Folha de S. Paulo
Com truculência e censura, presidente da Câmara relega o
patrimônio democrático de sua geração
Leniência e decisões equivocadas marcam a falta de predicados para
o exercício de função que exige liderança
Nascido em novembro de 1989, em meio à primeira eleição
presidencial direta e quatro anos depois de reinstituída a democracia no
Brasil, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB)
não poderia ter permitido —até por questão geracional— que sob sua presidência
a Câmara vivenciasse cenas de truculência como as exibidas na última
terça-feira (9).
Um deputado tratado a golpe de mata-leão pela Polícia Legislativa e outros empurrados ao chão, enquanto a imprensa era proibida de registrar as agressões e o sinal de transmissão da TV da Casa era cortado, foi algo tão chocante quanto inédito.
Recorrentes, no entanto, têm sido os episódios em que o presidente
da Câmara dá mostras de imaturidade para administrar a quase unanimidade que o
elegeu e a incapacidade para o exercício do cargo, no qual tem aliado leniência
a decisões equivocadas.
Foi dele a defesa enfática da PEC da
Blindagem na abertura da desmoralizante sessão. A receita resulta em
erosão de autoridade que se presta a manipulações à direita e à esquerda.
Motta mascara a ausência de predicados com afetação de serenidade
na expressão facial impassível e nas falas encomendadas. No episódio da
tentativa de expulsão de Glauber Braga (PSOL-RJ) sob
censura, o presidente da Câmara esperou chegar a ele um pronunciamento escrito
para só então se manifestar.
Indignação estudada, quando a situação pediria resposta espontânea
a traduzir o pensamento real do líder. E liderança é tudo o que o deputado não
tem. Chegou ao posto por um acordo gestado pelo antecessor, Arthur Lira (PP-AL), com a
expectativa de arrefecer os ânimos, mas não correspondeu.
O alegado perfil conciliador traduziu-se em fragilidade e
despreparo. A ausência de pulso ao formalizar o decidido na Justiça permitiu
que o plenário mantivesse
o mandato da prisioneira Carla Zambelli (PL-SP) e provavelmente dê o
mesmo benefício ao condenado e fugitivo
Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Motta cumprirá seu mandato, mas, à luz do bom senso, não conseguirá renová-lo.

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