Correio Braziliense
A desaprovação ao governo
Lula não traduz automaticamente uma vantagem eleitoral para a oposição. A
pesquisa mostra empate técnico: 49% desaprovam o governo e 48% aprovam
A pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta terça-feira, mostra que o bolsonarismo permanece como a principal força alternativa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Será? Os números do levantamento revelam que a oposição está bloqueada estrategicamente pela centralidade de Flávio Bolsonaro (PL) no campo oposicionista, apesar da sua força eleitoral. Flávio é um avatar de Bolsonaro. No marketing político, uma figura simbólica criada ou escolhida para representar, simplificar e transmitir a identidade, as ideias e os valores de um líder, movimento ou projeto político.
O avatar funciona como um substituto quando o
líder original não pode ou não quer ocupar diretamente o centro da disputa. Em
termos práticos, não é um candidato autônomo, mas uma extensão de alguém ou de
uma marca política já consolidada no imaginário do eleitor. O avatar herda a
popularidade e o carisma de uma liderança impedida de disputar eleições por
inelegibilidade, desgaste ou estratégia.
É diferente de um herdeiro político, que constrói
trajetória própria, alianças e programa. O avatar depende da validação
permanente do líder original e da repetição de seus códigos simbólicos. Não
substitui o líder; ele encena o líder. Foi aí que o governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas (Republicanos), teve as articulações de sua candidatura
abalroada pela pesquisa. Nos cenários de primeiro turno, Flávio Bolsonaro
encarna o avatar do pai e surge com 23% das intenções de voto quando disputa
com Lula, Ratinho Júnior, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Aldo
Rebelo e outros nomes.
Tarcísio revelou-se um avatar que chegou ao
Palácio dos Bandeirantes na aba do chapéu do ex-presidente da República e agora
está sendo desidratado. No cenário de primeiro turno com múltiplos candidatos,
o governador de São Paulo aparece com apenas 10% das intenções de voto,
enquanto Lula tem 41% e Flávio Bolsonaro, 23%. Evidente sinal de fraqueza
nacional de Tarcísio, esses 10% refletem o bloqueio imposto pela presença de
Bolsonaro no imaginário de seus eleitores, que impede a consolidação de uma
candidatura alternativa robusta no campo da direita.
Os 23% de Flávio são aparente prova de
competitividade. Na realidade, esse número indica apenas a concentração de um
eleitorado ideológico rígido, que não cresce quando o campo se amplia. Pode se
tratar do teto do bolsonarismo raiz, não de uma base em expansão. Essa
constatação fica mais clara nos cenários de segundo turno. Contra Lula, Flávio
Bolsonaro aparece com 36% das intenções de voto, enquanto o presidente registra
46%.
A diferença de 10 pontos percentuais é
expressiva por si só. Mas revela o fato de Lula vencer mesmo sem ultrapassar
50% dos votos válidos, o que indica que Flávio não consegue atrair eleitores
fora do núcleo bolsonarista e enfrenta elevada rejeição entre os setores
moderados. Um candidato que chega ao segundo turno com 36% e não cresce está,
do ponto de vista eleitoral, inviabilizado como alternativa de poder.
Economia ajuda
Liderar a oposição com 23% no primeiro turno
não significa ter condições de vencer a eleição; significa apenas impedir que
outro nome cresça. É exatamente esse o efeito produzido pela candidatura de
Flávio Bolsonaro: ela organiza o voto bolsonarista, mas desorganiza o campo
oposicionista como um todo. A pesquisa, por isso, fere mortalmente a
candidatura de Tarcísio, que se colocava em cena como herdeiro do espólio
político de Bolsonaro.
Quando testado no segundo turno, porém,
Tarcísio apresenta 35% das intenções de voto contra 45% de Lula. A diferença é
de 10 pontos, semelhante à registrada por Flávio. Entretanto, Tarcísio não
carrega o passivo judicial e institucional do bolsonarismo, teria mais chances
de derrotar Lula, caso Flávio não seja candidato.
O mesmo padrão se repete com outros
governadores da direita. Ratinho Júnior aparece com 35% contra 45% de Lula em
um eventual segundo turno. Romeu Zema registra 33%, enquanto Lula mantém 45%.
Ronaldo Caiado soma 33%, contra 44% do presidente. Em todos os casos, Lula
vence com margens entre 11 e 12 pontos percentuais. Esses números indicam que
nenhum nome da oposição consegue hoje romper a barreira dos 35%, o que
evidencia um problema estrutural do campo oposicionista.
A desaprovação ao governo Lula não traduz
automaticamente uma vantagem eleitoral para a oposição. A pesquisa mostra que
49% desaprovam o governo e 48% aprovam, um empate técnico dentro da margem de
erro de dois pontos percentuais. Além disso, a avaliação positiva do governo
subiu de 31% para 34%, enquanto a negativa permaneceu em 38%. Esses dados
indicam estabilização do governo, não colapso. A pesquisa também mostra que
cresceu de 38% para 43% o percentual de eleitores que defendem que Lula seja
candidato à reeleição em 2026.
Os indicadores econômicos reforçam essa leitura. O percentual dos eleitores que afirmam que a economia piorou caiu de 43% para 38%. Já os que dizem que a economia melhorou subiram de 24% para 28%. A percepção de que está mais fácil conseguir emprego aumentou de 39% para 44%. Na expectativa para os próximos 12 meses, 44% acreditam que a economia vai melhorar, contra 33% que acham que vai piorar. Esses números ajudam a explicar por que o desgaste do governo não se converte em voto oposicionista.

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