burocracia, tributos loucos etc.), além de sindicatos.
A Índia tenta inventar um acordo com os EUA e abrir mais sua economia. A Apple
pensa o que fazer de fornecedores, dada a política lunática da Trump. Houve até
boato de que alguma produção poderia vir para o Brasil.
Hum.
Reflitam. O Vietnã, pequeno
e ainda pobre (metade do PIB per capita do Brasil) exportou US$ 136 bilhões
para os EUA em 2024 (eletrônicos, roupas, calçados etc.). O Brasil exportou US$
42,3 bilhões, dados do US Trade Representative. O Vietnã, como países do
sudeste asiático, é também "China 2", base de exportação de empresas
chinesas.
O Brasil é pouco produtivo e exporta pouco
produto industrial porque é uma economia fechada (embora agora, com Trump, todo
mundo finja que não é protecionista) e tem vantagens em recursos naturais.
Porque a logística é ruim e cara, porque a educação é uma tristeza, porque não
damos a mínima para pesquisa científica, porque impostos e burocracia são
demenciais.
Até podemos ter alguma indústria eficiente se
a economia for algo mais aberta etc., embora talvez importe mais desenvolver
serviços melhores. Um acordo de fundo com a China que envolvesse investimentos
(em infra, por exemplo) será necessário. É o que resta, pois haverá enchente de
produtos baratos chineses e os EUA são muito mais risco do que oportunidade.
O que Lula vai dizer a Xi Jinping?
Só "me dá um dinheiro, aí", não basta.
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