terça-feira, 22 de abril de 2025

Bukele para presidente do Brasil - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Políticos brasileiros sonham com os presídios e o governo autocrata de El Salvador

Logo depois do golpe de 1964, a influência do embaixador dos Estados Unidos no Brasil era tão grande que Otto Lara Resende mineiramente propôs: "Chega de intermediários. Lincoln Gordon para presidente".
Hoje, quando a Câmara age a favor do golpismo e direita e extrema direita nutrem uma admiração fanática pelo presidente de El Salvador, a frase só precisa de uma pequena adaptação, alteração de nome, para mostrar que as soluções no país não mudam, só pioram: "Chega de intermediários. Nayib Bukele para presidente".

Em 2024, um show em Balneário Camboriú reuniu Jair Bolsonaro e Javier Milei. O queridinho salvadorenho, esperado com ansiedade, não veio. Mas mandou o ministro da Justiça, Gustavo Vilatoro, que levou a plateia ao delírio ao dizer que "o modelo Bukele é irreversível".

Tal modelo consiste em destruir a democracia, acabar com as liberdades civis —e encobrir tudo, mentindo. Entre otras cositas, está valendo invadir o Congresso com soldados armados; destituir o procurador-geral da República e cinco juízes da Suprema Corte; encarcerar, após julgamentos sumários, mais de 75 mil pessoas, entre as quais cerca de 1.200 menores. Quase 2% da população está atrás das grades (no Brasil equivaleria a 4 milhões de habitantes).

Pablo Marçal deixou São Paulo na reta final da campanha a prefeito para tentar uma selfie com Bukele. O candidatíssimo Guilherme Derrite, secretário de Segurança de São Paulo, disse que devemos aprender com El Salvador a combater a criminalidade. Foi humilde, pois em matéria de violência policial ele tem muito a ensinar. Agora é Eduardo Paes que, em campanha ao governo do Rio, anuncia uma viagem ao pequeno país da América Central.

Recentemente Bukele foi recebido na Casa Branca por Trump (imagine a inveja de Eduardo Bolsonaro, o trânsfuga). Combinaram a construção de novos presídios de segurança máxima para deter imigrantes expulsos dos EUA. Que oportunidade para o Brasil: virar uma imensa colônia penal. Aqui cabem, com folga, todos os inimigos de Trump e, de lambujem, os de Putin.

 

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